quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Com as próprias mãos

Legal, publicaram mais uma vez uma carta minha no Painel do Leitor da Folha.

Como eles publicaram uma versão editada, por conta do tamanho, segue aqui o texto original (e sem o "afinal" trocado por "final"). Só achei que eles pudessem ter mantido o "Armas nas escolas: como é que não pensamos nisso antes?", teria sido um fechamento melhor...

A assinatura, que parece um pouco metida, foi só para contrapor à assinatura no artigo original:

FERNANDO L. NAVARRO, 31, é advogado, especialista em direito tributário e em direito público e privado e mora nos Estados Unidos.

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---------- Original Message ----------
To: Painel do Leitor <leitor@uol.com.br>

Sobre artigo de Fernando Navarro na seção Opinião de hoje ("A cultura de um povo"), é curioso ver um advogado defendendo o direito de se fazer justiça com as próprias mãos, sem passar pelo devido processo legal (due process of law), algo presente em qualquer país com sistema jurídico minimamente estruturado, qualquer que seja a cultura de seu povo.

Por outro lado, se posso punir com pena de morte os autores de furto a residências, que outros crimes Fernando Navarro imagina que deveríamos poder resolver nós mesmos, "cidadãos honestos", sem medo de sofrer sanções? Pergunto por interesse próprio, já que no meu dia-a-dia também vejo diversos crimes em andamento, os quais a Justiça não parece dar suficientemente conta ou atenção. Preciso agir rápido, antes que o governo cerceie mais um direito dos "cidadãos honestos", o de formar milícias.

Por ter morado no Texas, para mim não é surpresa que muitos americanos defendam, como resposta aos tiroteios que ocorreram em suas universidades nos últimos anos, que aos alunos seja dado o direito de entrar armados nas salas de aula -- afinal, raciocinam, se todos os alunos estivessem armados, o atirador inicial teria sido "neutralizado" rapidamente após seu primeiro tiro. Armas nas escolas: como é que não pensamos nisso antes? Devemos ser uma cultura muito atrasada nesse aspecto, mesmo...

Também pouco incomum é notar a retórica do "criminoso" vs. "cidadão honesto", como se todos pudessem ser facilmente encaixados nessa classificação dicotômica simplista. Como nosso especialista em direito tributário há de concordar, em terras brasilis muitos dos que se encaixam no arquétipo do "cidadão honesto" são, tecnicamente, "criminosos" -- pesquisa Vox Populi/UFMG mostrou o quanto ainda somos lenientes com nossas "violações cotidianas" da lei, desde que não-violentas (leia-se: sem vítima direta, mas difusa).

FABIO STORINO, 31, é administrador, especialista em segurança pública e já morou nos Estados Unidos (Texas, especificamente)
São Paulo, SP

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