segunda-feira, 13 de outubro de 2008

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Desde que saí da dependência da bolsa de estudos e passei a ter uma renda fixa mensal acima do meu nível de subsistência, também passei a comprar o que antes obtinha via free riding (copiar de graça o que os outros compravam por mim). Antes, eu, como todos os outros na mesma condição, tentávamos racionalizar nossos atos (tentando minimizar o sentimento de culpa), dizendo que não compra por princípio, porque os estúdios exploram os artistas, que os artistas recebem muito pouco por CD vendido (verdade, mas pouco é melhor do que zero), que os preços são um absurdo etc. -- e, dissonância cognitiva em ação, acreditávamos na nossa própria história, com plena convicção. Mesma coisa com software de computador, com jogos de console etc.

Muitos que apóiam o movimento software livre dizem que é pelo princípio, que o que menos importa é que é ou tende a ser gratuito, mas se colocarmos um Open Office e um Microsoft Office 2007 à venda pelo mesmo preço, acho difícil que a escolha ainda recaia no OO por princípio... Não quer dizer que não haja mérito nesse movimento (eu mesmo apóio), mas que, para muitos, preço é a questão mais sensível, sim!

Mas começo a me distanciar do assunto da tira do xkcd.

O fato é que, mesmo tirando aqueles estudantes que pirateiam e continuarão pirateando no matter what ("por princípio"), os atuais sistemas de proteção de direitos intelectuais (DRM) são uma verdadeira dor-de-cabeça para os legítimos compradores. Em casa tenho alguns DVDs comprados e outros que ganhei de presente, com capa xerocada (colorida) da original -- todos recebendo iluminação indireta. Depois de anos, as capas originais estão todas desbotadas, longe das cores originais, enquanto as xerocadas estão como nos dia em que as recebi. Mais: ao colocar um DVD original no meu player, tenho que ficar uns 30 segundos lendo na tela avisos sobre cópias ilegais, outras informações diversas e, no caso de alguns filmes, traillers obrigatórios que eu não consigo pular com meu controle remoto. A solução? Eu tirar uma cópia do meu próprio DVD original, para retirar esse conteúdo indesejado. Não sei como é isso no Brasil, mas nos EUA, por mais que juízes possam declarar fair use, em princípio está se violando o DMCA, pois para se fazer a cópia foi preciso quebrar a criptografia do DVD. Não importa se a cópia foi para consumo próprio. Outro problema: as músicas que eu baixei (legalmente, compradas) do iTunes, como bem mostra a tira acima, não consigo fazer tocar nos meus outros players que não sejam da Apple, pois não têm suporte ao formato (un)FairPlay (AAC-DRM).

Enfim: em nome do "jogo limpo", a indústria de filmes, música e entretenimento em geral está não apenas atiçando os contumazes piratas a desafiar as novas técnicas de proteção, como estão irritando muitos dos usuários legítimos. É um tiro no pé, mas eles parecem não perceber...

Eu parei de dar dinheiro para o mercado de pirataria há alguns anos, desde que percebi que o dinheiro que vai para aquela barraquinha da Santa Ifigênia vai parar nas mesmas mãos daqueles que estão envolvidos com tráfico de drogas, com corrupção de funcionários públicos (nas barreiras alfandegárias), e com o crime organizado de maneira geral. Enfim, eu ajudava a financiar a criminalidade que queria combater.

Ainda assim, há diversas outras formas de obter conteúdo intelectual que não envolva nem financiar o crime nem se sujeitar aos inconvenientes do DRM. Não é a situação ideal, mas é o que estamos sendo forçados a considerar.

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