sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Minha pátria, minha língua

Por que deveríamos escrever todos — nós, lusófonos — da mesma forma? É a língua que nos une? Estamos nós, brasileiros, realmente mais conectados com portugueses e angolanos (por exemplo) do que com, digamos, a cultura americana, que fala inglês e (cada vez mais) espanhol?

Nunca me senti tão próximo de São Paulo fora do Brasil do que quando estava em Roma. E eu não falo niente de Italiano!

Não penso em escrever dentro das novas regras ortográficas, ao menos neste primeiro momento. Vou deixar para 2012, se não me engano a data limite para a transição, ou continuar meu pequeno movimento de resistência civil enquanto puder.

Pode ser uma imensa estupidez da minha parte, e eu perceber isso logo depois, mas é assim que me sinto agora.

Concordo com Hélio Schwartzman (brasileiro) e com João Pereira Coutinho (português): língua não é estática — ela evolui, sim. Mas esta evolução tem base naqueles que a falam. Não deve ser uma decisão burocrática, desconectada, artificialmente forjada e imposta. Segundo este último:

A língua é produto de uma história; e não foi apenas Portugal e o Brasil que tiveram a sua história, apresentando variações fonéticas, lexicais ou sintácticas; a África, Macau, Timor e Goa, que os sábios do acordo ignoram nas suas maquinações racionalistas, também têm direito a usar e a abusar da língua. Quem disse que o português do Brasil é superior, ou inferior, ao português falado e escrito em Luanda, Maputo ou Dili?

Meu princípio filosófico: a pluralidade é um valor que deve ser estudado e respeitado. Não me incomoda que os brasileiros escrevam “ator” e “ceticismo” sem usarem o “c” ou o “p” dos lusos. Quando leio tais palavras, sei a origem delas; sinto o sabor tropical em que foram forjadas.

[...]

Lamento. Eu gosto do "c" do "actor", do "p" de "cepticismo". Eles representam um património, uma história. Uma pegada etimológica que faz parte de uma identidade cultural.

[...]

O gesto é prepotente e apedeuta. Aceitar essa aberração filosófica e linguística, impensável para ingleses (ou franceses), significa apenas que a irmandade entre Portugal e o Brasil continua a ser a irmandade do atraso.

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