terça-feira, 29 de julho de 2008

Indústria da multa?

Saiu no Painel do Leitor da Folha de S.Paulo de hoje:

"Em relação ao recorde de autuações às infrações de trânsito, é importante destacar que, ainda assim, a maioria absoluta das infrações ainda acontece impunemente. Segundo pesquisa noticiada pela Folha em 24/10/2007, "só uma a cada 10 mil infrações cometidas no trânsito de São Paulo é alvo de multa".
Seriam necessários 365 dias para autuar as infrações que os condutores cometem em menos de uma hora: 5,8 milhões. Tolerância zero? Longe disso. Apenas reduzimos nossa tolerância de 99,9% para 99,8%. Só conseguiremos eliminar a "indústria da multa" se conseguirmos eliminar uma indústria muito mais "produtiva" —a das infrações."
FABIO STORINO (São Paulo, SP)

segunda-feira, 28 de julho de 2008

O individual e o político

Tocqueville revisitado. Passa-se algum tempo e logo se esquece que "individualismo não tem muito a ver com o egoísmo". Outro filósofo francês, Luc Ferry, fez questão de resgatar essa noção quase dois séculos depois.

Secular humanism FTW!

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São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2008

ENTREVISTA: LUC FERRY

Problemas privados são os problemas políticos de hoje

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

ESCRITOR BEST-SELLER , Luc Ferry defende que os pensadores mais profundos, de Platão a Nietzsche, renunciaram muitas vezes ao jargão em nome de uma filosofia mais acessível, como seria o caso de "Aprender a Viver", seu mais famoso livro. No recém-lançado "Família, Amo Vocês", Ferry tenta simplificar sua teoria de que a política, esfera pública por excelência, tem muito o que aprender com a família, esfera privada. Leia trechos da entrevista feita por e-mail.

FOLHA - Segundo o senso comum, a estrutura familiar é essencial para a lógica do capitalismo e do consumo. Isso mudou com as famílias fragmentadas, monoparentais?
LUC FERRY
- Houve três eras da família. Na Idade Média não se casava por amor, mas para transmissão do nome e patrimônio, "fabricar" crianças e fazer viver a exploração agrícola. De resto, não se casava, se era casado pela família ou pelo vilarejo. É a invenção do assalariado pelo capitalismo incipiente que abala a situação. E vai levar o indivíduo a se emancipar do peso das comunidades tradicionais, por uma razão simples: o mercado de trabalho que logo irá se globalizar força os indivíduos a trabalhar nas grandes cidades. Os indivíduos se livram das formas tradicionais de controle social e adquirem autonomia financeira. A jovem que no campo casa-se à força encontra-se autônoma na cidade. Isso vai levá-la a querer não mais se casar à força, mas por afinidade eletiva. É o nascimento do casamento por amor. É preciso acrescentar que, antes do casamento por amor se tornar a regra, ou quase, como é o caso de hoje, há uma época intermediária, da família burguesa, em que não se divorciava. Mas isso é uma ilusão, porque o divórcio é o avesso do casamento por amor: se você fundamenta o laço familiar no sentimento e não mais na economia, o fundamenta em algo que pode variar. Paradoxalmente, as famílias monoparentais são um resultado do casamento por amor.

FOLHA - Em sua opinião, qual tipo de ligação existe entre as famílias modernas: não são também determinadas pelo individualismo?
FERRY
- O individualismo não tem muito a ver com o egoísmo. O individualismo é ligado à emancipação em relação às tradições comunitárias. Uma mulher que hoje se recusa a se casar à força no Irã tem um comportamento "individualista", não egoísta. E o amor, na esfera privada, tem sido fator de ampliação do pensamento e dos horizontes. Nunca demonstramos tanta preocupação com o outro como nas sociedades modernas. Na Europa, passamos nosso tempo pensando no mal que causamos com a colonização, nos erros cometidos pela globalização em relação aos pobres etc. Isso está ligado à história da família moderna. A humanidade moderna é ligada diretamente à história do casamento por amor. É o amor privado que fez com que o mundo ocidental tivesse simpatia por outras civilizações. Antes, ninguém se interessava por elas senão com o olhar do colonizador. A oposição clássica do privado e do público não reside mais onde pensamos. Como todos temos os mesmos problemas de casamentos fracassados ou bem-sucedidos, divórcio etc., agora o privado não é mais tão privado como pensávamos. A tese do meu livro é a de que os problemas aparentemente privados são os políticos de hoje: a dívida pública ou o choque de civilizações não teriam tanta importância política se a questão por trás não fosse a do mundo que queremos deixar às nossas crianças ou, de modo mais chique, às gerações futuras.

FOLHA - Em que medida a vida privada pode ser um modelo para o Estado e as políticas públicas?
FERRY
- A sacralização da esfera privada como elo principal do sentido da vida como se vê hoje na Europa não representa, como se costuma afirmar de modo blasé, recuo individualista, mas, ao contrário, uma formidável ampliação de horizontes. Diante da valorização da intimidade, o reflexo político mais corrente consiste em declarar, com nostalgia na voz, que, como as instituições "grandiosas" (Deus, pátria, a república etc.) subsistiram por tanto tempo, nós nos conformamos, de modo mais ou menos medíocre, com o que resta: a família com, no máximo, um pouco de senso humanitário e ecológico. Acredito no oposto. Os problemas aparentemente individuais são coletivos. Todos temos mais ou menos os mesmos problemas, de modo que o individual não é o contrário do político. Como a política, esfera pública por excelência, pode tirar partido das revoluções que abalam seu oposto natural, a esfera privada? Como não perder de vista questões cruciais de economia e geopolítica, ao mesmo tempo conduzindo em escala nacional uma política que, enfim, libera a vida privada e ajuda os indivíduos a superar as desigualdades que os impedem de desabrochar? Uma coisa é certa: quem achar a resposta será o grande político do século!

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2807200818.htm

sábado, 26 de julho de 2008

Tem certeza?

São Paulo, sábado, 26 de julho de 2008

"Não tem mais o que cortar dos gastos do governo", diz Lula

DO ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

Em entrevista em Lisboa ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que vai "fazer o que for necessário para evitar que a inflação volte no Brasil", mas afirmou que "não tem mais o que cortar dos gastos do governo".

[Leia mais] (apenas para assinantes UOL ou Folha)

sexta-feira, 25 de julho de 2008

A última aula de Randy Pausch

Neste fim de semana pretendo finalmente assistir ao vídeo da última aula do professor Randy Pausch, da Carnegie Mellon University. O vídeo tem 1h 16', é para se assistir em casa.

Acabei me esquecendo de sua existência, mas já tinha lido várias coisas sobre ele e sobre essa última aula, e achei sua história fascinante.

O professor Randy morreu hoje de manhã, em decorrência de câncer pancreático.

Sua história e, em particular, sua última aula serviu de inspiração para milhões (só o vídeo no Youtube foi visto por pelo menos três milhões de pessoas). E o drama de Randy deve ter um significado especial para os que perderam algum familiar ou amigo por conta do câncer. Eu só consigo tentar imaginar, mas acho que não dá para ter noção precisa do que seja isso sem ter vivido a situação de perto.

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quinta-feira, 24 de julho de 2008

Contra si e contra todos

Não fazer o teste do bafômetro é como impedir um policial de revistar um carro numa blitz que procura drogas. Você não pode se recusar a abrir o carro sob o argumento de que vai produzir uma prova contra si mesmo.

Ótima analogia!!! Há algum contra-argumento consistente? Segue abaixo o resto dessa curtíssima (porém boa) entrevista.

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São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

entrevista

Advogado defende uso do bafômetro

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto a lei seca é criticada por obrigar o motorista a se submeter ao teste do bafômetro -isso, de acordo com advogados, contraria o direito de não produzir prova contra si mesmo-, o advogado e professor da PUC-Minas Marciano Seabra de Godoi defende que essa obrigatoriedade é legítima e constitucional. A seguir, trechos da entrevista.

FOLHA - Quando se submete ao bafômetro, o motorista não produz prova contra si mesmo? A lei seca não é inconstitucional?
MARCIANO SEABRA DE GODOI -
Quase todos os advogados e juristas têm dito isso. Mas o coração da lei é exatamente a obrigatoriedade de submeter-se ao bafômetro. Não é inconstitucional. O principal objetivo do uso massivo do bafômetro não é incriminar pessoas, mas prevenir um crime, evitar um acidente.

FOLHA - Em que casos a pessoa produz prova contra si?
GODOI -
Quando uma pessoa investigada é chamada para falar numa CPI, ela tem o direito de ficar quieta. Esses casos não têm a ver com a prevenção e a fiscalização, mas com um crime que já ocorreu. Quando fala à CPI ou participa da reconstituição do crime, a pessoa pode se incriminar e, portanto, tem o direito de não colaborar. No caso do bafômetro, trata-se de um mero registro corporal. Não fazer o teste do bafômetro é como impedir um policial de revistar um carro numa blitz que procura drogas. Você não pode se recusar a abrir o carro sob o argumento de que vai produzir uma prova contra si mesmo.

FOLHA - Por que a lei seca enfrenta tanta resistência?
GODOI -
Porque atinge em cheio a classe média, que não está disposta a fazer sacrifícios em favor da coletividade. Se as autoridades exigissem, por exemplo, que os pilotos de avião se submetessem ao bafômetro antes de voar, ninguém reclamaria.
As pessoas não vêem que dirigir não é um direito inato, como é o ir-e-vir. É um direito que as autoridades dão com uma série de restrições, como ter certa idade, enxergar bem e, quando for o caso, submeter-se ao bafômetro. Dirigir é uma atividade arriscada, que põe em risco a vida de muitas pessoas.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2407200816.htm

Obama fever: Merkel has it

And I dare say she'd prefer a backrub from Obama rather than from McCain ("old perv!")...

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http://www.reuters.com/resources/images/logo_reutersmedia.gif

Obama politically and physically fit: Merkel

Wed Jul 23, 2008 11:26am EDT

BERLIN (Reuters) - German Chancellor Angela Merkel is an admirer of U.S. presidential candidate Barack Obama -- even though she has not yet met him in person.

Asked at a news conference on Wednesday what she thought of Obama, Merkel responded: "I would say that he is well-equipped -- physically, mentally and politically."

Obama is due to meet with Merkel for about an hour on Thursday morning and will later give a speech on transatlantic relations at the "Victory Column" in Berlin's Tiergarten park.

Merkel objected to initial plans by the Obama campaign to hold the speech at the Brandenburg Gate. His appearance is expected to draw tens of thousands of Germans, who polls show prefer him to his Republican challenger John McCain.

Since coming to power in 2005, Merkel has repaired relations with Washington damaged when her predecessor Gerhard Schroeder clashed with U.S. President George W. Bush over the Iraq war.

Bush was famously caught on camera at a G8 meeting in 2006 giving Merkel a quick backrub and the chancellor was asked on Wednesday whether she expected more massages from Bush's successor -- whether it's McCain or Obama.

"That's not really up to me," she joked. "But I wouldn't resist."

Merkel said she would not be in Berlin for Obama's hotly anticipated speech, but added: "Maybe I'll turn on the television."

(Writing by Noah Barkin; Editing by Catherine Evans)

URL: http://www.reuters.com/article/politicsNews/idUSL2304285220080723?feedType=RSS&feedName=politicsNews&rpc=22&sp=true

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Disque-pileque

É questionável se o dinheiro público deve financiar esse tipo de serviço. Por um lado me parece o equivalente à polícia amazonense deslocar um policial para acompanhar um cidadão em sua volta para casa pelas ruas escuras/perigosas da cidade, ou seja, recursos públicos para fins privados.

Por outro lado, é um problema público: se um desses manauenses ébrios preferir dirigir seu próprio carro a ligar para o Disk-Pileque*, pode causar um acidente com várias vítimas.

A questão é: até que ponto devemos tutelar os cidadãos independentes e legalmente responsáveis por si mesmos?

* Poderia ser "pilek", já que estamos inventando um significado novo para a palavra disk, "disco" (objeto circular, chato e fino) em inglês.

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Folha Online

Cotidiano

23/7/2008 - 10h12

Detran dá carona para motoristas alcoolizados de Manaus

Publicidade

da Folha Online

O Detran (Departamento Estadual de Trânsito) do Amazonas anunciou na terça-feira (22) que irá reativar o Disk-Pileque, serviço de carona para motoristas alcoolizados de Manaus. Para usar, basta que o motorista telefone para os números 0800-2801515 ou 0/xx/92 3642-6708 e um carro ou uma moto irá buscá-lo.

O serviço estará disponível da madrugada de sexta à noite de domingo, e é gratuito.

O Disk-Pileque funcionou nos últimos Carnaval e Festival de Parintins.

Para reforçar o cumprimento da lei seca, que elevou o rigor das penas aplicadas a motoristas flagrados dirigindo alcoolizados, o Detran ainda inicia na quinta-feira (24) uma campanha informativa em TVs, rádios e outdoors e, amanhã ou sexta (25), realiza uma megablitz em Manaus.

Conforme o Detran, 80 profissionais irão participar da megablitz. Eles ficarão nos pontos da cidade com maior fluxo de carros no período da noite --Ponta Negra, Estrada do Turismo e Torquato Tapajós, por exemplo. Todos os dias, ainda conforme o Detran, há blitze menores --desde 20 de junho, 25 CNHs já foram apreendidas.

O Detran do Amazonas afirma já ter registrado queda no número de acidentes. Em junho passado, Manaus teve sete acidentes com mortes enquanto, em junho de 2007, foram 22 --uma queda de mais de 68%.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u425280.shtml

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Too little, too late

Folha Online

Colunas17/7/2008

Kassab amplia bilhete único de 2 para 3 horas

KENNEDY ALENCAR
colunista da Folha Online

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, anunciará nesta quinta-feira a extensão do bilhete único na cidade de duas horas para três horas. Candidato à reeleição pelo DEM, Kassab tenta tomar uma medida que terá impacto nos transportes da capital.

Seus adversários na eleição, a petista Marta Suplicy e o tucano Geraldo Alckmin, têm feito críticas ao trânsito na capital, o que prejudica a candidatura e administração de Kassab.

Kennedy Alencar, 40, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos. Também é comentarista do telejornal "RedeTVNews", no ar de segunda a sábado às 21h10.

E-mail: kalencar@folhasp.com.br

URL:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/brasiliaonline/ult2307u423169.shtml

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Agora as pessoas talvez não precisem mais ficar se espremendo entre o motorista e o cobrador até chegar no seu ponto, para fazer valer as minguadas duas horas.

Decisão óbvia, que poderia ter sido tomada há muitos anos -- desde que lançaram o Bilhete Único, aliás.

Ou eles achavam antes que muita gente pegava ônibus a mais em São Paulo por diversão, já que é "de graça"?!

quarta-feira, 16 de julho de 2008

História contada das trevas

Editorial da Folha de hoje. Parece que a história tem potencial para se tornar um escândalo ainda maior que o do "mensalão" —se não for abafada antes.

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São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2008


Editoriais

História das trevas

Governo que se afirma paladino da República no caso Dantas é o mesmo que, em surdina, facilita e conduz fusão de teles

O EX-DEPUTADO Luiz Eduardo Greenhalgh, candidato do Planalto na fatídica eleição de Severino Cavalcanti na Câmara, acaba de descer ao Hades do governo Lula. No mundo das sombras, o advogado vai ter com outras figuras que, como ele, já desfrutaram do prestígio presidencial, mas foram descartadas em nome da preservação do poder.
Greenhalgh, contratado pelo banqueiro Daniel Dantas, pediu um favor ao companheiro Gilberto Carvalho, assessor do presidente da República. Segundo Carvalho, o advogado mostrou-se preocupado com uma perseguição a um de seus clientes; queria saber se o perseguidor, que se dizia agente da Abin, pertencia mesmo ao quadro do Gabinete de Segurança Institucional, ligado à Presidência.
Na tentativa de evitar um seqüestro ou algo assim, Carvalho, sempre de acordo com a sua versão, foi pedir explicações no GSI. Confirmou para Greenhalgh que se tratava de um araponga legítimo. Mais não disse, porém, quando instado pelo advogado a fornecer detalhes da investigação. O cliente em questão era Humberto Braz, preso no domingo, que, segundo a PF, tentou corromper os agentes responsáveis pela Operação Satiagraha com US$ 1 milhão. O assessor de Lula afirma que, à época do favor, não sabia nada sobre Braz.
O advogado Greenhalgh também bateu à porta da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Foi recebido quatro vezes desde 2007 —dois desses encontros não constavam da agenda pública da ministra. A assessoria da Casa Civil diz que, quando Greenhalgh tentou transmitir um recado de Dantas, foi logo interrompido por Rousseff, que lhe recomendou que fosse tratar desse tema privado com os sócios do banqueiro na telefonia.
Os fatos narrados assim, da perspectiva do governo, pintam Greenhalgh como um ardiloso lobista a serviço de Dantas. Dilma Rousseff e Gilberto Carvalho são os herdeiros de Catão na defesa do interesse dos cidadãos contra a sanha dos saqueadores da república. É enredo adequado para histórias em quadrinhos, mas inverossímil na vida real.
Em silêncio, afinal, se desenrola nos corredores do governo federal um dos maiores negócios público-privados dos últimos tempos, a compra da Brasil Telecom —da qual Dantas foi controlador— pela Oi. A sintonia escandalosa entre o interesse privado e a ação do governo não poderia ser maior. O Executivo, além de controlar acionistas-chave para o processo (fundos de pensão e BNDES), vai subverter o modelo de concorrência na telefonia para acomodar o fato consumado empresarial.
O arremedo de prestação de contas ensaiado por assessores de Lula deveria ser substituído pela atitude, esta sim republicana, de lançar luz sobre todos os lances desse processo —quer sobre a atuação dos interesses de Dantas no governo, quer sobre a novela maior, a fusão das telefônicas. A história contada das trevas costuma reservar surpresas desagradáveis aos governantes.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1607200801.htm

São Paulo pode parar

Gráfico comparativo sobre o custo de se estacionar em várias cidades do mundo, publicado pela revista The Economist:


Crédito: Shutterstock. Fonte: http://www.economist.com/daily/news/displaystory.cfm?story_id=11739731.

Não é uma boa posição para São Paulo: somos o penúltimo lugar no ranking dos estacionamentos mais caros do mundo. ("Ué, mas pagar pouco para estacionar não é algo bom?!")

É muito difícil de se estacionar em SP. As ruas estão sempre cheias de carros nas duas pistas extremas (não raro, mesmo quando é proibido). Os estacionamentos privados também (muitas vezes acima da capacidade). Mas, por um estranho descompasso da lei da oferta e da demanda (mais uma lei não seguida pelos paulistanos, agora só resta a lei da gravidade), ainda é absurdamente barato estacionar por aqui em comparação com outras metrópoles ao redor do mundo.

Nova Iorque recentemente (este mês) instituiu um sistema de parquímetro no centro da cidade com preço variável: quando o tráfego está lento, custa mais parar o carro. Assim, aumenta a rotatividade das vagas nas ruas, e os carros não ficam tanto tempo rodando procurando por uma vaga (e gerando mais trânsito ainda).

Mais uma idéia que não vamos adotar por aqui tão cedo?

A polícia por dentro

Abaixo, excelente matéria, bem resumida e focada nos problemas da PM fluminense cujos efeitos foram estampados nos noticiários dos últimos dias.

Mensagem
O repórter, Raphael Gomide, foi o mesmo que se infiltrou (prestando concurso) no curso de formação da PM do Rio, e fez reportagem detalhada sobre a experiência. É de arrepiar. Segue abaixo o link para a reportagem (para assinantes da Folha ou do UOL):
 
 
É jornalismo investigativo da melhor espécie. Tenho profunda admiração por esse jornalista. Acho que eu não teria coragem de fazer o mesmo. Com tantos repórteres mortos ou presos mundo afora, os poucos e bons jornalistas investigativos são um orgulho para a profissão.
 
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São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2008
 
ARTIGO

Falta treinamento e sobra nervosismo

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

"Troca tiros com vagabundo na favela. Ele se rende. Vai prender? Eu vou matar!"
Ouvi esta frase mais de uma vez no curso de Formação de Soldados da Polícia Militar do Rio, que freqüentei por um mês para escrever a reportagem "O Infiltrado - Por dentro da PM" [publicada no caderno Mais! da Folha, no dia 18 de maio]. Argumentei que o procedimento é ilegal, mas recebi como resposta um tapinha no ombro com desprezo. "Se você entrar na PM com essa de "prender", é bom rezar muito! Direitos Humanos é para quem é humano!"
Quando um agente decide que um preso (bandido ou inocente) deve morrer, a pena de morte está em vigor, sem tribunal ou processo legal, e a Constituição deixa de valer. Na rua, à primeira ameaça de perigo, o policial atira no "inimigo". Que pode ser um menino de três anos, como foi João Roberto, morto semana passada, ou um trabalhador assaltado, como Luiz Carlos Soares da Costa, 36, a vítima da noite de segunda.
Em treinamento de agentes brasileiros pela SWAT do Texas (EUA), no Rio Grande do Sul, um integrante do grupo norte-americano contou, para minha surpresa, que em 13 anos de operações de resgate, nunca havia disparado um tiro. "A técnica e a velocidade substituem a violência", afirmou.
Os alunos PMs ouvem repetidas vezes no curso que não se deve disparar a não ser em legítima defesa própria e de terceiros, e que devem fazer "uso moderado da força". Descobrem lá, como eu, que "perseguição" a pessoas em veículo "em atitude suspeita" é errado: deve-se acompanhar o carro e fazer o cerco. Perguntam se devem atirar em quem foge da abordagem e escutam um sonoro "claro que não!" Os comandantes da PM, portanto, não mentem quando afirmam que os recrutas aprendem tudo isso. Então o que acontece?
O problema está no hiato entre a teoria e a prática. Isso começa na precária formação dos PMs, com pouco treinamento prático, principalmente por falta de recursos. Eles são formados com 40 tiros de pistola, 40 de revólver e 40 de fuzil, quando não se conhece arma com menos de 250 disparos.
Os discursos contraditórios na escola -o oficial e o não-oficial- deixam o novo PM cheio de dúvidas. Na hora da ação, falta treinamento e sobra nervosismo. A mentalidade e a ideologia "da rua", então, prevalecem sobre a doutrina do curso de formação.
Causa e efeito disso: a polícia fluminense é a que mais mata e a que mais morre no Brasil. Em 2007, matou 1.330 civis em supostos confrontos. Morreram 151 agentes, 119 na folga, e o restante, 32, em operações. Todas as polícias dos EUA, somadas, mataram 375 pessoas (28% o número do Rio) em 2006.
Morre um policial para cada grupo de 41,6 civis mortos em supostos tiroteios, quatro vezes o índice tolerado mundialmente. Não é necessário ser especialista para identificar a desproporção. A ONU e grupos de direitos humanos vêem nos números indícios de execuções.
No curso da PM do Rio há clara preocupação de condenar e combater a corrupção interna. É um passo positivo. A violência policial letal, porém, permanece tolerada e até estimulada no discurso semi-oficial, nas conversas com instrutores. "Vocês vão aprender na rua: deu tiro pelas costas, pega a arma, põe na mão do cara, dá um tirinho e alega legítima defesa. Talvez eu fizesse isso no calor da emoção. Mas isso é na rua, aqui não é lugar para aprender isso", disse um instrutor.
Quando o governador do Estado diz a seus comandados que a política é de "confronto", ainda que o secretário de Segurança afirme que é de "desarmamento", fica evidente que não há interesse em reduzir as mortes de civis, bandidos ou não. Sem treinamento, mudança de mentalidade e um urgente programa de redução da letalidade, o Rio continuará a bater sucessivos recordes macabros.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Adensamento populacional em São Paulo

Eu não fazia a menor idéia de qual era a densidade populacional nas favelas paulistanas! Na minha ignorância, achava que áreas cheias de prédios de 15 andares teriam densidade muito maior. Não computei a ausência de ruas amplas e calçadas, e o baixo número de moradores por unidade (chutaria "menos de três").

Eles mencionaram o possível impacto em termos de saúde pública (o risco de contágio de doenças é muito maior), mas também fiquei imaginando se esse também não seria um fator de tensão social (descontadas as precárias condições de habitação, ausência de equipamentos públicos, ruas mal-iluminadas etc.) que, em última análise, alimentaria a violência na região (sobretudo agressões físicas e homicídios, que são resoluções violentas de conflitos).

De qualquer maneira, é um problema que vem se agravando na cidade e, como muitos outros problemas que não afligem diretamente a classe média paulistana, está fora do debate eleitoral (e da opinião pública).

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São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2008


Saturadas, favelas se verticalizam em SP

Embora não haja mais espaço para construir, população desses locais aumentou; "predinhos" são o retrato do fenômeno

Crescimento populacional nas favelas foi 660% maior que o de SP entre 2000 e 2007, mas área total que elas ocupam na cidade caiu


Caio Guatelli/Folha Imagem

Meninas em favela da Vila Nilo, na zona norte; ao fundo, um "predinho"


TALITA BEDINELLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando a dona-de-casa Alaíde Souza, 62, se mudou para a favela de Paraisópolis (zona sul de SP), no final dos anos 60, via de sua janela um imenso matagal. Nesses 40 anos, ela acompanhou a construção de inúmeros barracos de madeira, que se transformaram em casas de alvenaria e, pouco a pouco, ganharam novos andares. Hoje, Alaíde vê uma favela vertical.
Paraisópolis, que é a maior favela em área da cidade (com 0,8 km2, quase metade do distrito da Sé), passa por um fenômeno que os urbanistas chamam de adensamento urbano: já não há mais espaço para construir, mas a população continua a aumentar.
O fenômeno não é exclusivo de lá: as favelas da cidade passaram por um crescimento populacional 660% maior do que a média de São Paulo entre 2000 e 2007. No período, o número de habitantes na cidade aumentou 0,55% ao ano, segundo a Fundação Seade; o das pessoas que vivem em favelas, 4,18%, segundo o CEM (Centro de Estudos da Metrópole) e o site Habi-SP (um banco de dados inédito da Secretaria de Habitação sobre as favelas da cidade, lançado neste ano).
O dado é contestado pela secretaria porque o CEM se baseia no censo do IBGE, com metodologia diferente da do Habi-SP. Contudo, urbanistas, como Suzana Pasternak, professora de urbanização da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP, concordam com a comparação.
Apesar de a secretaria não ter dados exatos, a superintendente de Habitação Popular, Elisabete França, admite que o aumento foi maior nas favelas. "A população da favela cresce mais porque o número de filhos que eles têm é maior."
As favelas têm 65 mil habitantes por km2 em SP -no distrito da Bela Vista, com a maior densidade da capital, há 23 mil pessoas por km2.
Embora com mais gente, a área que as favelas ocupam caiu: eram 28 km2 em 2003, contra 23 km2 em 2007, segundo a secretaria. Isso levou a um aumento "preocupante" da densidade demográfica delas, na opinião de Pasternak.
"Quando as casas são muito próximas, a circulação de ar não é muito eficaz. Um adensamento forte é um convite para doenças contagiosas", diz.

Novas favelas
Outro fenômeno é que, nos últimos 21 anos, há mais favelas desaparecendo do que novas ocupações surgindo. De 1987 a 2008, 548 foram removidos, urbanizadas ou se uniram -viraram uma só-, aponta a secretaria. Surgiram 362 favelas de 1987 a 2007, revela levantamento feito em junho pela Folha com base no Habi-SP. Há, nessas ocupações, 75.699 casas e cerca de 304 mil habitantes.
Desde 2001, não surgem mais de dez favelas por ano. A média histórica anual desde 1934 é de 20.
A queda, segundo a secretaria, se deve a uma maior fiscalização, especialmente nas áreas de mananciais, na zona sul, onde hoje ficam 50% das favelas. Nos últimos 20 anos, as favelas passaram a ir para a zona leste.
Para urbanistas, outro motivo para haver menos favelas é a escassez de terrenos vagos. "A população mais pobre consegue espaço só nos lugares que não interferem nos ganhos imobiliários. E encontra limites físicos como a serra da Cantareira, ao norte, e os mananciais, ao sul. A escassez de terras para ocupações é um fenômeno mundial", diz Mariana Fix, pesquisadora do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da USP.
A falta de espaço e o excesso de gente levou ao processo de verticalização visto pela dona-de-casa Alaíde, em Paraisópolis, e em outras favelas da cidade, explica Pasternak. "As pessoas não saem da favela porque está difícil de sair. Desde 1980, também se começou a colocar infra-estrutura, como água e luz, melhorando as condições", diz. "Hoje, é possível ver favelas com predinhos grudadinhos uns nos outros."
Os "predinhos" são, de fato, casas construídas umas sobre as outras, em cima de lajes, que servem para abrigar filhos do proprietário do imóvel, ou, até mesmo, para alugar.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1407200801.htm

segunda-feira, 7 de julho de 2008

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Lei Seca

A motivação deveria ser a preservação da vida de seus fregueses e das demais pessoas que circulam pela cidade, mas o efeito prático é o mesmo. Que pena que precisou de uma lei que elevasse o risco de perda de clientes para os bares da cidade se mobilizarem. Mas que bom que eles encontraram saídas criativas.

Alguns bares de São Paulo criaram alternativas para não perderem movimento após a lei seca. Os estabelecimentos da rede Biroska, na rua Canuto do Val (Santa Cecília, região central), contam com bafômetros para que os fregueses confiram se não correm riscos de serem multados, perderem a carteira de habilitação ou acabarem a noite na delegacia.
Desde ontem, a rede tem também dois carros que levam clientes para casa, de graça.
No Bar Central, em Moema (zona sul), a estratégia foi cadastrar taxistas que cobrarão bandeira um (mais barata) mesmo à noite e de madrugada.

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Há muitas outras por aí: nos EUA, por exemplo, foi criado um novo conceito social, o do "motorista designado" (para não beber e dirigir), após massiva campanha iniciada em 1998. Não é apenas um dos amigos que é eleito para "ficar careta" durante a balada e levar os demais para casa. Foi criada, por exemplo, a Designated Drivers Association, um serviço voluntário de residentes locais que se dispõem a levar os motoristas "sob influência" (de álcool ou drogas) para casa.

PS: Tem apelido pior do que "lei seca"? Quem criou esse apelido ou é muito ignorante (não tem nada a ver com a "lei seca" dos EUA dos anos 1920), ou tinha a intenção explícita de desmoralizar essa lei (já que vivemos em um país no qual certas leis "não pegam"). Não se proibiu ou restringiu o comércio de bebidas, apenas diminuiu-se a tolerância para se dirigir embriagado. Quem volta de ônibus, táxi ou carona, pode continuar bebendo até morrer (ou matar)!

terça-feira, 1 de julho de 2008

Política no cinema

Bons filmes e documentários sobre política devem chegar às telas brasileiras nos próximos anos:
Com o sociólogo Luiz Eduardo Soares, [José Padilha] escreve o roteiro de "Nunca Antes na História deste País", que, segundo ele, "relata a política na sua interação com os empresários, a mídia, os artistas, a segurança pública".
Considerando que o cineasta Fernando Meirelles anunciou, no ano passado, a intenção de fazer um documentário sobre o Congresso Nacional, e que o montador Felipe Lacerda ("Ônibus 174", "Central do Brasil") finaliza o documentário "Fazendo Política", sobre os meandros da atividade, Padilha avalia que o Brasil tem "uma safra de filmes a respeito da elite vindo aí".
Na opinião do cineasta, "o cinema brasileiro está pronto para começar a discutir essas coisas outras [que a miséria]".
Meirelles reafirma sua intenção de abordar a política brasileira num filme, mas diz que o projeto ainda não tem data para sair do papel.
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Se for qualquer coisa no nível do Vocação do Poder, ótimo documentário de Eduardo Escorel sobre os candidatos de primeira viagem à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, ficarei muito feliz.

Só de sacanagem

Bárbaro poema de Elisa Lucinda, interpretado por Ana Carolina: