Uma das apresentações era sobre uma investigação feita por pesquisadores da própria UNIANDES sobre o impacto de diferentes meios de comunicação sobre a popularidade do presidente Uribe.
Muitas variáveis estão em jogo neste caso: a diferença do tamanho da audiência de cada um dos meios (quase todos assistem tevê, muitos ouvem rádio, muito poucos lêem jornal etc.), profissionalismo e imparcialidade (no Brasil, jornais e transmissoras regionais de tevê estão sob controle de políticos) etc.
Mas eles destacaram também as propriedades intrínsecas de cada meio: ao noticiar uma ação positiva do governo, a televisão tinha um efeito muito maior no crescimento da popularidade do presidente, ou seja, a "imagem" positiva era mais poderosa que as palavras.
No caso de escândalos de corrupção (que não faltam, tanto lá quanto cá), é entre os leitores de jornal que se sentia a maior variação negativa na popularidade de Uribe: os jornais têm mais "fôlego investigativo" e, apesar das fotos terem um impacto semiótico um pouco menor que as imagens cores e movimento da tevê, há muito mais exposição de tabelas, dados, infográficos, fluxogramas das "conexões perigosas" etc., menos palatável na telinha.
E como sabemos que uma experiência boa a gente conta para 10, e uma experiência ruim a gente conta para 100, os jornais também têm ainda a vantagem na hora do compartilhamento entre a rede de contatos. YouTube pode ter ajudado a tornar gafes como a do Boris Casoy mais conhecidas a quem não assistiu ao noticiário ao vivo, mas ainda assim a circulação de vídeos ainda é muito mais restrita (por supostamente infringir direitos autorais, um vídeo gravado de uma grande rede de mídia não costuma durar muito tempo no YouTube, por exemplo).
Mas por que me veio tudo isso à cabeça hoje? Mais uma vez, ao ficar horrorizado com a cobertura do jornal matinal da Globo. Ao cobrir a inauguração do Parque Leopoldina - Villas Bôas, ela mostrou rapidamente algumas imagens do parque, e depois centrou na figura do governador fazendo a coletiva no parque, com o prefeito da cidade ao fundo. Não disse absolutamente nada que não teria dito em qualquer outra inauguração de parque: "esta é mais uma opção de lazer para os cidadãos etc.". Publicidade gratuita, outra vez.
Os jornais, um pouquinho mais atentos, deram mais destaque a fatos que as próprias imagens da Globo mostravam (para não serem acusadas de omissão) mas não apontavam, e que me chamaram a atenção:
A associação de moradores diz que o projeto é bem-vindo, mas reclama que pouca coisa foi feita para a abertura.
"A prefeitura plantou árvores e deu uma maqueada, mas, na verdade, boa parte do que tem lá hoje já existia", disse José Benedito Moreli, presidente do Conselho das Associações de Amigos de Bairro da Lapa.
Em visita ao parque, a Folha constatou que o uso de alguns equipamentos pode trazer certo risco. Um campo de futebol tinha diversos buracos, que estavam encharcados. Num campo de society, montes de mato deixavam o gramado irregular.
Fiz esse mesmo comentário sobre o gramado do campo de futebol para a minha esposa ao ver as imagens. Para quem assiste tevê, ficou apenas o tom positivo. Para quem leu o jornal, soube que R$ 4,5 milhões de investimento público num parque, envolvendo dois níveis de governo, não foi sequer capaz de incluir algumas horas de jardinagem básica (é no mínimo estranho, senão suspeito).
Aliás, o mesmo problema ocorre em quase todos os outros parques da cidade, incluindo o Ibirapuera, um dos cartões-postais da cidade, que freqüento toda semana.
Até quando os paulistanos irão se contentar com serviços públicos "meia boca", simplesmente por ser mais e melhor do que o tinham antes? (Mas muito menos do que poderiam ser, com os mesmos recursos mais bem empregados.)
Essa mesma indignação, aliás, serve para Educação, Saúde, Habitação, Segurança Pública, Transportes...
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