Há muito eu já desconfiava que a cobertura jornalística é muito desfavorável aos mais pobres.
Dado um mesmo evento (ex.: homicídio), o nível de exposição na imprensa -- e, por conseguinte, de repercussão na sociedade -- de um crime cometido contra uma criança loirinha ganha capa da Veja, passeatas pela paz na avenida Atlântica, campanha no Congresso pela redução da idade de inimputabilidade (maioridade) penal etc.
Se for um menino pretinho, é mostrar na tevê a mãe chorando, o cretino do repórter perguntar para o pai "Como o senhor está se sentindo?", e passar rápido para os gols da semana.
Mas no caso do deslizamento de terra em Ilha Grande e Angra dos Reis, onde pobres e ricos foram simultaneamente afetados, essa diferença de tratamento ficou completamente, desconcertantemente, embaraçosamente descarada.
Não lembro mais dos detalhes, mas de uma família mais rica fizeram uma mini-biografia da vítima, mostraram imagens e vídeos da pessoa quando viva, depoimentos de amigos e familiares etc. No mesmo bloco, momentos depois, falavam de uma vítima pobre. Se a reportagem durou 20 segundos mostrando o desespero dos pais, foi muito.
Mal dava para acreditar que se tratava da maior rede de televisão do País...
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