Na primeira brecha, Crivella pediu a palavra. Tirou da pasta uma fotografia do morro da Providência alterada por Photoshop. Nela, via-se a favela com barracos decadentes ao lado de casas remodeladas, com fachadas refeitas e telhados novos. "Presidente", disse o senador, "a Providência pode ficar assim."
Crivella vendia diretamente ao governo federal o diamante de sua próxima campanha eleitoral: o projeto Cimento Social. A proposta previa a recuperação de 782 casas da favela. Tetos e janelas seriam trocados e paredes, repintadas. Os barracos seriam revestidos com placas pré-moldadas de 1 centímetro de espessura feitas com uma argamassa patenteada pela Universidade de São Paulo que duraria "mil anos".
Pelo projeto, as novas estruturas resistiriam "ao impacto de balas de até 7,5 milímetros de calibre, a uma distância mínima de 20 metros". Também se previa a implantação de um sistema de esgoto, a instalação de centros comunitários, creches, postes de iluminação e a criação de um sistema de proteção para a rede elétrica e telefônica. Por último, a área seria reflorestada.
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A construção foi batizada de "Vila Zé Alencar e Dona Marisa". Ali, moram as famílias dos três jovens assassinados. A irmã de Wellington, Bárbara, riu quando perguntei se as paredes eram mesmo resistentes a tiros. Ela se levantou e apontou para o ar-condicionado. "Eu fiz esse buraco com a ajuda de uma faca de cozinha", disse. Com a ponta dos dedos, mostrou que a parede se esfarela ao toque.
O exército, o político, o morro e a morte
Das manchetes ao esquecimento: o caso Providência faz dois anos
por Cristina Tardáguila
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-46/questoes-de-seguranca/o-exercito-o-politico-o-morro-e-a-morte
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