quarta-feira, 31 de março de 2010

Brincando de cidade



São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2010

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Kassabinho city

SÃO PAULO - Caiu mais um pouco a aprovação à administração Gilberto Kassab. Como mostrou ontem o Datafolha, 34% dos paulistanos consideram sua gestão boa ou ótima, número agora idêntico aos que a avaliam como ruim ou péssima. Em dezembro, a aprovação era de 39%, contra 27% de reprovação.
A popularidade de Kassab vem descendo a ladeira desde que ele foi eleito, no final de 2008. O prefeito, na verdade, está no poder desde 31 de março de 2006, há quatro anos, quando José Serra deixou a prefeitura para disputar o governo.
Alavancado do anonimato para a glória, ele ultrapassou os 60% de aprovação popular na campanha, mas sua imagem no atual mandato vem murchando progressivamente: Kassab, Kassabão, Kassabinho.
O boneco que serviu de símbolo eleitoral vai se transformando em síntese de uma trajetória política. Emancipado de seu padrinho, o prefeito parece um brinquedo sem corda. Mostra-se inoperante no dia a dia, catatônico diante das chuvas, dá sinais de que não tem bússola. O demo-quercismo que Serra legou ao paulistano talvez seja isso aí.
Parece sintomático que as iniciativas mais marcantes de Kassab tenham ocorrido durante seu período "tampão", antes da eleição. A Virada Cultural, que começou em 2005, mas emplacou a partir de 2006, é uma delas. A outra é o Cidade Limpa, em vigor desde janeiro de 2007.
Aquilo que foi, sem dúvida, uma conquista histórica perde, porém, significado e compromete seu efeito social se o poder público não se dispõe, a seguir, a recuperar a "cidade suja" e deteriorada que os outdoors, eles próprios horríveis, escondiam dos nossos olhos. O que então parecia um avanço urbano pode se revelar só uma maquiagem às avessas na paisagem, um tipo de mágica, um golpe de marketing para iludir (ou atrair) "progressistas".
Parece também ser um pouco esse o sentido oculto da "virada": uma vez por ano, as ruas do centro abandonado se tornam habitáveis, festivas, "culturais" — como se por um dia todos brincassem "de cidade".

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz3103201003.htm

quarta-feira, 24 de março de 2010

Carta de Hitler

"Seria bom (...) se superássemos de tal modo a desgraçada psicose de guerra (dos doze últimos anos) para permitir se transformar em realidade a relação verdadeiramente cordial dos povos britânico e alemão que tanto desejamos eu e meu movimento", escreveu Hitler.

Que sujeito polido, esse!

Colecionadora paga mais de R$ 21 mil por carta de Hitler a jornalista
da Efe, em Londres  |  24/3/2010 - 11h36

segunda-feira, 22 de março de 2010

Restrição às motos

É isso aí…

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São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

Restrição às motos

A PREFEITURA paulistana anunciou que vai proibir a circulação de motocicletas na pista expressa da marginal Tietê e em trecho importante da avenida 23 de Maio, uma das mais movimentadas da cidade.
A medida visa a reduzir os acidentes fatais envolvendo motociclistas. Mas é preciso ressaltar seu caráter paliativo, bem como os efeitos duvidosos e insuficientes que será capaz de produzir.
Há hoje cerca de 824 mil motos registradas em São Paulo. Estima-se que metade dessa frota circule de fato diariamente. A parte mais visível dela — entre 150 mil e 200 mil — é composta pelos chamados motoboys, cujas manifestações de imprudência já estão incorporadas à triste rotina do trânsito paulistano. Em 2009, morreram 428 motociclistas na capital, mais do que o dobro das vítimas de acidentes com automóveis -cuja frota é de cerca de 5 milhões.
Uma política menos circunstancial para enfrentar o problema deveria começar por rever a tolerância excessiva com desvios de conduta flagrantes dos motociclistas. Muitos radares disponíveis na cidade nem sequer estão capacitados a registrar as infrações, uma vez que as motos não possuem placa dianteira. É comum observar motoqueiros driblando as regras básicas do trânsito com incrível facilidade.
Além disso, a própria lei precisaria ser rediscutida. Em 1998, foi retirado do Código de Trânsito Brasileiro o artigo que proibia a circulação de motos entre as faixas. Seria o caso de rever tal decisão, impondo aos motoqueiros algum tipo de restrição.
Não se trata de banir as motos desta ou daquela via pública, mas de estabelecer com muito mais rigor limites para a circulação desse meio de transporte. Seus efeitos hoje são nocivos ao conjunto da população e não raro trágicos para os usuários.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2203201002.htm

sexta-feira, 19 de março de 2010

Sobre o êxodo

Eu demorei tempo demais para descobrir Mario Benedetti...



Sobre o êxodo
Pela primeira vez o monumento não estava decorado com excremento de pombo, talvez porque até as pombas tivessem partido

É óbvio que o êxodo começou por motivos políticos. No exterior, os jornalistas começaram a escrever que a atmosfera daquele paisinho era irrespirável. E era mesmo difícil respirar. Os jornalistas estrangeiros continuaram escrevendo que ali a repressão era monstruosa. E realmente era monstruosa. Mas o fato de essas verdades terem sido difundidas por jornalistas estrangeiros levou as autoridades a uma invocação inflamada do orgulho nacional. O erro do governo foi, talvez, ter posto a invocação na boca do presidente, já que, nos últimos tempos, sempre que a voz e/ou imagem do primeiro mandatário aparecia na tevê ou nas rádios, as pessoas corriam para apagar seus aparelhos. De modo que a população jamais chegou a se inteirar da invocação do orgulho nacional feita pelo governo. E, em consequência, continuou partindo.

Má cabeça

Não adianta insistir, que não vou mandar minha má cabeça para consertar!

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(por Allan Sieber; via Revista Piauí)

quarta-feira, 17 de março de 2010

VAMOS FAZER BARULHO!!!

De preferência, em frente à casa do vereador Carlos Apolinário. Alguém tem o endereço?

Essa história me lembrou o movimento Deus não é surdo...

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São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2010 

Câmara reduz multa e afrouxa a lei do Psiu

Nova lei amplia prazo para punição, acaba com a denúncia anônima e exige que vistoria seja feita na casa do vizinho do local barulhento

Casa derrubou veto do prefeito à nova regra; seu autor, Carlos Apolinário (DEM), diz que fiscalização atual "é indústria de multas"

EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL 

A lei do Psiu praticamente não existe mais em São Paulo. Desde ontem, a aplicação das regras do Programa de Silêncio Urbano ficou inviável com a entrada em vigor de uma nova lei. Aprovada pela Câmara, ela amplia prazos, reduz o valor da multa, acaba com a denúncia anônima e exige que a fiscalização seja feita na casa do vizinho do local barulhento.
A interdição de um estabelecimento que extrapolasse os limites de ruído levava até três meses; agora, vai demorar ao menos um ano.
Além disso, a fiscalização vai colocar juntos, na hora da medição do barulho, o dono do estabelecimento denunciado, o vizinho denunciante, o fiscal e outras testemunhas – todos dentro da casa do "reclamão".
Até então, a medição do nível de ruído era feita na porta do estabelecimento – um restaurante, uma igreja ou um salão de festas, por exemplo – e não era necessária a presença do denunciante. Na maior parte dos casos eram denúncias anônimas, segundo a Folha apurou. A lei que obriga o fechamento à 1 h de bares sem isolamento acústico, estacionamento e segurança não foi alterada.

O autor da "lei do barulho" é o vereador Carlos Apolinário (DEM), que há anos tenta evitar que as igrejas sejam alvos do Psiu. Chegou a aprovar uma lei com regras diferentes para os templos religiosos, mas o Ministério Público a derrubou na Justiça. Agora, aprovou nova lei, que atinge todos os locais de reunião, não só as igrejas.

Veto
O projeto foi vetado pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM) no ano passado, mas a Câmara derrubou o veto na semana passada, e a lei entrou em vigor ontem, com a publicação no "Diário Oficial" da Cidade.
"Hoje, o fiscal não vai ao lugar para orientar, vai para multar. É uma indústria da multa. Se tinham esse instrumento em mãos e a gente sabe que São Paulo é a capital do barulho, é porque alguma coisa estava errada", disse Apolinário, líder da bancada do partido do prefeito.
Ele diz não querer reclamar de perseguição às igrejas evangélicas para não ser chamado de fanático, mas afirma que os fiscais chegavam aos templos, mediam o volume de barulho dentro do salão, às vezes ao lado da caixa de som, e aplicavam multas que chegavam a R$ 17 mil – agora, o limite é de R$ 8.000 para locais de reunião com capacidade para mais de 5.000 pessoas.
"Se você mede o barulho do lado de dentro do local da reunião, nem festa de aniversário vai poder ter mais. Na Câmara, se você for medir, fecha a Câmara. Leva o meu aparelho de medir o barulho aí na redação da Folha na hora do fechamento e você vai ver que passa muito do limite", disse Apolinário.
A Prefeitura de São Paulo não se manifestou.

Edward Said


Belo ensaio sobre um pensador excepcional. Admiro seu desapego e seu pragmatismo para lidar com a questão Israel–Palestina. Fará falta.

"Ainda não fui capaz de entender o que significa amar um país." Esta é a condição característica do cosmopolita desenraizado. Não ter um país para amar é inseguro e desconfortável: pode fazer com que caia sobre sua cabeça a hostilidade ansiosa das pessoas para quem o desenraizamento indica independência corrosiva do espírito. Mas é uma condição libertadora: o mundo que se vê talvez não seja tão tranquilizador quanto o visto pelos patriotas e nacionalistas, mas a pessoa enxerga mais longe. Como Said escreveu em 1993: "Não tenho paciência com a posição de que 'nós' devemos nos preocupar única ou principalmente com o que é 'nosso'."

TONY JUDT | Revista Piauí | Fevereiro de 2010

terça-feira, 16 de março de 2010

Getting the Facts Right

Texas Approves Curriculum Revised by Conservatives
http://www.nytimes.com/2010/03/13/education/13texas.html

Maybe their Christian Founding Fathers rode on dinosaurs, we might find out — along with other nuggets of History revisionism, such as the fact that no terrorist attack ever occurred during G. W. Bush's Presidency:

The New Rove-Cheney Assault on Reality

Reality has such a liberal bias...

segunda-feira, 15 de março de 2010

Greve de fome

São Paulo, domingo, 14 de março de 2010 

Para Lula, greve de fome sempre foi teatro
No caso dos sequestradores de Abílio Diniz, ele ficou do lado dos bandidos e pressionou FHC

ELIO GASPARI

NOSSO GUIA, ou Grande Mestre, como diz a comissária Rousseff, comparou as razões dos dissidentes cubanos que fazem greve de fome às dos delinquentes das prisões nacionais. O aspecto autoritário, intolerante e até mesmo servil da fala de Lula já foi universalmente exposto, mas resta um detalhe: a natureza farsesca de seu próprio recurso à greve de fome. Em 1980, quando penou 31 dias de cadeia que ajudaram-no a embolsar pelo Bolsa Ditadura um capital capaz de gerar mais de R$ 1 milhão, Lula fez quatro dias de greve de fome. Apanhado escondendo guloseimas, reclamou: "Como esse cara é xiita! O que é que tem guardarmos duas balinhas, companheiro?"
Em 1998, quando os sequestradores do empresário Abilio Diniz fizeram greve de fome na cadeia, Lula ligou para o presidente Fernando Henrique Cardoso e intercedeu por eles: "Olha, Fernando, você vai levar para a tua biografia a morte desses caras".
(Dar o mesmo telefonema para Raúl Castro, nem pensar.)
Nesse mesmo ano, quando Lula sentiu-se massacrado pelas denúncias de intimidades imobiliárias com o empresário Roberto Teixeira, saiu em busca de apoios e disse que cogitava fazer uma greve de fome. Não fez, e tanto ele como Teixeira alimentam-se bem até hoje.
Recordar é viver. Em plena ditadura, o presidente Ernesto Geisel foi confrontado por uma greve de fome de 33 presos políticos da Ilha Grande que reivindicavam transferência para o continente. Quando o jejum estava no 14º dia, Geisel capitulou: "Ceder a uma greve de fome é duro, mas eu prefiro ceder".

terça-feira, 9 de março de 2010

Corrupção generalizada

É a confirmação empírica da antiga piada:

"Os políticos brasileiros são os mais católicos do mundo: não assinam nada sem levar um terço."

Mas sabe o que me deixa mais triste? É ver que parte considerável da população parece não se dar conta da "corrupção nossa de cada dia".

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São Paulo, terça-feira, 9 de março de 2010

Editoriais

O custo da corrupção

Estudo da PF indica que superfaturamento em obras públicas consome quase 30% dos recursos e é prática generalizada 

NÃO É INCOMUM QUE autoridades brasileiras rechacem os rankings de corrupção divulgados anualmente pela Transparência Internacional por considerá-los imprecisos e falaciosos.
Além do fato de o país aparecer em posições constrangedoras, os critérios adotados pela organização não governamental são depreciados por seu aspecto subjetivo -não se trata de medir a corrupção, mas de aferir como os diversos governos são avaliados neste quesito por analistas e homens de negócios.
No último sábado, relatório da Polícia Federal, obtido pela Folha, conferiu alguma objetividade àquilo que nos rankings é apenas percepção. Levantamento feito pelo Serviço de Perícias de Engenharia e Meio Ambiente da PF apontou superfaturamento de cerca de R$ 700 milhões em 303 obras inspecionadas.
O trabalho conclui que de cada R$ 100 desembolsados pelo poder público, R$ 29, em média, foram superfaturados. Ainda que se levem em conta algumas ressalvas à inspeção, apontadas por empresas, e o caráter por ora inconcluso da investigação, o resultado não deixa dúvida quanto à gravidade do fenômeno.
Pelos quatro cantos do país, da esfera federal à municipal, cerca de 30% do dinheiro do contribuinte aplicado em prédios, obras viárias, sistemas de esgoto, portos e aeroportos pode escoar pelo ralo da corrupção.
Em valores absolutos, Rio de Janeiro, Goiás e São Paulo, nesta ordem, lideram este novo ranking da dissipação de recursos públicos, com um total de R$ 418 milhões. Embora tenham sido periciadas no ano passado, as obras em questão datam de períodos variados. Há contratos assinados de 1994 a 2009.
Nas palavras do diretor técnico-científico da PF, o estudo evidencia "uma prática de sobrepreço reinante", que irriga "diversos gabinetes e setores".
Note-se que o trabalho refere-se apenas a uma modalidade de malversação. Além do superfaturamento, há, como se sabe, uma miríade de artifícios criada pela imaginação de políticos e governantes com o intuito de alimentar suas campanhas e contas bancárias. Casos de fraudes em concorrências, propinas, caixa dois, comissões e pagamentos por tráfico de influência são corriqueiros no noticiário político, por vezes demasiadamente próximo da crônica policial.
A corrupção não é um mal que aflige apenas a sociedade brasileira, mas é inegável que aqui os desvios são incentivados pela cultura da desinformação, do compadrio e da impunidade. Não será com instâncias de fiscalização ornamentais e casos encerrados sem punição que esse quadro será modificado.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0903201001.htm