segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Higienismo no Centro

Invertendo o famoso adágio: "Destroy it, and they will leave."

Já não tinha dado certo com os banheiros públicos: o do Anhangabaú está deplorável, e fez de toda a região um banheiro a céu aberto.

Até quando durará o encantamento da população por um slogan que simplesmente não reflete o estado da cidade?

* * *


São Paulo, sábado, 6 de fevereiro de 2010


FERNANDO DE BARROS E SILVA

Cidade limpa?

SÃO PAULO - Aumentou o número de mendigos nas ruas do centro de São Paulo. É a sensação generalizada de quem mora ou trabalha na região. Provavelmente, isso está ligado à atuação da Secretaria de Assistência Social, título algo irônico diante da política conduzida pela pasta da vice-prefeita de Gilberto Kassab, Alda Marco Antonio.
A gestão Alda-Kassab está fechando os albergues no centro. Foram desativadas desde 2008 duas grandes unidades que abrigavam a população de rua -o Jacareí e o Glicério, com 700 leitos, mas que na prática acolhiam mais gente. Ainda está previsto o fim de pelo menos duas outras unidades, o que significará a perda de novas 500 vagas.
Há uma orientação clara da prefeitura para transferir os esfarrapados para regiões afastadas, sobretudo para a periferia da zona leste. A medida tem se revelado um tanto desastrada. Entidades que trabalham na assistência aos desvalidos acusam Kassab de promover uma política de higienização no centro. Mas talvez nem isso ela seria, uma vez que o efeito é o contrário. O que temos é uma espécie de higienização tabajara. Incapaz de lidar com o drama da população de rua, a prefeitura parece apenas tirar tudo de quem já não tinha nada.
Conforme relatos a este colunista, a própria Polícia Militar está contrariada com o agravamento do problema. A PM acaba sendo convocada para tarefas que não lhe são intrínsecas diante da falência das demais políticas públicas.
Nos arredores do largo do Arouche e da praça da República, ao longo das avenidas Duque de Caxias e São João nota-se sem muito esforço que cresceu a massa de miseráveis largados à própria sorte. Mas nada se compara à degradação disponível sob o Minhocão. Escuro, úmido, poluído, barulhento, fedido, o terrível viaduto se tornou uma espécie de albergue ao ar livre da vida cronicamente inviável. É uma imagem que só um abandono do tamanho deste que as elites paulistanas promoveram no centro da cidade seria capaz de proporcionar.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0602201003.htm

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