quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

"Big Brother" eleitoral



São Paulo, quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010


FERNANDO DE BARROS E SILVA

"Big Brother" eleitoral

SÃO PAULO - É preciso confessar logo de início: este colunista nunca acompanhou o "Big Brother Brasil". Não seria capaz de citar o nome ou identificar um único integrante do parque de diversões orwelliano da Rede Globo, atualmente em sua 10ª edição. Ok, "cada um na sua", mas ainda dispomos de maneiras menos ofensivas (e inofensivas) de perder tempo e embromar a vida.
Num país de pouca escola, o "BBB" atua no imaginário popular como veículo de ascensão social e fama instantâneas. Tornou-se uma usina de reciclagem de celebridades para o submundo do showbizz.
À distância, o "BBB" parece um circo behaviorista. Nele, Pedro Bial vai se superando como animador. É uma espécie de tiozinho juvenil, de Orlando Orfei em versão pop. Cada piada infame que sai da sua boca é uma chicotada a estalar na tela.
Mas por que o "BBB" agora? Voltou a circular pela internet uma sugestão atribuída a Rita Lee. Diante da reconhecida inutilidade do programa, a cantora defende que, no lugar dos anônimos, os candidatos à Presidência sejam trancados numa casa para debater seus respectivos programas e ideias para o país.
Segundo a cantora, não seriam permitidos marqueteiros, assessores ou discursos ensaiados. Nus na "Casa dos Políticos", os presidenciáveis acabariam revelando o seu verdadeiro caráter. O público votaria a cada semana, eliminando um deles. No final, o sobrevivente seria nomeado presidente da República.
Trata-se, é óbvio, de um deboche. Bom demais para ser viável. A sugestão, aliás, parece nascer mais da insatisfação com o artificialismo das campanhas do que como simples reação à estupidez do "BBB".
Além de ir contra o jogo de cena da política, o engessamento dos debates, a ditadura das pesquisas e as manobras do marketing, o devaneio de Rita Lee toca ainda em outro ponto. Ele exprime o desejo de submeter os candidatos a situações de desconforto, até o limite da tortura física e/ou psicológica, como se o eleitor devesse extrair a fórceps algo neles oculto ou dissimulado. Não é má metáfora para a democracia.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0302201003.htm

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