terça-feira, 27 de maio de 2008

DADIA

Mais uma vez descubro que não estou sozinho em um de meus desajustes psicológicos!

É reconfortante saber que essa minha desordem tem nome: ADHD. E que o artigo advoga reconhecimento do problema e tratamento, e não a demissão daqueles com o problema (ou a não-contratação), já que essas pessoas não deixam de superar outras em determinadas habilidades por conta de sua condição.

Hoje caiu a rede aqui do escritório por 7 horas, e eu consegui arrumar minha mesa (jogando centenas de papéis fora e classificando e arquivando outros) pela primeira vez em meses!

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Adult ADHD 'linked to lost work'

Commuters on their way to work
The study estimates 3% of workers have ADHD
Adults with attention deficit hyperactivity disorder do 22 fewer days of work per year than people who do not have the condition, a study says.

The research, which looked at 7,000 workers in 10 countries, found an average of 3.5% had ADHD.

Writing in Occupational and Environmental Medicine, the Dutch team said workplace screening should be used to pick up people with the problem.

A UK expert backed the idea, but warned they should not be stigmatised.

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terça-feira, 20 de maio de 2008

Prioridades

Notícia mais lida na Folha Online de hoje, neste exato momento:

Sabrina Sato desiste de tirar pinta da testa
(não, não vou colocar o link!)

Um povo informado é um povo livre. Estamos bem.

Psych

Dawkins tem razão: a religião já não é mais politicamente neutra*, ela está voltando a invadir arenas antes seculares. É preciso resistir!

* OK, historicamente nunca foi politicamente neutra mas, nas últimas décadas, o princípio da separação Igreja--Estado (no Ocidente -- leia-se "Igreja Católica", portanto) vinha ganhando mais força, inclusive por determinação do próprio Vaticano. Talvez por isso mesmo (pura especulação minha) outras denominações religiosas vêm ultimamente lutando por maior espaço no Estado, seja por meio da participação na política partidária (a exemplo dos vereadores e deputados não apenas evangélicos na fé, mas na plataforma política, campanha e base eleitoral), seja, como mostra a reportagem abaixo, na máquina estatal em si.

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São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2008

Associação quer espiritualizar o Judiciário

A recém-criada Associação Jurídico-Espírita de SP defende, entre outros pontos, o uso de cartas psicografadas nos tribunais

Além de juízes, entidade reúne promotores, delegados e advogados; "o Estado é laico, mas as pessoas não", diz o promotor Tiago Essado

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles defendem um Judiciário mais sensível às questões humanitárias, dizem que a maior lei é a de Deus, vêem na condenação penal e na própria função uma missão de vida, defendem o uso de cartas psicografadas nos tribunais e estimulam, nas audiências, a fraternidade entre vítimas e criminosos.
Discutir temas polêmicos, como o aborto, a eutanásia, o casamento gay, a pena de morte e as pesquisas de células-tronco, condenados pelas religiões cristãs, são alguns dos objetivos da recém-criada AJE (Associação Jurídico-Espírita) de São Paulo, que teve anteontem a primeira reunião deliberativa, e já existe no RS e no ES.
"O Estado é laico, mas as pessoas não. Não tem como dissociar e dizer: vou usar a minha fé só dentro do centro espírita", afirma o promotor Tiago Essado, um dos fundadores da AJE.
Embalada na esteira do crescimento da Abrame (Associação Brasileira de Magistrados Espíritas), que hoje reúne 700 juízes, desembargadores e ministros de tribunais superiores, e que aceita apenas togados como membros, a AJE surge com uma proposta de abranger todos os operadores do direito e já conta com 200 associados ou interessados, entre promotores, delegados de polícia e advogados, além de juízes.
Embora juristas não vejam ilegalidade no fato de juízes se reunirem em associações religiosas, a questão levanta discussões como:
1) o laicismo, princípio que prega o distanciamento do Estado da religião;
2) a contaminação de decisões por valores ou crenças de caráter religioso ou pessoal;
3) e o caráter científico do direito positivo, que deve se basear em verdades comprovadas, e não, como a religião, em verdades reveladas.
Além dos tribunais superiores (entre outros, o vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça, Francisco Cesar Asfor Rocha, é um dos integrantes da diretoria da Abrame), a convicção espírita permeou também o Conselho Nacional de Justiça, o órgão de controle externo do Judiciário.
"Não enxergaria nenhuma diferença entre uma declaração feita por mim ou por você e uma declaração mediúnica, que foi psicografada por alguém", diz Alexandre Azevedo, juiz-auxiliar da presidência do CNJ, designado pelo conselho para falar a respeito das associações.
A Folha levantou quatro decisões em que cartas psicografadas, supostamente atribuídas às vítimas do crime, foram usadas como provas para inocentar réus acusados de homicídio.
Segundo Zalmino Zimmermann, juiz federal aposentado e presidente da Abrame, o propósito da associação "é questionar os poderes constituídos para que o direito e a Justiça sofram mais de perto a influência de espiritualizar".
"O objetivo geral é a espiritualização e a humanização do direito e da Justiça", diz.
Para o juiz de direito Jaime Martins Filho, a escolha de sua profissão não foi uma casualidade e, por isso, a exerce como uma missão de vida.
"Não acredito em acaso, mas numa ordem que rege o universo, acredito em leis universais."
E ele explica "a finalidade religiosa da associação".
"Dentro da liberdade de religião, são os juízes aplicando princípios religiosos no seu dia-a-dia. Temos um foco que é a magistratura, procurar trabalhar esses valores espirituais que estão relacionados com a própria religião dentro da magistratura", diz Martins Filho.


Colaborou ROGÉRIO PAGNAN, da Reportagem Local

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1905200801.htm

Juristas vêem "deturpação" do Estado democrático de Direito

DA REPORTAGEM LOCAL

Juristas e teóricos do direito consultados pela Folha dizem ver uma "deturpação" do Estado democrático de Direito na medida em que decisões judiciais são fundamentadas ou contaminadas por valores ou critérios religiosos.
Para Dalmo de Abreu Dallari, professor aposentado da Faculdade de Direito da USP, e autor dos livros "O Poder dos Juízes" e "O Futuro do Estado", "o uso de psicografia é claramente ilegal".
"Não há o reconhecimento disso no sistema jurídico brasileiro. Se isso for a prova o julgamento é nulo. Não pode", diz.
Um dos maiores teóricos do direito brasileiro, Marcelo Neves, professor de teoria do Estado da USP e de teoria do direito do doutorado da PUC, diz haver uma "descaracterização dos princípios do Estado constitucional moderno" na aplicação de valores espíritas no dia-a-dia do Poder Judiciário.
"Não podem se definir posições sobre casos jurídicos a partir de uma percepção religiosa do mundo. A partir do momento que esses magistrados não conseguem se desvincular é um problema gravíssimo para o Estado de Direito, que parte do princípio de ser um Estado laico e que posições religiosas diversas não podem ser determinantes no processo de decisão jurisdicional", afirma Marcelo Neves.

Cidadania
Para Dallari, a associação de juízes espíritas é "exercício de cidadania". "Os juízes têm plena liberdade religiosa como todos os demais cidadãos, como têm o direito de associação."
Mas, segundo o jurista, "se isso interferir no desempenho da função jurisdicional, aí sim se torna ilegal e ofende a laicidade". "Nunca tive notícia de juízes espíritas."
Segundo Neves, o uso de psicografia nos tribunais "é um perigo" e só tem significado nos campos religioso e pessoal.
"Isso não pode passar para o plano jurídico porque realmente é uma interferência destrutiva da consistência do Estado democrático de Direito."
"Não existe amparo legal na utilização do sobrenatural", completa Dallari.
"Escorar uma decisão com base numa prova psicografada não tem ressonância no mundo jurídico. É indevida uma decisão que se embasa na psicografia, que cientificamente não é comprovada", diz Walter Nunes da Silva Júnior, presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil).
Livros como "A Filosofia Penal dos Espíritas" e "A Psicografia ante os Tribuanais" já foram lançados no meio jurídico-espírita. (VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1905200802.htm

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Tolerância Zero

Curto e preciso. Resume com notável simplicidade textos acadêmicos belíssimos sobre o mesmo assunto, do trabalho seminal Broken Windows, de James Wilson e George Kelling, até o mais recente Disorder in Urban Neighborhoods -- Does It Lead to Crime?, de Robert Sampson e Stephen Raudenbush, duas belíssimas leituras, curtas (não tanto quanto a coluna do Ruy Castro na Folha de S.Paulo de hoje), mas bastante mais densas e acadêmicas.

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São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2008

RUY CASTRO

Cidadãos com cidadania

RIO DE JANEIRO -
Um chiclete ou toco de cigarro jogado na rua atrai outro chiclete ou toco de cigarro. Uma garrafa pet atirada na pista pela janela de um carro induz a que outro cretino, passando de carro, atire outra garrafa. Um monte de lixo não recolhido na calçada leva o indivíduo a despejar mais lixo na calçada, achando que o ponto está liberado para vazadouro.
Uma faixa com os dizeres "Maricotinha, te amo" ou "Obrigado a santo Agapito pela graça alcançada", estendida de poste a poste, de um lado a outro da rua, estimula que alguém pendure outras faixas apregoando "Vendem-se túmulos" ou "Jazigos abaixo do custo", como já vi perto de cemitérios, penduradas de árvore a árvore.
Uma tabuleta na porta de um açougue prometendo "Coxão mole a xis reais o quilo", empatando metade da calçada, é um convite a que farmácias, lanchonetes, locadoras de vídeo etc. atravanquem o resto da via pública com seus anúncios. Um carro estacionado com duas rodas no passeio está a um passo de botar as outras duas rodas no passeio e interrompê-lo de vez.
Uma pichação na fachada de um prédio leva outro pichador a emporcalhar o prédio ao lado ou a tentar competir com o primeiro, pichando os andares mais altos. Um grafiteiro autorizado a cobrir uma parede com seus horrendos desenhos estará apenas se prevalecendo da coação que sua categoria impõe ao poder público -ou este libera o grafite, por ser uma "arte", ou os grafiteiros vão na marra e pintam do mesmo jeito.
Tanta imundície revela abandono e é uma porta aberta para a criminalidade -bandidos sentem-se bem em meio a ela. Algumas prefeituras fazem sua parte, mas os cidadãos precisam ajudar, exercendo a cidadania. Embora pertença a todos, o espaço público não é a casa-da-mãe-joana.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1905200805.htm

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Incrível como a idéia de "Tolerância Zero" foi desvirtuada aqui no Brasil, dando a entender a idéia de um maior rigor penal com os crimes e suspeitos de sempre. Não posso confirmar a informação, mas ouvi dizer que foi do Lula, muito antes de assumir a Presidência, a frase "Para se fazer uma revolução no País, basta o cumprimento de nossa Constituição". Concordo. Comecemos, então, por partes: se fôssemos tentar garantir o cumprimento integral do nosso Código Nacional de Trânsito, alguém tem dúvidas de que o governante de plantão cairia, ou se tornaria inelegível nos próximos pleitos?

Eu costumo me perguntar se faz sentido continuarmos a aprovar, diariamente, mais e mais leis das quais não conseguimos, nem de perto, garantir seu cumprimento. Uma nova lei, seja ela o endurecimento da punição de uma conduta, ou a tipificação de uma nova infração ou crime, sempre traz um conforto psicológico para o legislador (fiz a minha parte) e para a população (que espera que a conduta reprovada cesse), até que vire mais uma "lei que não pega", essa figura bizarra mas muito comum na sociedade brasileira.

(suspiro...)

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Opressão sob a perspectiva do oprimido

Digno de um post, quase um ano depois do último.

Israelense se disfarça de palestina e relata experiência [BBC-Brasil]

Lembrou-me o livro "Cabeça de Turco" -- que ainda não li, mas dei de presente para minha irmã, que mora em Berlim. Trata-se de um alemão que se disfarçou de turco, e sofreu na pele a intolerância alemã a esse povo.

(via De Olho no Fato)