quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ruth Cardoso, editorial da Folha



São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008


Ruth Cardoso

O TRATAMENTO de "primeira-dama", como se sabe, desagradava a Ruth Cardoso. Durante os oito anos do governo Fernando Henrique, os meios de comunicação consolidaram, desse modo, a praxe de utilizar apenas o corriqueiro "dona Ruth" para referir-se a ela. Depois de seu súbito falecimento, nesta terça-feira, talvez não seja impróprio, entretanto, recuperar a qualificação que sua simplicidade pessoal, e sua ojeriza pelo oficialismo de Brasília, faziam questão de rejeitar.
Ruth Cardoso foi de fato, num sentido muito próprio do termo, a "primeira-dama" do Brasil. Numa época tão propensa à vulgaridade midiática e ao desrespeito com a opinião pública, ela deixa um exemplo raro de elegância sem afetação, de naturalidade sem demagogia, e de firmeza sem arrogância.
Em diversos países do mundo, as mais admiradas "primeiras-damas", para usar a palavra em seu sentido convencional, procuraram apenas adequar-se a uma atitude de discrição. Uma escolha desse tipo não seria concebível para alguém com a trajetória intelectual e política de Ruth Cardoso.
Ao contrário, foi marcante seu papel durante o governo FHC. A criação da Comunidade Solidária -base dos programas de inclusão social em vigor atualmente- foi um dos feitos administrativos mais fecundos daquele período.
Ruth Cardoso "foi, talvez, o único consenso do partido", disse o peessedebista Tasso Jereissati ao saber de seu falecimento. A frase, a que não falta uma saudável dose de autocrítica, mereceria ser expandida: o valor de sua pessoa, o reconhecimento por sua atuação, e a tristeza por seu falecimento, são hoje um consenso no país inteiro.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2606200802.htm

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