domingo, 22 de janeiro de 2012

piauienses: A maldição do petróleo

Marcel Mochet/AFP/Getty Images

Uma plataforma de petróleo no mar noroeguês

O que a Noruega tem a ensinar para o Brasil:

“Desde a primeira descoberta, sempre tratamos o petróleo como problema”, disse Øystein Kristiansen na sede da Diretoria Norueguesa de Petróleo, na cidade de Stavanger. […] Øystein Kristiansen é diretor de projetos internacionais da Diretoria Norueguesa de Petróleo. Começou a aprender português porque uma de suas funções é assessorar o governo de Moçambique, que em outubro anunciou a descoberta de expressivas reservas de gás em alto-mar. [...] Seu objetivo é ajudar Moçambique a escapar da “doença holandesa”. Criada pela revista The Economist, em 1977, a expressão se refere ao súbito desequilíbrio, e piora geral, de uma economia nacional quando ela é beneficiada pela descoberta de um recurso natural valioso.

Mas aparentemente nos recusamos a aprender:

E o projeto do coração de Farouk é uma fundação criada pelo governo para transferir conhecimento e treinar técnicos do setor energético em outros países. Duas vezes por ano, essa fundação recebe em Stavanger quarenta alunos para um curso de gestão de recursos com duração de oito semanas. O grupo de 2011 incluiu alunos de 24 países. Há engenheiros, geólogos, economistas, contadores, advogados, todos funcionários públicos em seu país ou vinculados às companhias nacionais de petróleo. [...] A Petrobras foi várias vezes convidada a enviar técnicos para o curso, mas nunca participou.

O iraquiano que foi para o frio
Como Farouk al-Kasim venceu a doença holandesa e desenvolveu o modelo norueguês de gerir as riquezas petrolíferas sem desequilibrar a economia
Revista Piauí | dez/2011 | por Branca Vianna

Recomendo também a ótima reportagem do programa Planet Money da rádio pública americana (NPR):

Norway Has Advice For Libya
(áudio, em inglês, 21:44)

piauienses: Beatriz Sarlo

Ela já esteve uma vez com o ex-presidente brasileiro, quando recebeu a medalha de Ordem do Mérito Cultural. Quebrou o protocolo, que a mandava receber a medalha e voltar a sentar. Pois ela atravessou o palco para abraçar Lula. “No ano que vem, quando o senhor ficar desempregado, vá para a Argentina que daremos um jeito de elegê-lo”, disse. Lula respondeu-lhe com um abraço. “Naquele momento, senti o poder físico do carisma”, relembrou.

Comigo não
Beatriz Sarlo, a voz do contra na Argentina
Revista Piauí
| dez/2011 | por Carol Pires
(original em espanhol)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Fundamentos do ateísmo

Hélio Schwartsman | Folha de S. Paulo | 10 de dezembro de 2011

SÃO PAULO - Já que dois amigos meus, Ives Gandra Martins e Daniel Sottomaior, se engalfinharam em polêmica acerca de um suposto fundamentalismo ateu, aproveito para meter o bedelho nessa intrigante questão. Como não poderia deixar de ser, minha posição é bem mais próxima da de Daniel que da de Ives.

Não se pode chamar de fundamentalista quem exige provas antes de crer. Aqui, o alcance do ceticismo é dado de antemão: a dúvida vai até o surgimento de evidências fortes, as quais, em 2.000 anos de cristianismo, ainda não apareceram.

Ao contrário, dogmas vão contra tudo o que sabemos sobre o mundo. Virgens não costumam dar à luz e pessoas não saem por aí ressuscitando. Em contextos normais, um homem que veste saias e proclama transformar vinho em sangue seria internado. Quando se trata de religião, porém, aceitamos violações à física e à lógica. Por quê?

Ou Deus existe e espera de nós atitudes exóticas -e inconsistentes de uma fé para outra-, ou o problema está em nós, mais especificamente em nossos cérebros, que fazem coisas esquisitas no modo religioso.

Fico com a segunda hipótese. Corrobora-a um número crescente de cientistas que descrevem a religiosidade ou sua ausência como estilos cognitivos diversos. Ateus privilegiam a ciência e a lógica, ao passo que crentes dão mais ênfase a suas intuições, que estão sempre a buscar padrões e a criar agentes.

Posta nesses termos, fé e ceticismo se tornam um amálgama de influências genéticas e culturais difícil de destrinchar -e de modificar.

Como bom ateu liberal, aplaudo avanços no secularismo, já que contrabalançam o lado exclusivista das religiões, que não raro degenera em violência e obscurantismo. Mas, ao contrário de colegas mais veementes, acho que a religião, a exemplo do que se dá com filatelia, literatura e sexo, pode, se bem usada, ser fonte legítima de bem-estar e prazer.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/13913-fundamentos-do-ateismo.shtml