Nenhuma surpresa para quem leu a excelente reportagem da Piauí sobre os bastidores da copa sul-africana:
São Paulo, domingo, 24 de julho de 2011
FERNANDO DE BARROS E SILVA
A farra do Itaquerão
SÃO PAULO — Dos cofres do Estado não sairá nenhum centavo para construir um estádio particular. Geraldo Alckmin insistiu durante meses nessa tecla. Ele gosta de cultivar a imagem do gestor franciscano.
Afinal, diante de tantas prioridades, seria imoral enterrar dinheiro público no Itaquerão. O frade tucano de Pindamonhangaba precisa agora mastigar seu discurso.
Quem nos comunicou que o governo vai entrar com R$ 70 milhões para viabilizar a abertura da Copa no futuro estádio do Corinthians foi um diretor da Odebrecht. Onde fomos parar: o empreiteiro anuncia à população que a obra privada terá mais dinheiro público, justamente daquele que havia prometido não gastá-lo. Só faltou dizer que a fiscalização ficará a cargo do Dnit.
Tudo isso se deu dias atrás, durante a cerimônia em que o prefeito Kassab oficializou a destinação de R$ 420 milhões para a arena.
Convocado a explicar a reviravolta do governo, o secretário Emanuel Fernandes disse que o dinheiro é só um "apoio logístico" para montar a estrutura provisória com 20 mil assentos. A verba, ele disse, não seria para o Corinthians, mas para a Copa... E daí? Não é dinheiro público?
O projeto básico do Itaquerão, com 48 mil lugares, está orçado em R$ 820 milhões. O BNDES vai emprestar R$ 400 milhões. O restante será financiado pelos CIDs (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento) —nome pomposo para designar o dinheiro que as empresas deixarão de pagar em impostos à prefeitura. Perto de Kassab, Alckmin parece mesmo são Francisco.
Resumida a seu cerne, a novela ficou assim: Lula indicou a empreiteira, a Odebrecht fixou seu preço, Kassab e Alckmin (além dos juros subsidiados do BNDES) vão pagar a conta com o dinheiro dos contribuintes. É uma PPP tipicamente brasileira. Apesar da gastança de meio bilhão, a cidade foi humilhada pela CBF e pela Fifa e ficará fora da Copa das Confederações, em 2013. Mas isso é só a cereja do bolo dessa operação de lesa-cidadão.
(via Folha de S.Paulo)