"Certamente há homens que imaginam que vamos subir no ringue e começar a nos arranhar e morder", diverte-se a loiríssima norueguesa Ingrid Egner, vice-campeã mundial de boxe amador que, quando não está treinando ou competindo, conclui seu doutorado em biologia molecular na Universidade de Oslo.
Damas, ao ringue!
Cai a última trincheira masculina do olimpismo: É a hora das mulheres se enfrentarem no boxe.
DORRIT HARAZIM | Revista Piauí | Edição nº 36
http://www.revistapiaui.com.br/edicao_36/artigo_1122/Damas_ao_ringue.aspx
No mês passado o COI aprovou, ainda que em votação secreta, a inclusão do boxe feminino entre os esportes olímpicos. Era o único esporte olímpico com participação feminina ainda vedada.
No artigo, informações importantes para aqueles que se preocupam com a saúde das mulheres acima da dos demais esportistas ("A modalidade tem o mesmo índice de lesões na cabeça do que a patinação no gelo"; "No último campeonato mundial feminino, realizado na China no ano passado, nenhuma das 250 boxeadoras de 52 países sofreu qualquer lesão" etc.). No Brasil, por exemplo, toda boxeadora tem que fornecer atestado negativo de gravidez antes de cada competição.
Mas o avanço da igualdade entre os gêneros no esporte, na minha opinião, ainda é tímida. A barreira ainda a ser removida, na minha opinião, é o da separação dos atletas por sexo. "Mas a estrutura física dos dois sexos é diferente!", podem argumentar. E daí? Diz-se que os negros têm (em média) muito mais força muscular que os orientais. É motivo, portanto, para se separar boxeadores por cor da pele? Não, cada país deveria selecionar os melhores entre os melhores, independente de cor, sexo ou idade.
Algumas modalidades ainda apresentam diferenças estatisticamente significantes entre os recordistas do sexo masculino e do feminino. Mas essa diferença vem diminuindo e, suponho, diminuiria ainda mais com as competições integradas pelos dois gêneros. Mas por que não sequer considerar a integração incremental, modalidade por modalidade? Não vejo argumento que sustente, por exemplo, a manutenção da separação por gênero no tiro ou no arco e flecha.
Confesso: eu não gostaria de ser o primeiro boxeador a deferir o primeiro soco numa boxeadora. Mas esse mesmo soco deverá nocautear, na verdade, um paradigma que as gerações futuras quiçá enxerguem como tão absurdo como hoje encaramos a escravidão, business as usual de séculos atrás.