terça-feira, 19 de dezembro de 2006

sobre mérito e bom senso

To:
Renan Calheiros (PMDB-AL),
Ney Suassuna (PMDB-PB),
Ideli Salvatti (PT-SC),
Demóstenes Torres (PFL-GO),
Tião Viana (PT-AC),
Efraim Moraes (PFL-PB),
Aldo Rebelo (PCdoB-SP),
Wilson Santiago (PMDB-PB),
Rodrigo Maia (PFL-RJ),
Miro Teixeira (PDT-RJ),
José Múcio Monteiro (PTB-PE),
Inácio Arruda (PCdoB-CE),
Arlindo Chinaglia (PT-SP),
José Carlos Aleluia (PFL-BA),
Luciano Castro (PL-RR)
,
Bismarck Maia (PSDB-CE)
,
Ciro Nogueira (PP-PI)
,
Inocêncio Oliveira (PL-PE)
,
Givaldo Carimbão (PSB-AL)
,
Mário Heringer (PDT-MG)
,
Jorge Alberto (PMDB-SE)
,
Sandro Mabel (PL-GO)
,
Colbert Martins (PPS-BA)
,
Carlos Willian (PTC-MG)
,
Sandra Rosado (PSB-RN)
,
Benedito de Lira (PP-AL)

Sent: Dec 18, 2006 9:00 AM
Subject: sobre mérito e bom senso


Prezados Deputados e Senadores,

Pouco importa, neste momento, que o Congresso brasileiro é um dos que pior paga seus governantes em toda a América Latina -- atrás apenas do Peru e de alguns países nanicos.

Pouco importa, também, que vocês estão sem reajuste salarial desde 1995 -- eu nunca tive reajuste salarial, e meu poder aquisitivo vem diminuindo há décadas...

Pouco importa, ainda, que o Congresso está cortando mais de mil cargos de natureza especial (CNE), gerando economia de recursos -- se os cargos eram necessários, isso poderá prejudicar o andamento dos trabalhos; se não era, por que não foi cortado muito antes?!?!?! (desde quando eles existem?)

O fato é que vocês escolheram o pior momento possível para o aumento de mais de 91% dos próprios salários. Aliás, o fato de aumentar o salário dos atuais deputados já é uma aberração por si. Para não legislarem em causa própria, o mínimo que poderia ter sido feito era ter feito o aumento valer apenas para a próxima legislatura, com início em 2011 (não em 2007, pois muitos dos que estão hoje na casa já sabem que permanecerão em 2007, pois foram reeleitos).

O Congresso nunca esteve num descrédito tão grande com a população brasileira. Não importa se a casa já foi mais corrupta no passado, o fato é que o aumento brutal das denúncias de corrupção nos últimos anos, com ênfase neste de 2006, fez com que houvesse uma percepção generalizada bastante negativa a respeito dos padrões éticos e morais do Congresso Nacional. A sensação de que "todo político é corrupto" nunca foi tão forte nos brasileiros, por mais exagerada e injusta (com os bons políticos) que ela seja. Não importa se alguns dos casos foram frutos de maior investigação e maior transparência: isso não é adequadamente percebido pela opinião pública, e este é exatamente o ponto desta mensagem: a "casa de todos os brasileiros" está ignorando o... POVO BRASILEIRO!

Não, não sou daqueles que acha que só após resolvermos "todos os problemas sociais do País" é que podemos adequar os níveis salariais no Estado. Num país com tantos problemas, não podemos esperar a solução de alguns para começarmos a pensar na solução de outros. Também não acho que o salário atual de vocês é condizente com o nível de responsabilidade que vocês têm nem com a nobreza (no sentido de ser "digno de honra") da profissão de parlamentar. Sei que até gerente de banco chega a ganhar mais do que isso. Aliás, sempre defendi um salário mais adequado: quer distorção maior do que o presidente desta República de 180 milhões de habitantes ganhar menos do que um programador ASP (de Internet) em meio de carreira?

Mas não é o mérito que estou questionando. É o momento em que se escolheu tomar esta decisão (crise moral da instituição), a forma (legislando em causa própria, para a atual legislatura, e a da já eleita e conhecida, muitos permanecendo) e a intensidade (um aumento colossal de uma só vez -- ainda que vocês tenham seguido direitinho os preceitos de Maquiavel, que diz que "a maldade deve ser feita de uma só vez; a bondade, aos poucos").

Passo, portanto, da posição de defensor do mérito para a posição similar aos demais 180 milhões de brasileiros indignados com tal ato. O troco virá nas próximas eleições.

Dizem que o brasileiro tem a memória curta. Mas sua paciência, que antes parecia não ter fim, está mais curta ainda. Aguardem.

Atenciosamente,
Fabio Storino
São Paulo, SP

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