quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Do fundo do baú

Outro dia estava na casa dos meus pais, tentando arrumar (parte d)a bagunça que deixei ao me mudar de lá. Mais especificamente, estava jogando fora todos os textos acumulados da minha graduação, 99,9% dos quais eu provavelmente não iria mais ler (nunca diga nunca). Bem, lá acabei achando uma redação muito estranha, que devo ter escrito entre 1992 e 1993, portanto, há uns 14 anos!!! Divirtam-se (e se alguém entender, me explica!):

* * *

O MENINO II — A MISSÃO: MATAR MAMÃE

Fechou os olhos para prender as lágrimas. Envolveu o pai num apertado abraço. Quisera naquele momento usar o poder da telepatia, avisar seu pai da verdadeira pessoa com quem ele se casou. Não tinha forças para dizer nada, estava muito abalado.

— Se foi aquele seu amigo Júlio... diga, filho, ele andou te batendo de novo?!

— N-n-não... papai. — diz ele, soluçando.

A mãe desce as escadas. Trazia na mão um comprimido de Aspirina®. Ao esticar a mão para oferecê-lo ao menino, ele reagiu com um grande tapa, fazendo o remédio atravessar a sala num pequeno mas tenso instante. Ela preparava-se para uma grande bronca, armava-se numa expressão facial repressora, quando...

— Você já havia assistido a esse filme antes, mamãe? — Dispara a inesperada pergunta.

— Er... não, claro que não! P-por que eu teria assistido outra vez? E não disfarce. Que estória é essa de dar um tapa na minha mão? Está louco?!

Era óbvio que já tinha assistido ao filme! Senão não teria me contado sobre a cena do passaporte, não teria perdido os quinze primeiros minutos do filme, ou teria esperado o começo da próxima sessão para vê-lo.

— Não estou louco não, pô! Estou é furioso! Furioso! — diz ele, correndo em direção à porta. — Vou para a casa do Júlio!

Aspirina® é uma Marca Registrada da Bayer™ Produtos Químicos do Brasil S.A.

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