terça-feira, 26 de julho de 2011

Operação Lesa-Cidadão

Nenhuma surpresa para quem leu a excelente reportagem da Piauí sobre os bastidores da copa sul-africana:



São Paulo, domingo, 24 de julho de 2011

FERNANDO DE BARROS E SILVA

A farra do Itaquerão

SÃO PAULO — Dos cofres do Estado não sairá nenhum centavo para construir um estádio particular. Geraldo Alckmin insistiu durante meses nessa tecla. Ele gosta de cultivar a imagem do gestor franciscano.
Afinal, diante de tantas prioridades, seria imoral enterrar dinheiro público no Itaquerão. O frade tucano de Pindamonhangaba precisa agora mastigar seu discurso.
Quem nos comunicou que o governo vai entrar com R$ 70 milhões para viabilizar a abertura da Copa no futuro estádio do Corinthians foi um diretor da Odebrecht. Onde fomos parar: o empreiteiro anuncia à população que a obra privada terá mais dinheiro público, justamente daquele que havia prometido não gastá-lo. Só faltou dizer que a fiscalização ficará a cargo do Dnit.
Tudo isso se deu dias atrás, durante a cerimônia em que o prefeito Kassab oficializou a destinação de R$ 420 milhões para a arena.
Convocado a explicar a reviravolta do governo, o secretário Emanuel Fernandes disse que o dinheiro é só um "apoio logístico" para montar a estrutura provisória com 20 mil assentos. A verba, ele disse, não seria para o Corinthians, mas para a Copa... E daí? Não é dinheiro público?
O projeto básico do Itaquerão, com 48 mil lugares, está orçado em R$ 820 milhões. O BNDES vai emprestar R$ 400 milhões. O restante será financiado pelos CIDs (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento) —nome pomposo para designar o dinheiro que as empresas deixarão de pagar em impostos à prefeitura. Perto de Kassab, Alckmin parece mesmo são Francisco.
Resumida a seu cerne, a novela ficou assim: Lula indicou a empreiteira, a Odebrecht fixou seu preço, Kassab e Alckmin (além dos juros subsidiados do BNDES) vão pagar a conta com o dinheiro dos contribuintes. É uma PPP tipicamente brasileira. Apesar da gastança de meio bilhão, a cidade foi humilhada pela CBF e pela Fifa e ficará fora da Copa das Confederações, em 2013. Mas isso é só a cereja do bolo dessa operação de lesa-cidadão.

(via Folha de S.Paulo)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Geração de emprego



São Paulo, quarta-feira, 20 de julho de 2011

FERNANDO RODRIGUES

Marcha da insensatez

BRASÍLIA - Duas notícias mostram o Brasil na contramão das boas práticas gerenciais. Dilma Rousseff pretende mesmo criar a 39ª cadeira de ministro. No Congresso, em breve, chegarão mais 16 deputados federais e 6 senadores por causa da divisão do Estado do Pará.
Não há consenso entre gurus corporativos sobre o número ideal de diretores em uma grande empresa ou governo. Mas prevalece o senso comum: muitos cargos de chefia provocam o colapso gerencial de qualquer organismo.
Com a criação da pasta da Micro e Pequena Empresa, a 39ª, Dilma terá de fazer suas reuniões ministeriais durante vários dias seguidos se quiser dialogar com todos os seus principais assessores.
Na hipótese de cada um dos 39 ministros dar seu recado inicial à presidente em meros 5 minutos, a reunião ministerial gastará 3 horas e 15 minutos. Esse tempo será cumprido no caso de ninguém estourar sua fala e Dilma se contentar só em ouvir e não interromper o interlocutor nem fazer questionamentos.
No Congresso, a situação ainda é mais dramática. A Constituição estabelece um piso (8) e um teto (70) para o número de deputados federais de cada Estado. O crescimento do eleitorado e a criação de novas unidades da Federação produzirão, num futuro próximo, uma Câmara com 600 ou mais vagas.
Hoje já é quase inviável praticar política de alto nível com os atuais 513 deputados representando os 191 milhões de brasileiros. Só como comparação, nos EUA (307 milhões de habitantes) a Câmara dos Representantes tem apenas 435 deputados com direito a voto.
Em Brasília, esses argumentos são ignorados. Está em curso uma marcha da insensatez. Logo chegam o 39º ministro e mais congressistas. Embora nem tudo seja obra de Dilma Rousseff, esse será um legado de sua passagem pelo poder. A presidente tem meios para frear o inchaço da máquina pública, mas não demonstra apetite pelo tema.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2007201104.htm

quarta-feira, 13 de julho de 2011

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Piauienses: a tragédia (anunciada) de Nova Friburgo

Amaral olhava do helicóptero para aquele desastre e pensava nos tantos que ainda iriam ocorrer no futuro, por puro descaso. Um estudo feito pelo seu grupo mostrava que no Brasil há um atraso de cinquenta anos na prevenção de catástrofes. Ainda que se comece agora a fazer um programa – necessário e caro – de remoção de moradores, de recuperação de encostas e de dragagem de rios, ainda se levará meio século para que chuvas como a do último verão não provoquem tantos danos.

[...]

Até agora, não se sabe o que fazer com os desabrigados. Em Nova Friburgo, nenhuma nova casa foi construída para abrigá-los. Nenhum plano de recuperação foi ainda apresentado. A economia da cidade, com as perdas da indústria, do comércio e do turismo, encolheu.

Ninguém, entre as dezenas de milhares de feridos, ou os 12 mil que perderam suas casas, ou os familiares dos 440 que morreram, recebeu qualquer indenização. Nenhuma autoridade foi responsabilizada ou perdeu o emprego. Não houve nenhum protesto.

O fim do mundo
A catástrofe de Friburgo, obra nacional
por Consuelo Dieguez
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-56/questoes-recorrentes/o-fim-do-mundo