domingo, 27 de fevereiro de 2011

Piauienses: Senhoras da paz

Outra manifestante cita A. J. Muste, um reverendo pacifista da época da guerra do Vietnã. Perguntaram-lhe se acreditava que protestos em frente à Casa Branca mudariam o curso da política americana: "Não estou fazendo isso para mudar o país", respondeu Muste. "Faço isso para que o país não me mude."

A consciência das panteras
Para não ver vovó nua, melhor evitar a Quinta Avenida
Dorrit Harazim
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-46/esquina/a-consciencia-das-panteras

Piauienses: John Gielgud

E Gielgud tinha humor, muito humor. Mais de uma vez, ouvi de atores ingleses uma história dele com o diretor Peter Brook, que nos anos 70 abandonara o teatro clássico para embarcar em experimentações variadas. Um belo dia, depois de meses de ensaios, com laboratórios de improvisações guturais, sensibilizações, cantos, jogos de poder, rodas de autoconhecimento, de toda a parafernália investigativa do teatro alternativo, mas nada de repassar a peça, Brook pediu que os atores viessem até ele, um a um, e fizessem algo que o aterrorizasse. John Gielgud viu os colegas se posicionarem na frente do diretor e, cada um a seu modo, se pôs a gritar, ameaçar, bater e xingar o mestre. Na sua vez, levantou-se, calmo, encarou o amigo e soltou mansamente: "Estreamos na terça-feira."

Reflexos do palco
Ribaltas, glórias, malediscências e rapazes bem dotados: as cartas de John Gielgud
por Fernanda Torres e John Gielgud
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-46/correspondencia/reflexos-do-palco

Piauienses: Profissão: ex-presidente

Paralelamente, ocorre mundo afora a chegada ao poder de líderes cada vez mais jovens que, ao esgotarem seus direitos à reeleição, também engrossarão o clube dos ex. Lembra da história da passagem por Roma de Fernando Collor, já presidente eleito mas ainda não empossado. "Nosso embaixador na capital italiana, que tinha sido oficial de gabinete de Jânio Quadros, o qual também estava na cidade, organizou um jantarzinho para ambos." É Jânio quem inicia o diálogo:
— Presidente, o senhor tão moço para essa função...
Collor não reage, o que leva Jânio a voltar com mais insistência à questão da mocidade de Collor. No terceiro ou quarto "o senhor tão moço...", Collor responde:
— Desculpe, mas estou chegando à Presidência com a mesma idade que o senhor chegou.
E Jânio, sempre certeiro:
— E deu no que deu!

Profissão: ex-presidente
Aproxima-se a data em que o presidente Lula começará a medir a sua estatura fora do poder. Encontrará concorrência
por Dorrit Harazim
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-46/vultos-da-republica/profissao-ex-presidente

Piauienses: o caso Providência

Na primeira brecha, Crivella pediu a palavra. Tirou da pasta uma fotografia do morro da Providência alterada por Photoshop. Nela, via-se a favela com barracos decadentes ao lado de casas remodeladas, com fachadas refeitas e telhados novos. "Presidente", disse o senador, "a Providência pode ficar assim."
Crivella vendia diretamente ao governo federal o diamante de sua próxima campanha eleitoral: o projeto Cimento Social. A proposta previa a recuperação de 782 casas da favela. Tetos e janelas seriam trocados e paredes, repintadas. Os barracos seriam revestidos com placas pré-moldadas de 1 centímetro de espessura feitas com uma argamassa patenteada pela Universidade de São Paulo que duraria "mil anos".
Pelo projeto, as novas estruturas resistiriam "ao impacto de balas de até 7,5 milímetros de calibre, a uma distância mínima de 20 metros". Também se previa a implantação de um sistema de esgoto, a instalação de centros comunitários, creches, postes de iluminação e a criação de um sistema de proteção para a rede elétrica e telefônica. Por último, a área seria reflorestada. 
[…]
A construção foi batizada de "Vila Zé Alencar e Dona Marisa". Ali, moram as famílias dos três jovens assassinados. A irmã de Wellington, Bárbara, riu quando perguntei se as paredes eram mesmo resistentes a tiros. Ela se levantou e apontou para o ar-condicionado. "Eu fiz esse buraco com a ajuda de uma faca de cozinha", disse. Com a ponta dos dedos, mostrou que a parede se esfarela ao toque.

O exército, o político, o morro e a morte
Das manchetes ao esquecimento: o caso Providência faz dois anos
por Cristina Tardáguila
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-46/questoes-de-seguranca/o-exercito-o-politico-o-morro-e-a-morte

Conspiratórias: celular e saúde pública

[Louis Slesin] suggested that much of the comfort of our modern lives depends on not caring, on refusing to recognize the dangers of microwave radiation. "We love our cell phones. The paradigm that there's no danger here is part of a worldview that had to be put into place," he said.
[...]
According to Slesin, "The committees setting the EM safety levels at the IEEE historically have been dominated by representatives from the military, companies like Raytheon and GE, the telecom companies, and now the cell-phone industry. It is basically a Trojan horse for the private sector to dictate public policy." The IEEE's "safe limits" for microwave exposure are considerably higher than what they should be, says Allan Frey, who was a member of the organization in the '70s. "When it comes to this matter, the IEEE is a charade," Frey told me.
[...]
According to one member of the TAC [Technological Advisory Council to the FCC] who spoke anonymously, officials at the FCC "told us we couldn't talk about that. They would not give us any reason. The FCC people were embarrassed and terrified."
[...]
Modern society, needless to say, is in the grip of wireless technology. All you have to do to understand this is step outside your door. "It just so happens," Frey had told me, "that the frequencies and modulations of our cell phones seem to be the frequencies that humans are particularly sensitive to. If we had looked into it a little more, if we had done the real science, we could have allocated spectrums that the body can't feel. The public should know if they are taking a risk with cell phones. What we're doing is a grand world experiment without informed consent." As for Louis Slesin's question—what will it take to change the paradigm?—Frey shook his head. "Until there are bodies in the streets," he said, "I don't think anything is going to change."

Warning: Your Cell Phone May Be Hazardous to Your Health
Ever worry that that gadget you spend hours holding next to your head might be damaging your brain? Well, the evidence is starting to pour in, and it's not pretty. So why isn't anyone in America doing anything about it?
BY CHRISTOPHER KETCHAM | GQ Magazine | February 2010
http://www.gq.com/cars-gear/gear-and-gadgets/201002/warning-cell-phone-radiation

Iconoclasias: Homeopatia

As conclusões foram desfavoráveis para a homeopatia: seus resultados seriam efeitos placebo. A Lancet ironizou: "Quanto mais diluída se torna a evidência em favor da homeopatia, maior sua popularidade".

* * *

Folha de S. Paulo | 29/8/2010

CIÊNCIA

A medicina das paixões

Homeopatia: 200 anos de polêmica


RESUMO
Estabelecida há dois séculos, a homeopatia segue controversa, conquistando pacientes em busca de mais diálogo com médicos, mas ainda sem comprovar sua eficácia em testes científicos sistemáticos. Sob ataque de cientistas, periódicos e autoridades, a doutrina tem o apoio da OMS e de governos como o dos EUA e o do Brasil.

MARCELO LEITE
CLAUDIA COLLUCCI

ilustração ANA SARIO

A doutrina médica da homeopatia defende, como sugerem as raízes gregas do nome, que a semelhança ("homeo") entre efeitos ("pathos") de uma doença e os de uma droga bastam para elegê-la como medicamento.
Se ingerir chumbo paralisa os músculos e pode levar à morte, também poderia ser um tratamento de paralisias similares. Tido como uma lei da natureza há mais de 200 anos, o princípio se encontra sob fogo cerrado da medicina convencional.
A diferença entre veneno e remédio, para homeopatas, está na dose. Em quantidades mínimas, não só o efeito desaparece como troca de sinal, por assim dizer: diluída, a substância se tornaria capaz de despertar uma ação regeneradora do organismo. Quanto maior a diluição, mais potente seria o medicamento homeopático.

DEBATE APAIXONADO
O princípio da semelhança já é difícil de aceitar para a ciência experimental, núcleo da medicina baseada em evidências, que almeja proscrever a homeopatia. Somado ao da diluição radical, que resulta em remédios compostos só de água, configura-se como charlatanismo aos olhos do pesquisador tradicional. No Reino Unido, o debate apaixonado chegou a ponto de questionar se o governo deve continuar pagando tratamentos e pesquisas sem base científica.
Rubens Dolce Filho, presidente da Associação Paulista de Homeopatia e professor na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), exerce tanto a alopatia como a homeopatia e não vê incompatibilidade. "Se a homeopatia fosse uma porcaria, já teria acabado 200 anos atrás. Eu não sou louco." Para ele, a homeopatia tem suas limitações, mas não é uma fraude.
"A homeopatia está entre os piores exemplos de medicina baseada na fé", contestam Michael Baum e Edzard Ernst na edição de novembro do periódico "The American Journal of Medicine". Médico e pesquisador alemão, Ernst trabalhou com homeopatia em Viena; hoje professor de medicina complementar na Universidade de Exeter e Plymouth (Reino Unido), tornou-se um de seus mais ácidos críticos.
"Esses axiomas não estão só em desalinho com fatos científicos, mas também em direta oposição a eles", diz o artigo. "Devemos manter a mente aberta para astrologia, motos-perpétuos, alquimia, abdução por aliens e visões de Elvis Presley? Não, e temos a satisfação de admitir que nossas mentes se fecharam para a homeopatia da mesma maneira."
São palavras incomuns numa publicação médica, ainda que outra prestigiada revista, "Lancet", tivesse decretado a morte da homeopatia quatro anos antes. Ernst disse coisas semelhantes num depoimento ao Parlamento britânico. A Câmara dos Comuns lançou em 2009 uma ofensiva contra a homeopatia por meio de seu Comitê de Ciência e Tecnologia. A conclusão do relatório final, publicado na internet em fevereiro, não poderia ser mais severo:
"Ao oferecer a homeopatia no NHS [Serviço Nacional de Saúde] e ao permitir que a MHRA [Agência Reguladora de Remédios e Produtos de Saúde] licencie produtos que depois aparecem nas prateleiras das farmácias, o governo corre o risco de endossar a homeopatia como sistema médico eficaz. [...] A homeopatia não deve ser financiada pelo NHS, e a MHRA deveria parar de licenciar produtos homeopáticos."
A Sociedade de Homeopatas do Reino Unido reagiu acidamente à comissão. Acusou-a de ignorar as evidências apresentadas, como um total de 74 estudos sobre a eficácia da homeopatia, 63 deles positivos para a terapêutica alternativa. O relatório parlamentar, por seu turno, acusa os homeopatas de manipulação da literatura médica, privilegiando estudos positivos para confundir o público.
"Perguntamo-nos se algum tipo de evidência demoveria médicos homeopatas de sua autoilusão", afirmam Baum e Ernst no comentário em que fecham as mentes para a doutrina, "e os desafiamos a projetar um ensaio metodologicamente sólido que, se negativo, os convença a abandonar o ramo."
"A homeopatia permaneceu como a esfinge entre os sistemas contemporâneos de medicina", já havia constatado anos antes o filósofo alemão Peter Sloterdijk (pronuncia-se "sloterdáic"), no discurso que proferiu em 1996, por ocasião do bicentenário da homeopatia. "Um bloco errático no meio da civilização técnica, ao mesmo tempo plausível e incrível, enigmático e eficaz, uma efígie do ontem e do amanhã."

REPERTORIZAÇÃO
O consultório de Marcus Zulian Teixeira, 52, fica no bairro paulistano de Pinheiros, a um quarteirão da Faculdade de Medicina da USP. É lá que ele se formou e hoje pesquisa e dá aulas. Exíguo e funcional, o espaço sugere tratar-se de um médico de razoável sucesso, ainda que não enriquecido.
Iniciada uma consulta, a sucessão de perguntas parece não ter fim. O paciente, no sentido mais literal da palavra, terá de dizer de que lado dorme, como anda o apetite, se tem sonolências ou se é calorento. E a dor de cabeça que o traz ali, aparece mais do lado direito ou esquerdo?
A lista crescente de sintomas alimenta um programa chamado "repertório digital de homeopatia". O computador reage a ela relacionando medicamentos adequados para cada condição, de arnica a zinco. Para a dor de cabeça destra, surgem 106 nomes na tela. Para calores, 170. O sono sobre o lado direito do corpo está associado com sete substâncias, entre elas a camomila.
O processo, conhecido como "repertorização", segue em frente, hierarquizando os sintomas segundo a intensidade, até que o homeopata se fixe no remédio único para tratar o indivíduo à sua frente -e não a doença específica que o levou ao consultório. É o início de uma terapia que pode consumir semanas, meses.
Teixeira está entre os homeopatas que escolheram lutar com as armas da medicina baseada em evidências. Depois de formar-se em agronomia e enveredar pela agricultura biodinâmica, foi estudar medicina, aos 27 anos, para tornar-se homeopata. Por seis anos frequentou a Faculdade de Medicina da USP sem mencionar a ninguém sua intenção.
Quase duas décadas depois, ministra lá a disciplina de graduação fundamentos da homeopatia. Pesquisou durante cinco anos a rinite alérgica de 54 pacientes para delimitar o efeito placebo e separá-lo da contribuição terapêutica específica de medicamentos homeopáticos, estudo que defendeu em 2009 como tese de doutorado e publicou em artigo no periódico especializado "Homeopathy".
Teixeira afirma ser possível desenvolver metodologias para realizar estudos que respeitem o princípio da individualização, ou seja, um remédio para cada paciente e seu quadro peculiar de sintomas. Isso não ocorre em testes convencionais de medicamentos, alega, pois estes têm por alvo um tratamento único em comparação com outro. Seria preciso, além disso, um estudo com a participação de muitos centros de pesquisa para conseguir recrutar uma amostra grande de pacientes. O custo subiria para a casa dos milhões de dólares, inviável para o setor marginal da homeopatia.

PLACEBO
A homeopatia tem sim alguma eficácia, como qualquer medicamento, inócuo ou não para determinada doença, que seja testado em seres humanos. Mesmo que tomem apenas pílulas de farinha, após cair no grupo de controle de um teste clínico, algumas pessoas verão sua saúde melhorar, mostram inúmeros estudos, por acreditarem estar tomando um remédio eficaz. Mas não se obteve consenso sobre o fulcro da questão -se homeopatia ocasiona algo mais que o efeito placebo.
Se for só isso, placebo, a terapia se torna eticamente indefensável, pois prescreveria dose cavalar de logro na relação médico-paciente. Pois é justamente uma relação melhor entre eles que muitas pessoas parecem buscar na homeopatia, sucesso de público há séculos.
O alívio oferecido pela medicina complementar e alternativa, que inclui homeopatia e acupuntura, compõe desde 2006 o arsenal curativo reconhecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com sua Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, formulada pelo Ministério da Saúde em acordo com diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em 2009, realizaram-se 326.379 consultas homeopáticas pelo SUS. O custeio da homeopatia mais que quintuplicou numa década, atingindo R$ 3,2 milhões no ano passado, com a distribuição de medicamentos a partir de 2006. Estima-se que existam no Brasil cerca de 15 mil homeopatas, 4,4% dos 340 mil médicos. No SUS, a parcela é ainda menor: 535, ou 0,2% dos 280 mil profissionais.
Nos EUA, segundo a OMS, 2,5 milhões de pessoas recorrem à homeopatia, com gasto equivalente a R$ 5 bilhões anuais. Valor similar se atribui ao mercado mundial de medicamentos homeopáticos, que tem metade da demanda na Europa (sobretudo na Alemanha e na França) e o restante dividido principalmente por EUA e Índia.
A Índia tem 400 mil homeopatas e 307 hospitais especializados nela. Na antiga metrópole, Reino Unido, restam quatro hospitais (um foi fechado em 2009). A homeopatia pode estar na mira do Parlamento, mas é a preferida da família real -príncipe Charles à frente.

ARTES DA CURA
Em 2010, completam-se 200 anos da publicação do "Organon da Arte de Curar", obra do alemão Samuel Hahnemann (1755-1843) que estabeleceu a homeopatia. No ano que vem será festejado o bicentenário de sua monumental "Materia Medica Pura", que homeopatas cuidam de citar pelo título em latim, sem os acentos. Os primeiros artigos de Hahnemann sobre homeopatia, porém, datam de 1796.
Mesmo numa época em que a medicina convencional envenenava e sangrava pacientes, a implausibilidade dos princípios homeopáticos já chocava. Em 1842, um ano antes da morte de Hahnemann e dois após a introdução da homeopatia no Brasil, sua doutrina já era ridicularizada pelo médico e escritor americano Oliver Wendell Holmes (1809-94, pai de um célebre juiz de mesmo nome na Suprema Corte).
O médico proferiu duas conferências na Sociedade Bostoniana para Difusão do Conhecimento Útil, reunidas sob o título "Homeopatia e seus Delírios Afins". A objeção principal se voltava contra a doutrina -depois abandonada pelos homeopatas- da "psora", algo como uma coceira primordial que estaria na origem de sete oitavos de todas as doenças crônicas.
"Eu não me envolverei com essa excrescência [...]; o tempo é muito precioso, e a safra de extravagâncias vivas pesa demais sobre minha foice para que eu venha a cegá-la com palha e restolho", disparou Holmes no fecho da catilinária.

URTICÁRIA
A "psora" parou de incomodar, mas o princípio da similitude continua causando urticária, 200 anos depois dos golpes de foice do médico americano. Teses extraordinárias, diz-se no mundo da ciência, exigem provas extraordinárias. Os fatos em apoio à tese da semelhança, contudo, prosseguem esparsos e longe de formar consenso.
O mesmo se pode dizer do princípio da dinamização (diluições sucessivas), que sobrevive como alvo preferencial dos inimigos da homeopatia no reino da ciência estabelecida. A comissão parlamentar britânica se baseou em estudos que, na sua interpretação, descartam o poder curativo dos medicamentos homeopáticos ultradiluídos. Mostrou-se tão segura que recomendou a interrupção até das pesquisas sobre a eficácia da homeopatia.
No Brasil, o Ministério da Saúde lançará em 2011 uma linha de financiamento de pesquisa sobre homeopáticos, mas não revela o montante. "É muito difícil conseguir financiamento dos órgãos de fomento para as práticas não convencionais", diz Carmem Lucia De Simioni, coordenadora de Políticas Integrativas do ministério. Segundo Simioni, não se cogita rever o apoio à homeopatia, como no Reino Unido: "Construímos uma política numa base muito sólida, com muita responsabilidade, ouvindo todos os parceiros, nos pautando pela OMS".
Os homeopatas discordam da interpretação da literatura médica pela comissão parlamentar britânica, mas concordam que ensaios clínicos constituem o padrão de ouro da evidência biomédica para chancelar terapias. Há dois tipos de estudos nessa linha de investigação.

RCT
O tipo mais básico inclui ensaios randomizados e controlados, conhecidos pela sigla em inglês RCT. Neles, vários pacientes recrutados são distribuídos de modo aleatório (randomizado) em grupos que recebem o medicamento em teste, um composto com aparência similar desprovido da substância em causa (placebo), ou então outro remédio que se queira confrontar com o primeiro.
RCTs por vezes conduzem a resultados de alcance estatístico limitado, por usar pequenas amostras da população que um centro de pesquisa recruta sozinho. A solução é aumentar a amostra reunindo vários centros que sigam a mesma metodologia: são os RCTs "multicêntricos", que chegam a custar milhões de dólares.
Outra saída é aumentar a amostra agrupando ensaios independentes sobre uma mesma terapia, com metodologias semelhantes o bastante para permitir a somatória dos resultados. O estratagema dá origem ao segundo tipo de RCT, conhecido como estudos de meta-análise, a forma mais sólida de evidência em medicina.

META-ANÁLISE
No centro da querela da homeopatia está uma meta-análise publicada em 2005 na revista "Lancet" pelo grupo de pesquisa suíço-britânico de Aijing Shang e Matthias Egger. Eles reuniram resultados de 110 estudos de homeopatia e medicamentos convencionais, com amostras variando entre 10 e 1.573 pacientes.
As conclusões foram desfavoráveis para a homeopatia: seus resultados clínicos não seriam mais que efeitos placebo. Em editorial, a "Lancet" permitiu-se, até, alguma ironia: "Quanto mais diluída se torna a evidência em favor da homeopatia, maior parece a sua popularidade".
Os homeopatas destacam duas críticas aos métodos usados na meta-análise de Shang e Egger. A primeira veio menos de um mês depois, na própria "Lancet", e partiu de Klaus Linde e Wayne Jonas, autores de análise similar publicada em 1997. Mesmo concordando que "a homeopatia é altamente improvável", eles argumentam que o artigo não fornece base sólida para a conclusão sobre o efeito placebo.
Objeções similares foram divulgadas pelo periódico "Journal of Clinical Epidemiology" em 2008. O artigo de R. Lüdtke e A.L.B. Rutten conclui que, por força da alta heterogeneidade entre os ensaios, os resultados e conclusões de Shang são menos nítidos do que o apresentado.
No intuito de reforçar a base factual da doutrina, os homeopatas buscam apoio em todo fato e teoria que julguem confirmar sua convicção. Teixeira, por exemplo, tem à mão extensa bibliografia na área de imunologia, biofísica e farmacologia.
Fazem sucesso entre os adeptos estudos sobre a "memória da água", candidata a explicar a potência de tinturas ultradiluídas. São trabalhos polêmicos, como dois do Nobel de Medicina Luc Montagnier publicados em 2009 num obscuro periódico de Hong Kong, embora o descobridor do vírus da Aids nem mencione neles a homeopatia.

VESTÍGIO ROMÂNTICO
Para o filósofo Sloterdijk, o fascínio da homeopatia deriva de um vestígio romântico, a noção de que tudo no mundo é eloquente. A natureza fala por meio do corpo doente, mas numa língua que ele não entende mais.
Desse ângulo, os sintomas são signos que remetem não a entidades ideais (moléstias), mas a outras coisas do mundo: substâncias químicas, dotadas de desmesurada força vital. O intérprete homeopata traduz esse discurso somático e restabelece, pelo diálogo, o equilíbrio perdido.
Soa fantástico, mas talvez por isso seja bem recebido por tantas pessoas, em especial as que padecem de moléstias crônicas. A homeopatia lhes dá coisas que as tecnoterapias baseadas em evidência se tornaram incapazes de oferecer, como a atenção do médico ou a perspectiva de superar o estranhamento com o próprio corpo. Desse ponto de vista, a implausível sobrevivência da homeopatia seria o sintoma renitente de uma crise na própria medicina convencional.
Até os críticos da homeopatia podem concordar com esse diagnóstico. "Tenho enfatizado com frequência que a medicina 'mainstream' tem muito a aprender sobre empatia, dedicação, tempo para ouvir etc.", concede Edzard Ernst, o alemão de cabeça fechada, que no entanto ressalva: "A boa medicina deve fiar-se tanto na arte quanto na ciência médica, não trocar uma pela outra".
As terapias mais arcanas, para Sloterdijk, terminam por encontrar-se com as promessas genômicas de uma era de medicina individual e precisa. Ele antevê uma época na qual os pacientes se entenderão cada vez mais como biogerentes de si próprios e crescerão como pilotos de seus sistemas imunes: "Daqui vislumbramos o futuro de uma medicina que lê e escreve os signos do vivente nas camadas hoje ainda não pesquisadas do texto da natureza".

(Fonte)

Cidade Viva

(Mais abaixo a entrevista integral, disponível no site da Folha apenas para assinantes.)

Sempre me senti meio solitário ao criticar o projeto Cidade Limpa, até então a maior ou talvez a única quase unanimidade da gestão Kassab. Este urbanista me redimiu um pouco:

FOLHA — Em São Paulo, os cartazes gigantes foram banidos como poluição visual, mas houve quem dissesse que perdemos uma forma de arte. Qual é sua opinião?
BERMAN — Não vi isso, mas sinto que seja um desastre. Os cartazes gigantes e a publicidade do século 20 criaram uma atmosfera de "pop art" que, em muitas partes do mundo, é magnífica. Pessoas vão à Times Square só para ver luzes. Banir isso parece uma reviravolta: as ideologias modernas vêm da cidade e se voltam contra ela.
Entendo a ideia de ter um zoneamento para os cartazes gigantes, diferentemente de bani-los completamente, o que é um ferimento autoinfligido — afeta uma razão para querermos estar na cidade.

O urbanista das multidões
Marshall Berman comenta seu novo livro, que mostra a Times Square como modelo de convivência na cidade
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0208200921.htm

A Modest Proposal

… For Preventing The Children of Poor People in Ireland From Being a Burden to Their Parents or Country, and For Making Them Beneficial to The Public:

I shall now therefore humbly propose my own thoughts, which I hope will not be liable to the least objection.

I have been assured by a very knowing American of my acquaintance in London, that a young healthy child well nursed is at a year old a most delicious, nourishing, and wholesome food, whether stewed, roasted, baked, or boiled; and I make no doubt that it will equally serve in a fricassee or a ragout.

I do therefore humbly offer it to public consideration that of the hundred and twenty thousand children already computed, twenty thousand may be reserved for breed, whereof only one-fourth part to be males; which is more than we allow to sheep, black cattle or swine; and my reason is, that these children are seldom the fruits of marriage, a circumstance not much regarded by our savages, therefore one male will be sufficient to serve four females. That the remaining hundred thousand may, at a year old, be offered in the sale to the persons of quality and fortune through the kingdom; always advising the mother to let them suck plentifully in the last month, so as to render them plump and fat for a good table. A child will make two dishes at an entertainment for friends; and when the family dines alone, the fore or hind quarter will make a reasonable dish, and seasoned with a little pepper or salt will be very good boiled on the fourth day, especially in winter.

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Piauienses: Pro Publica

“A elite intelectual nunca teve tanta informação de qualidade à disposição”, disse. “Todos os grandes jornais e revistas do mundo estão on-line e vão sobreviver. O drama é o desaparecimento da mídia local, pois isso significa que a classe média perdeu as fontes de informação qualificadas. Antes, todo mundo via o noticiário principal da televisão, e lia na Time ou na Newsweek a versão resumida do que saía nos veículos mais sofisticados – isso além de ler sempre os jornais locais. Hoje o que a classe média consome são as notícias policiais, as fofocas da tv aberta e a gritaria partidária dos canais a cabo. É muito difícil governar com seriedade um país com uma população desinformada.”

Caro, trabalhoso, chato
O jornalismo investigativo americano luta para sobreviver
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-49/anais-da-imprensa/caro-trabalhoso-chato

Piauienses: O louco de palestra

Vale observar que nem as grandes personalidades estão imunes ao ataque verbal de um desatinado espectador. Conta-se que, durante uma reunião da esquerda latino-americana em Paris, na época das ditaduras militares, um louco de palestra investiu contra o escritor Mario Vargas Llosa. Da plateia, um barbudão levantou e vociferou: Mientras Obregón se moria en la selva por el pueblo peruano, tu, que hacias?

O público silenciou. Sem se abalar, Vargas Llosa respondeu que dava aulas de literatura espanhola numa universidade. E devolveu a pergunta: Y tu, que hacias?

Yo tenía la hepatitis, disse o barbudão.

O louco de palestra
Ele sempre começa com “Eu gostaria de fazer uma colocação”
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-49/tipos-brasileiros/o-louco-de-palestra

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Broken windows: not just metaphorical anymore…

New York Times

February 23, 2011, 3:08 PM

Fewer Broken Windows, and a Decline in Crime

windowDavid Goldman for The New York Times

Score one for the broken-windows theory, that largely hypothetical correlation between vandalism and crime. Overall crime in the New York metropolitan area has declined in the past six years. So has the number of broken windows.

Of the five million homes and apartments counted in 2009, windows were reportedly broken in 23,500, compared with 156,900 in the 4.8 million counted six years earlier, the Census Bureau said this week.

“It appears to be a downward spiral,” said George L. Kelling, a senior fellow at the Manhattan Institute and emeritus professor at Rutgers University who, along with James Q. Wilson, a fellow social scientist, first wrote about the broken-windows theory.

“Taking care of broken windows reduces crime; taking care of crime reduces broken windows,” Professor Kelling said.

The number of boarded-up windows in all housing declined to 16,600 from 54,000, and the number of residences where windows were protected with bars fell to 159,500 from 901,900.

The contrast over six years was even starker among occupied buildings: 9,800 of the 4.5 million residences reported broken windows in 2009, compared with 48,300 of the 4.4 million homes six years earlier.

The survey results were compiled from direct questions asked of residents across the New York metropolitan area. “Boarded-up windows” were defined as having been sealed off to protect against weather or entry. “Broken windows” means at least several broken or missing panes.

Comparing the volume of broken windows is just one variable in assessing crime, and any direct relation can change over time. Still, other answers to the Census Bureau’s 2009 American Housing Survey for metropolitan New York (which includes New York City, Long Island and Orange, Putnam, Rockland and Westchester Counties) buttressed the perception and the reality of declining crime.

Asked in 2009 whether there had been serious crime in their neighborhood in the past 12 months, 3.7 million households said no. In 2003, 332,600 said crime was not a concern.

In 2009, 91 percent said they were satisfied with police protection, compared with 73 percent in 2003. One reason may be that the number of housing units in gated communities more than doubled.

The housing surveys provide other measures of housing quality. In 2009, 418,000 home and apartment dwellers had found signs of rats or mice in the previous three months, compared with 680,000 in 2003.

The median square footage of homes and apartments declined by 39 square feet, to 2,000 square feet. But the square feet per person rose to 750 from 673 (perhaps as a result of more people living alone).

Still, slightly more homes were described as overcrowded, usually calculated at 1.51 or more people per room. There were 49,700 such homes in 2009, compared with about 44,900 in 2003.

In the latest survey, residents were more likely to lack complete kitchen and plumbing facilities and more likely to report severe physical problems with their homes, but were also more likely to have central air-conditioning (fewer reported having been uncomfortably cold for 24 hours or more in the previous winter).

Half as many people complained about litter, more complained about street noise (neighbors, too, were louder than in 2003, but less bothersome) and traffic, and fewer complained about odors and unsatisfactory public elementary schools.

In 2009, nearly 40 percent of people who moved in the previous year said they were now in a better neighborhood. About 30 percent said so in 2003.

Median monthly housing costs were higher in 2009 ($1,517 for owners, $1,019 for renters), and households were paying a higher share of their incomes for housing. Homeowners in 13 counties in northern New Jersey paid a median of $1,801 in monthly housing costs in 2009, compared with $1,078 for renters.

Whites were a little more likely to own rather than to rent their homes, blacks were about twice as likely to rent, and Hispanics were nearly four times as likely to rent than to own.

 

(Source — if broken, use Google Cache)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Transporte paulistano: sinais trocados

Em alta: ônibus
São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 2011
 


Cansados de carro, paulistanos optam por pegar ônibus

Usuários concordam que serviço ainda está longe do ideal; principal reclamação é a demora no embarque

Deixar de ficar parado no trânsito da cidade é o principal motivo que leva ex-motoristas a preferirem o ônibus 

TETÉ MARTINHO 
DE SÃO PAULO 

Malu Moraes mora nos Jardins. Em abril, vai comemorar o 60º aniversário em Milão. Para manter seu padrão de vida, cortou hábitos que considera desnecessários: restaurantes caros, roupas da estação -e carro.
"Quando me perguntam por que não engordo, digo: não tenho carro." Economia, autonomia para mudar de estratégia em congestionamentos, vontade de fazer dos deslocamentos algo menos penoso e improdutivo têm levado mais paulistanos a recorrer ao ônibus.
Quem está aderindo agora ao ônibus deu sorte. As melhoras dos últimos anos incluem carros maiores e mais novos, o bilhete único, GPSs que ajudam a verificar denúncias de má condução e um serviço de reclamações.
A principal queixa dos paulistanos, no entanto, continua sendo a demora para embarcar, responsável por quase 30% das reclamações. A experiência mais bizarra do arquiteto Paulo de Camargo, 30, envolvendo ônibus foi a bronca que levou de um ex-chefe por ter ido de coletivo visitar uma obra do escritório fino onde trabalhava. "Ele me disse que andar de ônibus é coisa de pobre. E se o cliente descobre?"
"Para mim, estranho é um arquiteto, um urbanista ou um sociólogo que nunca andou de ônibus, não conhecer a cidade dessa perspectiva", diz o empresário Ricardo Heder, 48. O hábito do ônibus pesou até na escolha da casa onde mora.
Um carro basta para ele e a mulher, a artista plástica Renata Ursaia, 37. "Acho carro chato, mas não vou dizer que ônibus é maravilhoso."
O estilista Carlos Christofani, 49, só anda de táxi, metrô, ônibus ou a pé. Ele fez uma conta e concluiu que, mesmo se andasse só de táxi, gastaria menos do que para manter um carro. Um paulistano que mora na região da Pompeia (zona oeste) e trabalha na Berrini (zona sul) teria, por exemplo, uma economia de 63% nas despesas mensais caso trocasse o carro pelo ônibus.
O transporte coletivo parece, para Carlos, "caminho sem volta" para uma cidade com quase 7 milhões de veículos. "Tenho crédito pré-aprovado de R$ 110 mil para comprar carro numa conta que se tiver R$ 100 de saldo é muito", afirma.
Todos os dias, Matthew Shirts, 52, editor da revista "National Geographic", vai e volta de ônibus do trabalho. "O ônibus é o primo pobre do transporte urbano. São poucos e lotados, não têm amortecedor, não têm câmbio automático. É como diz Jaime Lerner: "O problema é que ninguém importante anda de ônibus'", diz o jornalista americano. Sem falar na tarifa, R$ 3, a mais cara do país. "O governo brasileiro devia premiar quem usa ônibus, assim como na Alemanha as pessoas ganham dinheiro para ter filhos."

Colaborou GIBA BERGAMIM JR


Em baixa: metrô
São Paulo, segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011 

Metrô da Paulista lota mais que trem

Total de passageiros por metro quadrado cresce de 4,7 para 5,9 e se aproxima do índice de desconforto extremo

Aperto em linha nobre do metrô de SP já chega a ser pior do que o registrado em 3 das 6 linhas de trens da CPTM 

ALENCAR IZIDORO
DE SÃO PAULO 

Engravatados da av. Paulista estão mais apertados dentro do metrô do que moradores de Carapicuíba, Itapevi ou Itaquaquecetuba, na Grande SP, que usam trens para ir ao centro da capital.
O efeito "lata de sardinha", com que a periferia convive há anos, atingiu a linha 2-verde a ponto de a lotação encostar no limite do que é considerado aceitável.
Ela saiu de um patamar de 4,7 passageiros por m², em 2009, para 5,9 por m², em 2010, nos horários mais críticos do dia. O nível máximo de desconforto projetado é de seis usuários por m².
A piora de 25% no aperto dentro dos vagões, conforme dados obtidos pela Folha, foi a mais elevada no metrô.
A lotação na linha 3-vermelha ainda é a mais grave do sistema -a demanda seria suficiente para espremer 10,9 pessoas por m².
Mas na ligação da Paulista a mudança é mais perceptível porque há pouco tempo ela tinha um nível de conforto em que os usuários nem encostavam uns nos outros.
Aliada ao fato de passar por áreas nobres, isso sempre atraiu a classe média.
A lotação da linha 2 do metrô nos picos passou a ser pior que a de três das seis linhas de trens que atendem a periferia.
Na linha 8-diamante, que passa por Itapevi e chega ao centro de São Paulo, os picos foram de 5,8 por m². Na 12-safira, que atende a zona leste e Itaquaquecetuba, 5,5 por m². Na 9-esmeralda, que sai de Osasco, 4 por m².

DEMANDA MAIOR
O desconforto da linha verde do metrô é resultado do aumento da demanda que beirou 13% no ano, incentivado pela abertura de novas estações, mas agravado pelos atrasos em melhorias tecnológicas que deveriam diminuir os intervalos entre os trens na plataforma.
A nova sinalização deve permitir menor distância entre os trens, reduzindo os intervalos. Era prevista para 2010. Mas só deve estar pronta no ano que vem.
Dentro de dois meses, as estações Vila Prudente e Tamanduateí, inauguradas no segundo semestre do ano passado, deverão funcionar em horário normal -das 4h40 até depois da 0h. Hoje só operam das 8h às 17h.
A mudança, num primeiro momento, deve agravar a lotação da linha 2-verde, porque vai atrair mais gente nos picos, além de facilitar a integração com a linha 10-turquesa de trens da CPTM.
Mas a expectativa do Metrô é que, em seguida, a situação melhore, porque, com novas conexões, os passageiros devem ser redistribuídos entre as estações.
Pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos apontou que a linha 2 foi a única do metrô com queda na satisfação do usuário em 2010: de 88% para 84%.
Na prática, deixou seu status de "a mais aprovada", ficou num patamar semelhante ao da linha 1-azul (85%) e atrás da linha 5-lilás (90%).
Passageiros como Eduardo Maiorino, 31, supervisor na área de informática, reconhecem: "ela era tranquila, agora está cheia". Mas ressalva: "Ainda dá para usar. No caso da linha 3, eu prefiro ir de ônibus", afirma ele, morador da Vila Prudente e que cobra a abertura da estação nos picos.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Piauienses: Marcos de Azambuja

Esse relato está delicioso, terei que destacar ao menos dois trechos:

Sumiu

Um grande diplomata sueco, Jan Mårtenson, que começou sua vida profissional por esses idos no Brasil, disse-me décadas depois que a expressão brasileira da qual mais sentia falta era a palavra “sumiu”. Quando dava por falta de alguma coisa em sua casa, nos seus tempos cariocas, a explicação da empregada era sempre a mesma: “Sumiu.”

Mårtenson dizia que a palavra explica o inexplicável, encerra o assunto e não o leva a nenhuma consequência policial ou administrativa. Estava nas coisas a faculdade de sumir e, aceita essa premissa, não se falava mais no assunto. As coisas tinham também a faculdade de reaparecer mais tarde, sem maiores explicações. Sumiu. Apareceu.

Choque de civilizações

A bateria de elevadores do prédio, numerosos e de última linha, entrara em colapso. Ou bem estavam todos em um determinado andar, ou todos iam juntos subindo ou descendo. Havia se desfeito um sofisticado programa que deveria permitir que subissem ou descessem alternadamente, capazes de dar rápido atendimento, e não ficassem, como acontecia então, retidos em um só andar.

O administrador confessou-me terem feito algumas investigações. E descobriram que éramos nós, brasileiros, a causa de todo o transtorno. Haviam previsto a parada de cada elevador por um número preciso de segundos. Mas no nosso andar a pausa era imprevisível, e muito mais longa. Por causa de uma mistura de gentilezas e respeito a precedências; por esperar algum retardatário para quem mantínhamos a porta aberta; por uma mensagem de última hora que não podia deixar de ser dada; para ajudar alguém a entrar num sobretudo, tínhamos desorganizado todo o sistema.

Diante desse verdadeiro choque de civilizações, pediam-me, o administrador e o engenheiro, que os ajudasse a resolver o imbróglio. Prometi que faria alguma coisa, mas, naturalmente, não mudamos nossos hábitos nem encurtamos as nossas gentilezas. Acredito que os americanos, com sua tecnologia, devam ter encontrado uma nova programação, que ajudou a superar o problema. Ficou-me a constatação, reforçada tantas vezes depois ao longo da vida (em elevadores, no final de almoços, jantares e festas), de que a nossa liturgia de partidas tem um ritmo que não pode ser abreviado. E que, se os franceses saem sem se despedir, os brasileiros se despedem sem sair.

[Leia mais…]

Aliás, o relato de Azambuja na edição do mês passado também vale muito a pena!