quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Dimenstein sabatinado: São Paulo é melhor que seus políticos

Não conseguiria colocar em melhores palavras minha visão sobre a cidade. Na mosca.

* * *
São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

"Poder público nunca esteve à altura de SP"

Para o jornalista Gilberto Dimenstein, a cidade "mais interessante do país" é também "um exemplo magnífico de incompetência"

Em sabatina, colunista da Folha diz também que desafio de melhorar a educação é semelhante ao fim da escravidão

DA REPORTAGEM LOCAL

São Paulo é a cidade mais interessante do país, apesar de o poder público não estar à sua altura, avalia o jornalista Gilberto Dimenstein, idealizador da ONG Cidade Escola Aprendiz e colunista da Folha.
De um lado, afirma, há uma metrópole repleta de oportunidades. Do outro, políticos a veem apenas como trampolim.
Em sabatina da Folha na segunda-feira, o jornalista disse também que o desafio de melhorar a educação pública é semelhante ao fim da escravidão.
"De cada cem alunos que saem do ensino médio em São Paulo, apenas 5% sabem ler e escrever apropriadamente. Dá para imaginar uma fábrica de automóveis com esse índice?", questionou. "É uma tragédia."
Dimenstein contou também que até hoje não sabe se é jornalista ("o crítico") ou educador ("o otimista"). E disse não aceitar cargos públicos por ter deficit de atenção. "Imagina trocar o nome do presidente?"
Abaixo, trechos da sabatina do jornalista, que respondeu a perguntas de Rogério Gentile (editor de Cotidiano), Hélio Schwartsman (articulista da Folha), Marcos Augusto Gonçalves (editorialista da Folha) e Gustavo Ioschpe (economista e articulista da revista "Veja").
Autor dos livros "Meninas da Noite" e "O Mistério das Bolas de Gude", Dimenstein, 53, respondeu também a questões da plateia, composta por 203 pessoas, no Teatro Folha.

 


Poder público de SP
O poder público nunca esteve à altura da cidade de São Paulo. Não é só esse prefeito [Gilberto Kassab, do DEM].
Aqui, o cara se elege principal vereador de São Paulo e, na semana seguinte, já está pensando ser deputado federal.
São Paulo é um exemplo magnífico de incompetência. As marginais, que poderiam ser parques, viraram marginais. Tiraram bondes, não fizeram metrô. São Paulo chegou a um ponto que cemitério virou vista. Aqui, vista é quando não tem uma coisa na frente.
Ao mesmo tempo, São Paulo é a cidade mais interessante do Brasil. Existe uma coordenação entre sonhar e fazer. Todo o mundo tem um projeto. Veja a revolução na baixa Augusta [centro]. Em poucos lugares do mundo há tantas tribos juntas.


Ampliação das marginais
O [governador] Serra tem uma série de qualidades. Mas a marginal é um exemplo de como alguém pode ser obtuso numa cidade. Gastar R$ 2 bilhões numa rua que fechará de carros em dois anos, é gastar à toa.


Pedágio urbano
Eu colocaria amanhã. Limita os carros na rua e arruma dinheiro para o transporte público. Cedo ou tarde, será preciso brigar com a classe média.


País melhor
Não estou na idade de ser ingênuo. Existem carências, corrupção. Qualquer um que entre numa escola pública ou num hospital vê isso. Mas nunca vi o Brasil tão bem. É fruto de uma série de governos e de ações da sociedade. A minha geração viveu grande parte do tempo com regime militar, inflação alta, baixo crescimento, instabilidade política e econômica. Hoje há um pouco de crescimento, inflação baixa e estabilidade.
Sou de um tempo que empresário não discutia assunto social. Hoje, pessoas importantes da indústria, do serviço, dizem: Percebemos que sem uma sociedade civilizada, do ponto de vista educacional e social, não nos garantimos nem como empresários, devido à baixa produtividade, nem como indivíduo, devido aos sequestros.
E vejo mais preocupação dos empresários com a educação pública do que sindicatos, como CUT, Força Sindical.


FHC x Lula
Acho ridícula essa discussão. Temos 16 anos do mesmo governo. O Lula é a continuação do Fernando Henrique, algumas vezes até melhorada.
O grupos que criticam a imprensa, especialmente os do PT, estão incomodados com a fiscalização que a imprensa faz.


Defesa de parcerias público-privadas na educação
Seria ótimo que uma entidade social ou um empresário pudesse fazer gestão de escolas, recebendo uma cota do Estado.


Escolas em dificuldades
Mesmo a melhor escola privada está com dificuldades. As crianças vivem no mundo interativo, de redes sociais, do GPS. Não noto a escola como um centro de curiosidade. É um problema mundial. Temos uma geração com muita velocidade e pouca capacidade de aprofundar. É só falar com as empresas.


Mercado de trabalho
Para trainee numa grande empresa, são 3.000 candidatos por vaga. Mesmo assim, às vezes não se consegue preencher todas, porque as pessoas não estão preparadas para o teste.
Fiquem aterrorizados: a pessoa está na melhor escola, gastando fortunas com psicopedagogo, aula particular, e talvez não entre no mercado de trabalho. As escolas estão muito distantes do mercado de trabalho.


Importância de faculdades de baixa qualidade
Tenho sentimentos confusos diante disso. A melhor resposta seria: prende, arrebenta, fecha. Ao mesmo tempo, vejo tanta gente que melhorou pelo menos um pouco por ter feito uma faculdade de administração, de direito. Às vezes serviu como uma espécie de reforço do segundo grau. Temos de apoiar essas escolas. Quando for um caso gravíssimo, fecha.


Educação paulista
O PSDB está no governo há tanto tempo, cada um fez coisas diferentes. É um fracasso do partido não ter colocado uma política unificada.
Em que pese uma série de avanços, como o professor ganhar por mérito. Há pouco estímulo para a pessoa dar aula na escola pública.


Problema da imprensa
A gente aprende desde a faculdade que a boa notícia é a má notícia. Isso é muito bom, mas, ao mesmo tempo, a imprensa não desenvolve a mesma capacidade de descobrir coisas que funcionam. Os leitores querem saber quem é uma pessoa legal, quem é o ministro legal.


Quem é legal?
Tem várias pessoas. A gestão do ministro Fernando Haddad na Educação é boa. No ano passado tive o prazer de ver a aprovação da ampliação da obrigatoriedade escolar, aumento de recursos para a creche.


Futuro do jornalismo
Tem informação hoje de tudo que é lado, de celular, de internet. Se o jornalista não souber contextualizar tudo isso, o leitor abandonará o jornal.


Agradecimento
A pessoa a que eu mais devo profissionalmente é Otavio Frias Filho [diretor de Redação]. Não teve uma maluquice que eu propusesse que a Folha não pagasse para eu ser maluco. Estou em dívida.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2501201014.htm

Marina e o tucano-petismo



São Paulo, quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Marina e o tucano-petismo

SÃO PAULO - A candidatura presidencial de Marina Silva nasce lastreada numa certa elite. Isso não é uma força de expressão. A mais recente pesquisa Datafolha mostrou em dezembro a senadora do PV com 8% das intenções de voto, contra 37% de Serra (PSDB), 23% de Dilma (PT) e 13% de Ciro (PSB).
Marina atinge seus melhores índices entre os eleitores com curso superior —13%. É preferida por 11% dos que ganham mais de 10 salários mínimos, enquanto apenas 6% dos que recebem até dois salários mínimos a escolhem. É essa massa que integra a base social do lulismo.
A senadora atrai mais os jovens de 16 a 24 anos (10%) do que as demais faixas etárias. E seu voto é mais acentuado nas capitais (10%). Em resumo, Marina nasce como candidata de um tucano-petismo difuso de extração universitária.
E o que essa candidatura que por ora diz pouco ao povão mas fala à imaginação de certa classe média ilustrada pretende propor ao país, além da plataforma ambiental?
Marina vê a si mesma como o ponto de fuga, ou a convergência possível entre PT e PSDB. Sustenta que os dois estarão novamente se ferindo de morte no processo eleitoral, enquanto ela reúne condições e disposição para reconhecer no real de FHC e nos ganhos sociais do lulismo etapas de um mesmo processo, de uma única conquista histórica. Aí estaria a base do "pós-Lula", expressão que Marina empresta de Aécio Neves para frisar que uma mudança qualitativa da política brasileira só será viável no dia em que PT e PSDB estiverem juntos.
Essa história não é nova. Mas Marina não se incomoda de ser identificada com a reciclagem da política. Pelo contrário. Seu vocabulário já recicla jargões da esquerda. Na sua boca, a "sociedade civil" dos anos 70 são os "núcleos vivos da sociedade". A candidata que seduz petistas e tucanos pelas bordas fala em "agir em rede" e em considerar as coisas na sua "transversalidade". Pode parecer papo de Gilberto Gil. Mas faz todo o sentido. Ou não.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2701201003.htm

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Reprovada

E eu sou um deles...

* * *

Folha Online

19/1/2010 - 12h29

Pesquisa mostra que 57% dos paulistanos deixariam SP se pudessem

Publicidade

da Folha Online

Pesquisa realizada pelo Ibope e divulgada nesta terça-feira mostra que a população de São Paulo está insatisfeita com o bem-estar na cidade e que 57% dos paulistanos gostariam de deixar o município. No ano passado, o índice de pessoas que deixariam São Paulo era de 46%.

A pesquisa, encomendada pelo Movimento Nossa São Paulo, entrevistou 1.512 pessoas entre os dias 2 e 16 de janeiro, e abordou questões como a qualidade dos serviços públicos, o grau de confiança nas instituições, a percepção da população sobre a segurança na cidade, os principais medos dos paulistanos, entre outros.

Os temas abordados pela pesquisa seguiram a orientação das mais de 36 mil pessoas que participaram de uma consulta pública do Irbem (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município) e apontaram os itens mais importantes para a qualidade de vida. Ao todo, foram abordados 170 itens.

Como resultado, os paulistanos deram a nota de 4,8 para a qualidade de vida na cidade, em uma escala de 1 a 10. Além dos 57% que afirmaram querer deixar o município, outro dado significativo foi o que abordou a segurança em São Paulo e mostrou que 87% dos paulistanos acham que a cidade é insegura.

Um dos dados que mais cresceu foi o relacionado às chuvas. De acordo com os dados divulgados pelo Ibope, o percentual de pessoas que afirmam ter como principal medo na cidade os alagamentos subiu de 8%, no ano passado, para 28% em 2010.

Outros indicadores que subiram foram os medos de assalto/roubo (57% para 65%); sair à noite (17% para 26%); trânsito (16% para 18%); atropelamentos (7% para 13%); torcidas de futebol (6% para 11%) e dirigir (2% para 5%).

Já os bombeiros continuam como a instituição mais confiável, na opinião dos entrevistados, sendo apontado por 94% dos entrevistados. Além disso, a Câmara municipal permanece como a menos confiável, segundo 74% dos paulistanos.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u681519.shtml

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um lixo de política

Deixe-me ver se entendi: a Prefeitura de SP quer economizar dinheiro com um serviço. Para isso, pede às empresas que adiem investimentos necessários à sua modernização e melhoria. Empresas adiam investimentos na área e, como qualquer um com mais de um neurônio poderia prever, a situação da área piora.

A Prefeitura então ameaça multar parte da população. Mas se o lixo da região do Bom Retiro só é recolhido depois das 22:00, e o comércio fecha a partir das 18:00, como é que os comerciantes deixarão os sacos de lixo a menos de duas horas do horário da coleta?!

Não, não entendi...

PS: É surpresa para alguém que a mesma pessoa seja a responsável pelo caos tanto no trânsito quanto na gestão do lixo? E que ela permaneça em todos esses cargos (Secretaria de Serviços, Secretaria de Transportes, SPTrans e CET) até hoje?

* * *
São Paulo, quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Prefeitura de SP ignora plano contra lixo espalhado na rua

Instalação de contêiners em grandes vias da cidade deveria ter sido concluída em 2008

Gestão Kassab mudou contratos do lixo para economizar e aposta agora em multas para evitar sujeira em dia de chuva

MARIANA BARROS
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova ofensiva da Prefeitura de São Paulo contra a sujeira nas ruas em época de chuvas prevê até multa para o morador que tirar o lixo de casa muito antes do horário da coleta, mas ignora um projeto de 2004 concebido justamente para evitar que as águas espalhem os resíduos pelas vias da cidade, como tem ocorrido nos últimos dias.
Trata-se da instalação de contêiners em boa parte das ruas e avenidas da cidade, o que acabaria com as cenas de sacos de lixo sendo levados pela enxurrada e entupindo bueiros.
Pelo contrato do lixo, assinado em 2004 pela gestão Marta Suplicy (PT), as concessionárias de coleta teriam de instalar os contêiners até outubro de 2008. As estruturas plásticas com tampa seriam colocadas a cada cem metros nas principais vias paulistanas, principalmente em áreas onde há prédios.
O projeto, porém, foi abandonado em 2005 pela gestão José Serra (PSDB) e ignorado pela gestão de seu sucessor e afilhado político, Gilberto Kassab (DEM), segundo a qual os contêiners só serão implantados em 2014. O adiamento se deve a uma estratégia da prefeitura para obter desconto no serviço por meio de cortes de investimentos das empresas.
Em 2005, o então prefeito Serra encomendou um estudo à Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) para analisar o contrato do lixo, que o tucano suspeitava estar superfaturado. O órgão concluiu que os valores estavam corretos, mas que, se o início de alguns serviços fossem adiados, os pagamentos mensais poderiam ser 17,31% menores.
Em 2007, Kassab fez um acordo com as coletoras Loga e Ecourbis para que recebessem 17,31% a menos do previsto e, em troca, adiassem os seus investimentos, que incluíam a instalação dos contêiners.
Agora, o prefeito vai iniciar uma campanha para informar horários de coleta a fim de que a população coloque o lixo para fora de casa na hora certa, sob pena de multa a partir de abril.
Segundo o secretário de Serviços, Alexandre de Moraes, a multa só será aplicada após uma campanha publicitária da prefeitura. A propaganda só deve ser feita dentro de aproximadamente um mês.
Será criado ainda um site no qual o morador poderá verificar o horário da sua coleta.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1401201011.htm

Ajudem-me a ajudá-los!

Hoje de manhã anotei o número da conta da Cruz Vermelha para fazer uma doação para as vítimas do terremoto no Haiti.

Antes de fazer, fiz uma pequena pesquisa, no espírito do "intelligent giving", e não gostei do que li sobre eles: gastos administrativos muito altos, salário e bônus escandalosos para seu CEO, e uma dívida milionária que pode absorver boa parte do dinheiro doado antes de atingir quem dele mais necessita.

Tentei entrar no site da Médico Sem Fronteiras, organização cujo trabalho admiro muito e para quem há tempos ando pensando em doar (mas nunca fazia). O site brasileiro não entra (talvez porque muita gente esteja tentando acessá-lo hoje). Peguei o cache do Google da página de doação: eles informam o número da conta, mas não o CNPJ! Assim fica difícil...

Tentei várias vezes doar para a Partners in Health, que trabalha há muitos anos no Haiti e também tem um trabalho respeitável, mas primeiro deu erro de "billing address", depois ele avisava que havia campos não preenchidos, quando não havia. Desisto!

Pedi para minha irmã fazer a doação à MSF e à PIH a partir dos EUA. Lá é possível doar até mesmo por texting (mandando um SMS para um determinado número).

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Pics of the day

"Ocupação do espaço pelos diferentes tipos de transporte. 50 pessoas de carro, de ônibus, de bicicleta."

Fotos da exposição Saint-Étienne Cité du Design, no Centro Cultural Banco do Brasil até 31 de janeiro.

Crédito: Dominique Combe
45ReF.png

Crédito: Dominique Combe
uZmLH.png

Crédito: Dominique Combe
LYC5R.png

Mídia e poder

Em novembro do ano passado participei de um interessante seminário sobre "mídia e poder" na Universidad de los Andes, em Bogotá, Colômbia. Nas minhas férias talvez eu conte um pouco minhas impressões sobre a cidade e mais detalhes sobre o seminário, mas agora tenho que ser mais suscinto.

Uma das apresentações era sobre uma investigação feita por pesquisadores da própria UNIANDES sobre o impacto de diferentes meios de comunicação sobre a popularidade do presidente Uribe.

Muitas variáveis estão em jogo neste caso: a diferença do tamanho da audiência de cada um dos meios (quase todos assistem tevê, muitos ouvem rádio, muito poucos lêem jornal etc.), profissionalismo e imparcialidade (no Brasil, jornais e transmissoras regionais de tevê estão sob controle de políticos) etc.

Mas eles destacaram também as propriedades intrínsecas de cada meio: ao noticiar uma ação positiva do governo, a televisão tinha um efeito muito maior no crescimento da popularidade do presidente, ou seja, a "imagem" positiva era mais poderosa que as palavras.

No caso de escândalos de corrupção (que não faltam, tanto lá quanto cá), é entre os leitores de jornal que se sentia a maior variação negativa na popularidade de Uribe: os jornais têm mais "fôlego investigativo" e, apesar das fotos terem um impacto semiótico um pouco menor que as imagens cores e movimento da tevê, há muito mais exposição de tabelas, dados, infográficos, fluxogramas das "conexões perigosas" etc., menos palatável na telinha.

E como sabemos que uma experiência boa a gente conta para 10, e uma experiência ruim a gente conta para 100, os jornais também têm ainda a vantagem na hora do compartilhamento entre a rede de contatos. YouTube pode ter ajudado a tornar gafes como a do Boris Casoy mais conhecidas a quem não assistiu ao noticiário ao vivo, mas ainda assim a circulação de vídeos ainda é muito mais restrita (por supostamente infringir direitos autorais, um vídeo gravado de uma grande rede de mídia não costuma durar muito tempo no YouTube, por exemplo).

Mas por que me veio tudo isso à cabeça hoje? Mais uma vez, ao ficar horrorizado com a cobertura do jornal matinal da Globo. Ao cobrir a inauguração do Parque Leopoldina - Villas Bôas, ela mostrou rapidamente algumas imagens do parque, e depois centrou na figura do governador fazendo a coletiva no parque, com o prefeito da cidade ao fundo. Não disse absolutamente nada que não teria dito em qualquer outra inauguração de parque: "esta é mais uma opção de lazer para os cidadãos etc.". Publicidade gratuita, outra vez.

Os jornais, um pouquinho mais atentos, deram mais destaque a fatos que as próprias imagens da Globo mostravam (para não serem acusadas de omissão) mas não apontavam, e que me chamaram a atenção:

A associação de moradores diz que o projeto é bem-vindo, mas reclama que pouca coisa foi feita para a abertura.
"A prefeitura plantou árvores e deu uma maqueada, mas, na verdade, boa parte do que tem lá hoje já existia", disse José Benedito Moreli, presidente do Conselho das Associações de Amigos de Bairro da Lapa.
Em visita ao parque, a Folha constatou que o uso de alguns equipamentos pode trazer certo risco. Um campo de futebol tinha diversos buracos, que estavam encharcados. Num campo de society, montes de mato deixavam o gramado irregular.

Fiz esse mesmo comentário sobre o gramado do campo de futebol para a minha esposa ao ver as imagens. Para quem assiste tevê, ficou apenas o tom positivo. Para quem leu o jornal, soube que R$ 4,5 milhões de investimento público num parque, envolvendo dois níveis de governo, não foi sequer capaz de incluir algumas horas de jardinagem básica (é no mínimo estranho, senão suspeito).

Aliás, o mesmo problema ocorre em quase todos os outros parques da cidade, incluindo o Ibirapuera, um dos cartões-postais da cidade, que freqüento toda semana.

Até quando os paulistanos irão se contentar com serviços públicos "meia boca", simplesmente por ser mais e melhor do que o tinham antes? (Mas muito menos do que poderiam ser, com os mesmos recursos mais bem empregados.)

Essa mesma indignação, aliás, serve para Educação, Saúde, Habitação, Segurança Pública, Transportes...

Mini-balanço da era Lula

Fernando de Barros e Silva faz miséria do curto espaço que tem no jornal... 7 anos em 325 palavras.

Se ainda não recomendei, faço agora: a ótima análise que a The Economist recentemente fez sobre o Brasil (Brazil takes off). Leiam enquanto o acesso ainda está aberto!

* * *


São Paulo, sexta-feira, 8 de janeiro de 2010


ABC da era Lula

FERNANDO DE BARROS E SILVA

SÃO PAULO - Fazer um resumo compreensivo dos anos Lula será um dos desafios do jornalismo em 2010. É um trabalho que se situa entre o registro noticioso e a perspectiva histórica, à cata do sentido entre os acontecimentos e o legado.

Sempre haverá divergências a respeito, mas, à luz da história, a tendência é que prevaleçam as continuidades e a percepção de um mesmo processo, enquanto, no calor da disputa política, e sobretudo neste ano, devem ser destacadas as rupturas e diferenças entre Lula e Fernando Henrique Cardoso.
Nem ruptura nem continuidade, um dos aspectos importantes e ainda pouco esclarecido desse período talvez resida na inflexão do próprio Lula entre o primeiro e o segundo mandatos. A crise do mensalão é o que divide as duas fases.

Recorde-se o que foi Lula 1º. Um governo que tinha na política conservadora de Palocci a sua âncora e no mais tateava à procura de um enredo. O Fome Zero revelou ser um slogan vazio. Reformas não previstas na campanha, mas também nunca concluídas, vieram em socorro da carência de ideias: a tributária acabou duas vezes frustrada; a da Previdência, que chegou a ser aprovada, ficou suspensa no ar; e a trabalhista foi abandonada.

A expulsão dos radicais simbolizou a conversão do PT ao pragmatismo. Alguém se lembra de Babá, o ícone da resistência de esquerda?

Renascido das cinzas em 2006, Lula 2º substituiu o mensalão pelo PMDB, ao mesmo tempo em que se tornou menos dependente do Congresso. Escorado pela popularidade que o crescimento e os programas de transferência de renda lhe trouxeram, Lula criou seu próprio mito.

Na economia, o segundo mandato instalou a tensão entre a antiga ortodoxia e a ampliação do gasto público. Mais: Lula 2º vem patrocinando o avanço metódico do governo sobre espaços antes ocupados pelo setor privado. O que será desse capitalismo de Estado e qual o destino desse getulismo tardio misturado com bolsa família é algo que o processo eleitoral talvez ilumine.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0801201003.htm

Constanza Peculato

artigos_img_topo_artigo.jpg

Para o corrupto moderno.

* * *

Propina: modo de usar
A cueca boxer é a aposta do verão

ROBERTO KAZ  |  Revista Piauí  |  Janeiro de 2010

Em dezembro, o Brasil assistiu a mais um espetáculo de cupidez, corrupção e engenho. Como não podia deixar de ser, o palco escolhido foi o bom e velho Distrito Federal, o Canecão dos escândalos nacionais. A essa altura, é provável que o leitor desgostoso não suporte ler nem mais um parágrafo sobre os desmandos do governador José Roberto Arruda e seu séquito de empresários e deputados distritais. Estará com toda a razão. Não é disso que se trata aqui.

Digno de nota - aliás, literalmente - é outra coisa. Tome-se o presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente, do DEM. Cenas exibidas em todas as televisões do país mostram-no enfiando, com sofreguidão, maços espessos de cédulas para dentro da roupa. Fiel ao sobrenome, Prudente admitiu que, sim, era propina, e teve a gentileza de explicar: "Eu recebi o dinheiro e coloquei o mesmo nas minhas vestimentas, em função da minha segurança. Eu não uso pasta."

É claro feito a luz: de uns tempos para cá, a indumentária vem se transformando numa das ferramentas mais importantes do corrupto bem-sucedido. A estabilidade fiscal trazida pelo Plano Real tornou a pasta definitivamente démodé. Na época do Cruzeiro, Cruzeiro Novo ou Cruzado, propina boa era propina volumosa, que exigia mala preta. Com o fim da inflação, 10 mil reais - a unidade mínima do corrupto contemporâneo - passaram a caber num único bolso. Mas bolsos ficam relativamente expostos aos ladrões, e daí segue-se uma das grandes novidades do prêt-à-porter contemporâneo: roupas íntimas como depósito de valor. A moda não é partidária. Começou com José Adalberto Vieira da Silva - assessor parlamentar do PT -, flagrado em 2005 com 100 mil dólares na cueca. Chega agora às partes íntimas dos Democratas, não sem antes fazer escala nos glúteos e coxas do empresário Alcyr Collaço, dono do jornal Tribuna do Brasil, que conseguiu a façanha de amarfanhar 60 mil reais para dentro das calças - três maços pela frente, três maços por trás.

Com quantos, maços, então, se faz uma cueca? Impunha-se a investigação. Para fazer as vezes de maços com 100 notas de 100 reais, escolheu-se papel com gramatura igual à da cédula oficial, e, com tesoura em punho, procedeu-se ao corte. Com austeridade duvidosa, considerou-se 100 mil reais como o piso máximo do corrompido nacional, o qual, para efeito de identificação, será tratado daqui para frente por outorgado.

Foram testados três tipos de cueca: slip, boxer e samba-canção, cada qual com suas virtudes e defeitos. A cueca string ou a tanga eternizada por Fernando Gabeira não foram adotadas, por não serem da preferência do brasileiro médio. Surpreendentemente, verificou-se que a diferença entre tamanhos P, M e G - todos devidamente testados - pouco contribui para as conveniências do armazenamento. Deve ser levada em conta, entretanto, quando o assunto é segurança.

Segundo levantamento realizado em 2008 pelo Ibope, a cueca mais vendida no Brasil é da marca Zorba - era, portanto, lógico dar-lhe preferência. Para que não houvesse problema com o elástico, que lasseia com o tempo, optou-se em utilizar modelos saídos da embalagem, comprados por cerca de 50 reais no site cuecasonline.com.br. Para as meias, empregou-se dois modelos - de algodão, escuras e finas, para combinar com o paletó; e de futebol, subindo até os joelhos, para ampliar a área de guarda.

A cueca samba-canção teve de ser logo descartada, por ineficaz. Como se sabe, o modelo dispõe de um único elástico. Para ficar no lugar, o dinheiro é laçado pelo centro, e assim permanece, sem nenhuma estabilidade, bamboleando para lá e para cá, a metade superior das notas acima da linha de cintura. O outorgado fica exposto a dois riscos graves: o de ser assaltado, e o de se ver com cédulas que lhe brotam calça afora, o que, além de inconveniente, não é elegante. Glória Kalil não aprovaria.

As cuecas slip, em formato de sunga, são substancialmente mais eficientes. Podem guardar até dois maços na vertical, na região das nádegas, e outros dois na horizontal, sobre as coxas. O dinheiro fica muito bem acondicionado entre os elásticos da cintura e das pernas. Paga-se 10 reais pela peça; leva-se 40 mil.

A melhor opção, no entanto, é a boxer, que nada mais é do que uma samba-canção apertada. Além de carregar os mesmos dois maços nas nádegas, ainda é possível - como fez o diligente empresário Alcyr Collaço - entocar outros quatro na parte da frente, dois em cada perna, todos na vertical. Embora cause desconforto, recomenda-se o uso de tamanho P, para que as notas fiquem bem juntas ao corpo, evitando que deslizem pelas pernas durante o trajeto do gabinete ao carro. Por 15 reais gastos na boxer, leva-se 60 mil reais. É a melhor relação custo-benefício.

Para a parte de baixo, recomenda-se vivamente o uso de meiões. Vale o mesmo critério adotado para as cuecas: o mais importante é que o dinheiro fique inteiramente abrigado dentro da peça de roupa. Se a meia atinge apenas a altura das canelas, corre-se o risco de o maço cair durante a caminhada. O meião consegue armazenar dois bolos de dinheiro por perna, o primeiro na parte interna, o outro na panturrilha. Há que se ter cuidado para não machucar os tornozelos. Paga-se 12 reais no par; leva-se 40 mil.

O cidadão que for a Brasília vestindo o conjunto boxer-meião poderá voltar 100 mil reais mais rico. Desde que não seja filmado.

URL: http://www.revistapiaui.com.br/edicao_40/artigo_1225/Propina_modo_de_usar.aspx

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Lixo marinho

Horripilante! O lixo que estamos lançando ao mar está matando pássaros (e peixes) a mais de duas mil milhas de distância do continente mais próximo.

Boiando sobre o Oceano Pacífico há uma "ilha de lixo" cuja área é duas vezes o território do Texas.

* * *

Midway
Message from the Gyre  
 
These photographs of albatross chicks were made on Midway Atoll, a tiny stretch of sand and coral near the middle of the North Pacific. The nesting babies are fed bellies-full of plastic by their parents, who soar out over the vast polluted ocean collecting what looks to them like food to bring back to their young. On this diet of human trash, every year tens of thousands of albatross chicks die on Midway from starvation, toxicity, and choking.

To document this phenomenon as faithfully as possible, none of the plastic in any of these photographs was moved, placed, manipulated, arranged, or altered in any way. These images depict the untouched stomach contents of baby birds in one of the world's most remote marine sanctuaries, more than 2000 miles from the nearest continent.

~cj, Seattle, October 2009

At8wV.jpg

It9Aw.jpg

4ynQr.jpg

MGJdU.jpg

EdmAq.jpg

6Pwwh.jpg

jVOFe.jpg

Bg5Ma.jpg

URL: http://www.chrisjordan.com/current_set2.php?id=11

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Elitismo na imprensa

Há muito eu já desconfiava que a cobertura jornalística é muito desfavorável aos mais pobres.

Dado um mesmo evento (ex.: homicídio), o nível de exposição na imprensa -- e, por conseguinte, de repercussão na sociedade -- de um crime cometido contra uma criança loirinha ganha capa da Veja, passeatas pela paz na avenida Atlântica, campanha no Congresso pela redução da idade de inimputabilidade (maioridade) penal etc.

Se for um menino pretinho, é mostrar na tevê a mãe chorando, o cretino do repórter perguntar para o pai "Como o senhor está se sentindo?", e passar rápido para os gols da semana.

Mas no caso do deslizamento de terra em Ilha Grande e Angra dos Reis, onde pobres e ricos foram simultaneamente afetados, essa diferença de tratamento ficou completamente, desconcertantemente, embaraçosamente descarada.

Não lembro mais dos detalhes, mas de uma família mais rica fizeram uma mini-biografia da vítima, mostraram imagens e vídeos da pessoa quando viva, depoimentos de amigos e familiares etc. No mesmo bloco, momentos depois, falavam de uma vítima pobre. Se a reportagem durou 20 segundos mostrando o desespero dos pais, foi muito.

Mal dava para acreditar que se tratava da maior rede de televisão do País...

Presidente da Paz em tempos de Guerra

A notícia é antiga, mas só hoje eu consegui ler o discurso de Barack Obama de aceitação do Prêmio Nobel da Paz. Inspirador!

But we do not have to think that human nature is perfect for us to still believe that the human condition can be perfected. We do not have to live in an idealized world to still reach for those ideals that will make it a better place. The non-violence practiced by men like Gandhi and King may not have been practical or possible in every circumstance, but the love that they preached – their faith in human progress – must always be the North Star that guides us on our journey.

For if we lose that faith – if we dismiss it as silly or naïve; if we divorce it from the decisions that we make on issues of war and peace – then we lose what is best about humanity. We lose our sense of possibility. We lose our moral compass.


Impressionante sua coragem de passar boa parte do discurso falando das guerras travadas pelo seu país, do conceito de "guerra justa", e da ambivalência daqueles radicalmente contra qualquer tipo de conflito armado.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Let’s do it!

No dia 3 de março de 2008, na Estônia, mais de 50 mil voluntários (4% da população) se dedicaram a uma mega-empreitada para limpar o país (literalmente: recolher 10 mil toneladas de lixo).

(Aqui, com legenda em português, mas vídeo de pior qualidade)

O Brasil tem mais de 190 milhões de habitantes. Se conseguíssemos juntar 1% disso, seriam quase 2 milhões de brasileiros. É possível mobilizar todo esse contingente por aqui se não for para um jogo de futebol, desfile de carnaval ou show de axé?

Talvez ainda mais importante que nossas cidades imundas seja a sujeira na política. Conseguiríamos limpar isso por meio de voluntários? (assim como na Estônia, poderíamos juntar especialistas e discutir idéias e possíveis estratégias de ação)

Mas talvez a pergunta ainda mais fundamental: queremos isso, mesmo?

Video of the day: Small Penis

Small Penis from Espen Hobbesland on Vimeo.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010