sexta-feira, 31 de julho de 2009

Como mentir com estatísticas

Ainda sobre o assunto, acabei de ler um ótimo post da Soninha sobre o "custo-automóvel". Incrível, temos praticamente as mesmas percepções sobre o problema, sobre as soluções, e sobre os "problemas das soluções".

Na verdade, eu procurava a transcrição do absurdo que ouvi no Bom Dia Brasil no começo da semana, e acabei caindo nos comentários dela sobre a mesma reportagem. Como não achei a transcrição, vou de memória:

Chamada (Renato Machado): "Pesquisa mostra que São Paulo tem um dos estacionamentos mais caros do mundo"

Abertura da reportagem (jornalista da Globo): "Uma pesquisa feita em 140 cidades de diversas partes do mundo mostrou aquilo que os paulistanos já sabiam na prática: São Paulo tem um dos estacionamentos mais caros do mundo"

Este que vos fala: "WTF?!?!?!"

Os quatro assinantes deste blog devem lembrar de post de 2008 chamado "São Paulo pode parar", e sua atualização em 2009, "São Paulo (ainda) pode parar", que diziam exatamente o contrário: São Paulo tem um dos estacionamentos mais baratos do mundo, sobretudo quando ponderamos por tamanho ou densidade populacional, frota de veículos etc.

O conteúdo da reportagem do Bom Dia Brasil, entretanto, mostrou que eu não estava louco: "São Paulo é a 65ª cidade mais cara do mundo para estacionar o carro". Ah...

Espera um pouco: São Paulo, uma das maiores metrópoles do planeta, está praticamente na metade do ranking, e a chamada a coloca entre "as mais caras do mundo"? Será que a chamada se inverteria ("São Paulo tem um dos estacionamentos mais baratos do mundo") estivesse ela apenas seis posições atrás, na 71ª colocação?

Ou é má fé, ou é mal jornalismo. Vindo da maior rede de televisão do Brasil, nenhuma das duas hipóteses é aceitável...

Fretados

Vistos como uma boa solução no passado, hoje são um imenso problema no trânsito paulistano.

Seus usuários são contundentes: nenhum transporte público se equipara a eles em conforto ou conveniência.

A frota aumentou muito nos últimos anos, contribuindo para o agravamento do problema.

Cometem freqüentemente infrações e atrapalham a vida dos outros motoristas.

Não raro, estacionam irregularmente bloqueando até mesmo os pontos dos ônibus públicos.

Muitos deles estão em péssimo estado de conservação, contribuindo para a piora do meio ambiente.

Em vários outros faltam diversos itens de segurança, colocando em risco a vida de motoristas e passageiros.

Como já deve ter ficado claro, estou falando dos... automóveis particulares.

Não é que eu acho que os fretados não causem problemas. É que os problemas não são muito diferentes daqueles causados pelos veículos que, em sua imensa maioria, levam apenas um passageiro.

Há um problema de local para desembarcar? Que tal transformar vagas de estacionamento nas ruas em pontos de parada de fretados, em horários determinados (das 7 h às 9 h e das 17 h às 19 h, por exemplo)? Naquele mesmo espaço de poucos metros, melhor que desembarquem milhares de passageiros de fretados do que que estacionem por 8, 10 horas seguidas apenas alguns poucos veículos particulares. Pista é (deveria ser) para circular.

Faltava coordenação, regulação dos fretados? Certamente. Sem planejamento de linhas e trajetos, de horários de embarque e desembarque, de pontos pré-determinados de parada etc., era evidente que haveria problema.

Também faltou --e muito-- a aplicação de códigos já existentes. Li depoimentos de pessoas que reclamavam que os fretados bloqueavam todos os dias a entrada de garagem de seus prédios. Se a CET multasse e pontuasse a infração na habilitação do motorista do fretado alguns dias na mesma semana, já seria o suficiente para ele perder a habilitação por um bom tempo.

Mas o pior, para mim, é ver que os planejadores públicos não entendem que os fretados não estão disputando espaço com o transporte público, mas principalmente com os particulares. É a alternativa coletiva ao conforto e à conveniência que um carro oferece, e que nem no sonho mais delirante do nosso prefeito o transporte público pretende se equiparar (o que não é dizer que o transporte público não possa ser melhorado -- pode e deve, e muito).

Ou o que seria pior: entendem, mas já tomaram a decisão de que o último grupo contra os quais eles querem comprar briga é com a classe média motorizada. Só isso para entender por que vêm tomando repetidamente as piores decisões possíveis em relação ao trânsito paulistano.

Algumas idéias inovadoras e de alto impacto já apresentei aqui neste blog (as "medidas extremas" nº 1, 2, 3, 4 e 5). Algumas já foram adotadas e aprovadas por outras cidades do mundo. Outras, acho que ninguém ainda teve coragem de adotar ("tarifa zero" no transporte público, por exemplo).

Há algum político corajoso e visionário capaz de tomar alguma dessas medidas (ou outras do mesmo naipe) por aqui?

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Leading by example

Michael Bloomberg, o prefeito de Nova Iorque, é uma das dez pessoas mais ricas dos EUA, e o residente mais rico da cidade que administra.

Defensor do transporte público, ele vai ao trabalho todos os dias de metrô. Ok, ele pega uma pequena carona de carro até uma estação um pouco mais distante de sua residência, de forma a evitar baldeações e pegar o trem expresso, mas 75% de seu trajeto diário é feito em transporte público.

Como o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, vai ao trabalho? Não sei se é todo dia, mas sei que o prefeito faz uso regular de helicóptero (até mesmo durante a campanha, enquanto a candidata Soninha pedalava sua bicicleta).

O secretário de Transportes, Alexandre de Moraes, foi hoje de manhã até a estação Imigrantes do metrô investigar o cumprimento das novas restrições sobre os ônibus fretados. Negando que os usuários trocariam os fretados por carros particulares, o secretário mostrou convicção de que eles passarão a utilizar o transporte público. Cercado por usuários irritados de fretados, fugiu em disparada. De carro. (A secretaria municipal de Transportes fica na rua Boa Vista, a poucos metros do metrô São Bento.)

Bem, se os dirigentes de São Paulo estão tão confiantes na rede de transportes públicos da cidade, por que não a utilizam diariamente?

PS: Essa minha indignação faz parte de uma opinião mais ampla que tenho sobre "liderar pelo exemplo", segundo a qual os dirigentes públicos deveriam usar os mesmos serviços públicos pelos quais são responsáveis (aliás, acho que isso deveria valer para administradores privados também, que deveriam consumir a comida que produzem, ligar para a central de atendimento ao consumidor que oferecem etc.). Talvez seja a maneira mais rápida e pacífica de resolvermos grande parte dos problemas que nos afligem...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Pic of the day

Photo by Peter Rimar
KabulStreet04a.jpg
Afghan teenager smiles for the camera in downtown Kabul, Afghanistan (June 2003).

Via Wikipedia apud Reddit

Como funciona o Congresso

"Deputado, assina aqui para mim." A maioria assina sem titubear, em geral sem saber do que se trata. "Só um ou outro xarope pede explicação", diz. Vez por outra, voltam para reclamar: "Poxa, Jani, era para cpi...", protestam, depois de terem inadvertidamente apoiado a instalação de uma.

Deliciosa reportagem da Revista Piauí sobre a arte de recolher assinaturas para a criação de CPI, requerimentos de Proposta de Emenda Constitucional, recursos...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Uma doença coletiva

Os defensores da ética na atividade pública pregam para os convertidos. Os outros formam na legião dos desesperançados ou dos indiferentes.

Bastante cínico e realista (como eu). Bárbaro, o artigo.

Mais gostoso ainda foi ter falado sobre isso hoje durante o almoço, antes de tê-lo lido.

* * *

Uma doença coletiva

Luiz Weis  |  O ESTADO DE S.PAULO, 22 DE JULHO DE 2009

    É confortador imaginar que, nas suas proporções conhecidas, a corrupção um dia se tornará disfuncional para o desenvolvimento brasileiro. Seria uma questão de incompatibilidade. O argumento é que, a partir de um certo patamar, por força da própria evolução de suas relações com a esfera pública, as forças do sistema econômico finalmente pressionariam os governos a reduzir a dimensões toleráveis o espaço que neles ocupam o patrimonialismo, a patronagem e o coronelato político, remanescentes de um País que teria caducado.

    Mas não convém apostar nisso o último centavo. Comparando: o mundo já mostrou que a economia de mercado, ou qualquer outra que tentou substituí-la, não é nem a irmã nem a parteira da liberdade e da democracia, salvo quando o bloqueio à circulação de ideias trava o crescimento, por inibir a inovação científica e tecnológica – o que foi o caso da União Soviética, mas não é, longe disso, o caso da China.

    Do mesmo modo, a economia é perfeitamente capaz de avançar num cenário de práticas políticas arcaicas – desde que não se voltem contra ela. Do contrário, a corrupção entranhada no seu sistema político teria impedido o Japão de ser a segunda maior potência econômica do globo. (A esbórnia também corre solta na China, sem efeitos palpáveis sobre a sua fabulosa expansão.)

    Claro que a corrupção produz, no acumulado, um incalculável desperdício de recursos. A captura dos Poderes do Estado pelas caciquias políticas e seus parceiros na sociedade, assim como a infinidade de pedágios que os agentes econômicos pagam às máfias burocráticas para prosperar – em determinados setores, um dado central da competição entre as empresas –, cria um aluvião de gastos que de outro modo teriam um destino socialmente mais justo.

    Só que o fato de tudo sair mais caro do que precisaria, décadas depois de décadas, não impediu que o País crescesse nem impedirá que continue a crescer. O perverso repasse dos custos, de quem pode mais para quem pode menos, garante a perpetuação do processo. A qualidade dos serviços públicos dos quais a maioria da população depende seria naturalmente outra, mas desde quando isso foi um breve contra a corrupção? Para a imensa constelação de interesses que conhecem o caminho das pedras, dá no mesmo.

    Ainda agora, na passagem dos 15 anos do Plano Real, uma profusão de comentaristas destacou que a estabilização monetária criou condições para mudanças institucionais que provocaram reações em cadeia na gestão macroeconômica e no manejo das finanças públicas. Mas é como se nada disso tivesse acontecido, a julgar pela persistência dos velhos costumes políticos. Eles eram coerentes com o Brasil pré-Real, mas só em teoria se tornaram incoerentes com o pós. O poder oligárquico opera com as metas, os métodos – e em geral com os resultados – de sempre.

    A sequência dos escândalos no Senado mostrou como vai bem, obrigado, a forma de proceder dos políticos que espelha, com desenvoltura típica, a disseminada "cultura da transgressão" de que fala o historiador Boris Fausto. Nela se escora a impunidade que do lado de cá tanto se condena, mas não a ponto de desencadear uma contestação efetiva ao seu reinado. Provavelmente porque, embora em muitos aspectos o Brasil se tenha renovado, a complacência como ilícito segue inabalada.

    Em parte, pelo cálculo de conveniências – caso do presidente Lula quando coloca o senador José Sarney sob a proteção do governo. Em parte, pela resignação dos escandalizados. Esse é um ponto que não pode ser excessivamente sublinhado. Quaisquer que sejam as suas modalidades, a corrupção se mantém porque o País pode ir para a frente coexistindo com ela e porque a rotina da privatização do patrimônio comum não é desafiada por valores amplamente compartilhados em sentido contrário.

    Os defensores da ética na atividade pública pregam para os convertidos. Os outros formam na legião dos desesperançados ou dos indiferentes. Os novos incluídos que se beneficiaram da combinação singular do recente ciclo de prosperidade com os ousados programas sociais de Lula não estão nem aí para a lambança dos políticos e dos operadores do aparelho de Estado. E por que haveriam de estar? A melhora de seu padrão de vida não dependeu da diminuição dos níveis de corrupção nas instituições lá de cima.

    Instituições – para quantos brasileiros isso realmente importa? Para a economia, sem dúvida. Afinal, embora varadas de fraudes, o seu funcionamento e sua estabilidade são essenciais para a segurança dos empreendimentos. Para outros setores vocais da sociedade, nem o receio de que a sua erosão as mergulhe numa crise de efeitos insuspeitados os leva a articular um projeto para o seu resgate preventivo.

    É um panorama paradoxal. Este é o país em que o recém-eleito presidente da UNE diz, numa boa, que "émais do que legítimo que o governo financie o movimento estudantil" – uma forma de corrupção como qualquer outra. Mas é também o país em que, segundo uma consulta que recebeu nada menos que 500 mil respostas, a maioria falou espontaneamente em valores como ética e honestidade ao responder à pergunta: "O que deve mudar no Brasil para sua vida melhorar de verdade?"

   As pessoas podem fazer a coisa errada, mas pelo menos sabem qual é a coisa certa. Ou, como observou a senadora Marina Silva, em artigo na Folha de S.Paulo de segunda-feira, comentando a consulta que dará o mote para o próximo relatório das Nações Unidas sobre desenvolvimento humano no Brasil: "Não se trata de colocar no pedestal a sociedade supostamente virtuosa contra um território vicioso, que seria o da política. Há enormes contradições entre o que se entende ser o correto e aquilo que de fato se pratica."

    Essa contradição é agravada pelos "sinais emanados das instituições", diz ela. "É um processo que acaba virando doença coletiva." É também um círculo vicioso que nada interrompe.

Luiz Weis é jornalista.

URL: http://digital.estadao.com.br/download/pdf/2009/07/22/A2.pdf

* * *

Para quem chegou até aqui, um brinde: o link para o debate que fizemos em agosto de 2007 sobre o tema da "cultura das transgressões no Brasil" (com acesso aos vídeos das palestras) e para o livro homônimo que lançamos logo depois.

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sábado, 18 de julho de 2009

São Paulo (ainda) pode parar

São Paulo continua com um dos estacionamentos mais baratos do mundo (entre grandes metrópoles), e ainda parece escândalo quando se divulga que um estacionamento na região da Berrini custa (oohhhh!) R$ 300 por mês…

Shutterstock

Daily parking rate, 2008

Fonte: The Economist

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Departures

AFP

Para que tanto apego ao corpo, mesmo depois que ele perde a utilidade?

Correção: ele perde a utilidade se simplesmente o queimarmos.

Na terra, ao menos serviria como adubo. Mas se enchermos de concreto em volta, como fazemos nos países predominantemente monoteístas (apenas em 1963 a igreja católica aboliu as restrições à prática, muçulmanos ainda proíbem, e os judeus também não gostam muito da idéia, diz a The Economist), ocupa um espaço danado. Menos problema em países pouco populosos, também argumenta a revista. Mesmo assim, em vez dos cemitérios poderia haver parques! Imagina uma São Paulo com 10 vezes mais Ibirapueras, que beleza...

Por que não doar para a Medicina, para melhorarmos as aulas de anatomia? A proporção de cadáveres por aluno ainda é baixíssima no Brasil (só não é menor por conta dos indigentes -- e pelo contrabando de cadáveres).

Não consigo entender por que alguém prefere ter seu corpo lentamente devorado por milhões de bactérias carnívoras ou incinerado a dar sua última contribuição para a melhora das condições de vida dos que aqui ficam. É o ato final de egoísmo (ou da pura falta de esclarecimento).

Ainda sobre o assunto:

Gostaria que minha cerimônia de despedida fosse como a do filme Philadelphia (ninguém chorando; uma celebração da vida, não da morte). Ou quem sabe assim (o filme mais bonito que vi esse ano).

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Evolução e moralidade

http://jenlars.mu.nu/puppies_baby.jpg

What would you do if you found a wallet on the street? Leave it? Take it to a police station? Post it back to the owner? Keep it, even?

The answer, scientists have found, depends rather more on evolution than morality.

Interessante artigo do The Times sobre um experimento com carteiras abandonadas. As chances de retorno decresciam com base no que havia dentro da carteira (além dos documentos). Das "mais devolvidas" para as "menos":
  • Foto de bebê sorrindo: 88% de retorno
  • Foto de filhote de cachorro: 53%
  • Foto de família feliz: 48%
  • Foto de casal de simpáticos velhinhos: 28%
  • Papéis de doação de caridade: 20%
  • Apenas documentos ("carteira-controle"): 15%
Se eu colocasse a foto acima, minhas chances se somariam, ou ficariam entre 53 e 88%? (pena que o bebê não está sorrindo...)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Vengeance is best served… creatively

We've heard this tune before, but this one ends with a twist:

  1. Musician witnesses United Airlines baggage handlers throwing his guitar
  2. Guitar is wrecked, but United won't help
  3. Singer writes a song and makes a video: "United Breaks Guitars"

More about Carroll's saga here

terça-feira, 7 de julho de 2009

Imigração e criminalidade

Quando estudava "capital social", tinha uma forte intuição de  que não seria o número de imigrantes em si, mas a "receptividade" aos imigrantes e a disposição de integrá-los à comunidade mais ampla que mais afetaria a relação entre imigrantes e criminalidade numa dada sociedade.

Bom saber, pelo post abaixo, que há evidências que suportam essa minha intuição:

Does a receptive climate toward immigrants reduce crime?
http://gritsforbreakfast.blogspot.com/2009/07/does-receptive-climate-toward.html

(thanks to Colleen McGue for the tip)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Para beber

Estou pensando numa nova tática da próxima vez que comer em algum restaurante: não pagar no cartão os 10% de serviço, mas entregar o valor em mãos a quem me atendeu.

Agora estou começando a entender os "tip jar" que existem em vários restaurantes dos EUA, e que a StarBucks trouxe ao Brasil...

PS: a notícia abaixo refere-se à matéria "Restaurantes chiques se unem contra lei da gorjeta"

* * *
São Paulo, quarta-feira, 1 de julho de 2009

ANÁLISE

Percepção sobre gorjeta pode mudar

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Por que damos gorjeta? A resposta a esse problema não é trivial e já mobilizou diferentes escolas de economistas.
Diz a lenda que, originalmente, clientes satisfeitos com os serviços oferecidos recompensavam o prestador saindo com ele para juntos molharem a garganta --daí que, em português, "gorjeta" vem de "gorge", o termo francês para "garganta". A mesma ideia se repete nas palavras francesa e alemã para designar a prática: "pourboire" (para beber) e "Trinkgeld" (dinheiro da bebida).
Partindo do pressuposto de que apenas hábitos que promovem a eficiência são conservados, economistas de correntes mais clássicas como Kenneth Arrow (Stanford) postularam a tese de que a gorjeta é uma excelente forma de os patrões controlarem a qualidade dos serviços prestados por seus funcionários: se estes obtêm boas gratificações é porque estão agradando aos clientes.
Essas teorias, entretanto, apresentam dificuldades. Para começar, elas não explicam diferenças entre países. Enquanto nos EUA a gorjeta é uma instituição fortíssima --um negócio de US$ 5 bilhões anuais--, na Austrália e na Nova Zelândia ela é vista com desconfiança, como "coisa de americano".
As abordagens clássicas tampouco explicam por que o freguês deixaria voluntariamente a gratificação --em especial quando ele sabe que nunca mais vai voltar ao local.
Esses e outros problemas levaram economistas comportamentais como Ted O'Donoughue (Cornell) e Ofer Azar (Ben-Gurion) a propor um modelo alternativo, no qual a gorjeta é descrita também como uma norma social. O freguês pagaria um preço ao infringi-la.
Quando o cliente sai de barriga cheia do restaurante sem deixar a caixinha, não apenas prejudica sua reputação externa (todos gostamos de parecer generosos), como também perde pontos na autoimagem. A atitude é vista como uma violação a conceitos que já internalizamos, em especial o de justiça.
O risco de propostas como a que agora tramita no Congresso é que elas provoquem mudanças de percepção. Se as pessoas passarem a ver a gorjeta como menos justa -o projeto explicita a apropriação de parte dela pelos patrões-, poderão simplesmente abandonar a prática. Eu, pelo menos, só deixava a caixinha devido à crença, ingênua, agora eu sei, de que os empregados ficavam com tudo.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0107200911.htm

Minirrotatória

CET/SP apresenta: a minirrotatória:

Na verdade, transitar pela minirrotatória é bem mais simples do que muitos imaginam. Basta seguir dois princípios básicos:

(1) Dê a preferência a quem já está contornando o círculo

(2) Não bloqueie a área do cruzamento, ao redor da minirrotatória

Se os outros motoristas paulistanos entendessem, minha vida (e da minha esposa) seria muito melhor!