quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Fim da violência

Site da campanha "HOMENS unidos pelo fim da violência contra as MULHERES":

http://www.homenspelofimdaviolencia.com.br/

Também apóio o combate à violência contra o homem. E contra as crianças. E contra os idosos. Enfim, contra todo tipo de violência...

A última vez que bati em alguém foi há uns 20 anos, quando eu estava na 4ª série e era, como muitas outras crianças, um idiota. Dei um soco, tomei vários, depois parei, porque vi que dói -- só percebi o quanto dói nos outros quando doeu em mim, até aí nenhuma novidade da psicologia infantil.

Será que tem gente que encara um tipo de violência como normal, aceitável, e outro como intolerável? Como será que funciona esse raciocínio?! Talvez, se a gente conseguir entender os mecanismos psicológicos da violência, conseguiremos acabar com todas de uma só vez, sem precisar de campanhas dispersas, não-articuladas.

Enfim, só me incomoda um pouco esse "na mulher não pode" porque parece que a conclusão natural é "homem bater em homem, sim". E segue a violência nos estádios...

Sei que não é esse o intuito da campanha, e que esse é um problema com facetas específicas (há ligação emocional e relação assimétrica de força e de poder econômico, na maioria das vezes), e que tem que ser dirigido a um público específico, com uma linguagem específica.

Mas é só que, sem estabelecermos uma "cultura de paz" ampla e incondicional, teremos que continuar fazendo essas campanhas picadas de tempos em tempos -- até semana passada, o tema em pauta era "violência contra crianças", por conta dos múltiplos infanticídios e casos de violência nas escolas que então dominavam o noticiário.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ajuda aos desabrigados pelas chuvas

SOLIDARIEDADE EXPRESSA CORREIOS

Você faz a sua doação de onde está.
Os Correios buscam e entregam para os desabrigados da chuva.


A chuva deixou milhares de desabrigados por todo o Brasil. Você pode ajudar sem fazer muito esforço e até sem sair de casa. Preencha o formulário de doação, aqui mesmo pela internet. A gente busca seus donativos (roupas, alimentos não-perecíveis e remédios) em sua casa e faz a entrega no estado indicado por você, sem cobrança de taxa. Assim você estará ajudando a quem precisa. Participe. Os Correios estão unindo forças com todos os brasileiros para ajudar o Brasil.

Caso seu objetivo imediato seja obter informações específicas sobre nossos produtos e serviços ou mesmo registrar suas críticas, elogios, sugestões e reclamações, você pode utilizar os seguintes canais de atendimento: o serviço Fale com os Correios, em nosso site ou a Central de Atendimento ao Cliente - CAC, pelo telefone 0800 570 0100. O serviço Fale Conosco também está disponível nos Terminais de Acesso à Internet, localizados em nossas agências.

URL: http://www.correios.com.br/faleConosco/default.cfm

domingo, 23 de novembro de 2008

Broken windows: it works, bitches!

O que já era observado em vários estudos de caso agora foi comprovado por meio de um experimento científico controlado. A idéia de que "desordem" facilita outras condutas indesejáveis, alicerce da teoria das "janelas quebradas" ou da filosofia de tolerância zero em Nova Iorque, ganhou evidências ainda mais sólidas.

Quem não quiser ler o artigo abaixo pode conferir a versão em áudio:

http://downloads.economist.feedroom.com/podcast/t_assets/20081121/20081122_ae5_3233.mp3

Os números são impressionantes. O mais impressionante é o experimento no qual a desordem estava associada a uma freqüência duas vezes maior de furto. A relação entre crime e desordem é bastante complexa, mas já havia sido competentemente explorada em outro estudo empírico, Disorder in Urban Neighborhoods—. Does It Lead to Crime?, de Robert J. Sampson e Stephen W. Raudenbush, já mencionado por este blog.

Agora um prefeito não pode mais deixar uma cidade como São Paulo pronta para filmar Blindness e ao mesmo tempo bradar que está preocupado em combater a criminalidade. "Cidade Limpa" não pode ser apenas uma "canetada" disciplinando a colocação de placas, cartazes e outdoors. Deve ser um esforço constante das autoridades e da burocracia pública para manter em ordem todos os elementos públicos e privados da cidade: ruas, calçadas, muros, fachadas, praças, prédios públicos, tudo. Incrível como um slogan bonito foi a principal referência lembrada pelos eleitores sobre o candidato vencedor das últimas eleições paulistanas.

São Paulo precisa de muito mais do que isso!

* * *

Economist.com

Criminology

Can the can
Nov 20th 2008
From The Economist print edition

The idea that graffiti-spraying and other forms of low-level delinquency promote further bad behaviour has now been tested experimentally

Getty Images
Getty Images


A PLACE that is covered in graffiti and festooned with rubbish makes people feel uneasy. And with good reason, according to a group of researchers in the Netherlands. Kees Keizer and his colleagues at the University of Groningen deliberately created such settings as a part of a series of experiments designed to discover if signs of vandalism, litter and low-level lawbreaking could change the way people behave. They found that they could, by a lot: doubling the number who are prepared to litter and steal.

The idea that observing disorder can have a psychological effect on people has been around for a while. In the late 1980s George Kelling, a former probation officer who now works at Rutgers University, initiated what became a vigorous campaign to remove graffiti from New York City's subway system, which was followed by a reduction in petty crime. This idea also underpinned the "zero tolerance" which Rudy Giuliani subsequently brought to the city's streets when he became mayor.

Many cities and communities around the world now try to get on top of anti-social behaviour as a way of deterring crime. But the idea remains a controversial one, not least because it is often difficult to account for other factors that could influence crime reduction, such as changes in poverty levels, housing conditions and sentencing policy—even, some people have argued, the removal of lead from petrol. An experimental test of the "broken windows theory", as Dr Kelling and his colleague James Wilson later called the idea, is therefore long overdue. And that is what Dr Keizer and his colleagues have provided.


Dr Kelling's theory takes its name from the observation that a few broken windows in an empty building quickly lead to more smashed panes, more vandalism and eventually to break-ins. The tendency for people to behave in a particular way can be strengthened or weakened depending on what they observe others to be doing. This does not necessarily mean that people will copy bad behaviour exactly, reaching for a spray can when they see graffiti. Rather, says Dr Keizer, it can foster the "violation" of other norms of behaviour. It was this effect that his experiments, which have just been published in Science, set out to test.

His group's first study was conducted in an alley that is frequently used to park bicycles. As in all of their experiments, the researchers created two conditions: one of order and the other of disorder. In the former, the walls of the alley were freshly painted; in the latter, they were tagged with graffiti (but not elaborately, to avoid the perception that it might be art). In both states a large sign prohibiting graffiti was put up, so that it would not be missed by anyone who came to collect a bicycle. All the bikes then had a flyer promoting a non-existent sports shop attached to their handlebars. This needed to be removed before a bicycle could be ridden.

When owners returned, their behaviour was secretly observed. There were no rubbish bins in the alley, so a cyclist had three choices. He could take the flyer with him, hang it on another bicycle (which the researchers counted as littering) or throw it to the floor. When the alley contained graffiti, 69% of the riders littered compared with 33% when the walls were clean.

To remove one possible bias—that litter encourages more litter—the researchers inconspicuously picked up each castaway flyer. Nor, they say, could the effect be explained by litterers assuming that because the spraying of graffiti had not been prevented, it was also unlikely that they would be caught. Littering, Dr Keizer observes, is generally tolerated by the police in Groningen.

The other experiments were carried out in a similar way. In one, a temporary fence was used to close off a short cut to a car park, except for a narrow gap. Two signs were erected, one telling people there was no throughway and the other saying that bicycles must not be left locked to the fence. In the "order" condition (with four bicycles parked nearby, but not locked to the fence) 27% of people were prepared to trespass by stepping through the gap, whereas in the disorder condition (with the four bikes locked to the fence, in violation of the sign) 82% took the short cut.

Nor were the effects limited to visual observation of petty criminal behaviour. It is against the law to let off fireworks in the Netherlands for several weeks before New Year's Eve. So two weeks before the festival the researchers randomly let off firecrackers near a bicycle shed at a main railway station and watched what happened using their flyer technique. With no fireworks, 48% of people took the flyers with them when they collected their bikes. With fireworks, this fell to 20%.

The most dramatic result, though, was the one that showed a doubling in the number of people who were prepared to steal in a condition of disorder. In this case an envelope with a €5 ($6) note inside (and the note clearly visible through the address window) was left sticking out of a post box. In a condition of order, 13% of those passing took the envelope (instead of leaving it or pushing it into the box). But if the post box was covered in graffiti, 27% did. Even if the post box had no graffiti on it, but the area around it was littered with paper, orange peel, cigarette butts and empty cans, 25% still took the envelope.

The researchers' conclusion is that one example of disorder, like graffiti or littering, can indeed encourage another, like stealing. Dr Kelling was right. The message for policymakers and police officers is that clearing up graffiti or littering promptly could help fight the spread of crime.

URL: http://www.economist.com/science/displaystory.cfm?story_id=12630201

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

europeana: pensez culture

europeana
pensez culture

Parece ser a versão européia do Google Books.

Por que eles se recusaram a usar a infra-estrutura física (scanners de alta performance para digitalização dos livros, servidores parrudos etc.) e, sobretudo, a tecnológica (principalmente seu poderoso mecanismo de busca), eu não entendo. Se a questão é dar independência e uma "cara européia" ao empreendimento, acho que o Google não se recusaria a fazer uma parceria: a europeana faria uma máscara personalisada, e teria um índice exclusivo para seus livros — quem os visitasse, não perceberia o Google engine por trás. Mas os mesmos livros também estariam disponíveis para quem visitasse o Google Books.

Numa visão aparentemente anti-americana e anti-big corporations, resolveram partir para uma solução própria. E não agüentaram o tranco: com 10 milhões de hits por hora, o servidor deles caiu. Pensez extensibilité!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

The Political Compass™

I'm a "libertarian leftist", very close to the Dalai Lama:

http://www.politicalcompass.org/facebook/pcgraphpng.php?ec=-4.25&soc=-6.92

Where do you stand?

Math joke of the day

An infinite number of mathematicians walk into a bar. The first one orders a beer. The second orders half a beer. The third, a quarter of a beer. The bartender says "You're all idiots", and pours two beers.
— Randgruppenhumor cont'd

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Direitos demais

Carta de leitor na Folha de hoje:

Briga na escola
"Sobre a violência nas escolas, muitas vezes já me perguntei: será que esse Estatuto da Criança e do Adolescente não deu direitos demais para essa garotada e se esqueceu de estabelecer os deveres? Ou deu deveres de menos. O professor não pode fazer nada. Eles mandam na sala, na escola. Qualquer um deles sabe invocar o ECA em sua defesa. E o que é mais lamentável é ver pais de alunos que barbarizam as escolas saírem em defesa de seus filhos. No meu tempo, se o aluno era repreendido na escola por algo errado que fez, também levava castigo em casa. Havia um profundo respeito pelos professores."
JOSÉ HENRIQUE TEIXEIRA (Jaú, SP)

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1711200810.htm

* * *

Contexto:

Alunos brigam, depredam escola e apanham da PM

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Curioso é que isso esteja vindo junto com notícias sobre o aumento da violência contra as crianças.

Para alguns, elas têm direitos demais -- mesmo que estes direitos sejam sistematicamente violados.

Também acham que elas têm deveres de menos -- não percebem que o problema não é a falta de leis e regras que limitem condutas socialmente danosas, mas nossa completa incapacidade de fazer valer o império da lei, requisito elementar de uma democracia.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Subprime Pacheco

Folha de hoje:

Governo Lula teme o "subprime Pacheco"

"Subprime" é o nome dado nos EUA ao crédito de segunda linha e de alto risco cuja inadimplência está no epicentro da crise financeira global.
"Pacheco" une as primeiras sílabas de Passat, Chevette e Corcel -veículos antigos, bastante populares em sua época e que servem para simbolizar o consumo de automóveis da nova classe média, pessoas com renda mais baixa e que ajudam muito nos índices de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Genial.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Pensamento do dia

We only appear confident in our superior knowledge and in the ignorance in others because our knowledge is superior and others are ignorant.

The audacity of greed

And the folks at Morgan Stanley? They're planning to pay themselves $10.7 billion this year, much of it in bonuses — almost exactly the amount they are receiving in the first phase of the bailout. "You can imagine the devilish grins on the faces of Morgan Stanley employees," writes Bloomberg columnist Jonathan Weil. "Not only did we, the taxpayers, save their company...we funded their 2008 bonus pool."

É de matar, né?!

Leia mais:

The New Trough
The Wall Street bailout looks a lot like Iraq — a "free-fraud zone" where private contractors cash in on the mess they helped create
http://www.rollingstone.com/politics/story/24012700/the_new_trough

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Uma interpretação do Brasil

Eles vêem o Brasil que eu vejo. Eles querem o Brasil que eu quero.

* * *



Presente nebuloso

Por João Marcos Coelho, para o Valor, de São Paulo | 31/10/2008

Jefferson Dias / Valor
Os historiadores Adriana López e Carlos Guilherme Mota: desideologização também é fruto da ausência de grande partido socialista democrático polarizador, como o PS de Mitterrand

Uma frase dita por Robespierre pode funcionar como senha para a leitura de "História do Brasil - Uma Interpretação", obra monumental escrita pelos historiadores Adriana López e Carlos Guilherme Mota, recém-lançada pela editora Senac-SP. "Sou talhado para combater o crime, não para governá-lo", afirmou o revolucionário francês em 1794. Em derradeira nota de pé de página do livro, os autores completam seu pensamento: "Ainda não chegou o tempo em que os homens de bem podem servir impunemente à pátria. Os defensores da liberdade não passarão de proscritos enquanto dominar a horda de velhacos." E, em seguida, os dois fazem uma significativa advertência: "Para o leitor sem medo, vale para meditar acerca da história do Brasil contemporâneo".

Sim, trazer Robespierre para o Brasil de hoje faz muito sentido. Sobretudo após o escândalo do mensalão - ou esquema de compra de votos de parlamentares -, que estourou entre 2005 e 2006 e atingiu em cheio o Partido dos Trabalhadores e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Na opinião de Mota, professor da Universidade de São Paulo e da Universidade Mackenzie, esse episódio da história recente indica que os anos de chumbo se foram e que estamos numa nova era: "Nenhuma das vozes 'golpistas', outrora de tanta ressonância, fez-se ouvir. Definitivamente, vive-se em um outro país, sem dúvida melhor."

Apesar de identificarem muitas práticas políticas típicas de um Brasil ainda atrasado, como diria Caio Prado Júnior, Mota e Adriana vêem atualmente sinais de projetos e ações de uma nova sociedade civil, com certo poder de transformação. O frescor estaria por conta de partidos como o P-SOL, sobretudo no Rio, e de neófitos como Soninha Francine, em São Paulo. Adriana cita também o fenômeno Fernando Gabeira e algumas organizações não-governamentais. "Há uma nova sociedade civil, com gente como Oded Grajew, do Instituto Ethos, para ficarmos num só exemplo. Os eleitos começarão a ser mais cobrados, enfim."

A novidade desses movimentos é que eles não se encaixam nos moldes tradicionais dos partidos atuais, como o DEM, o PSDB e o PT. "Ao PSDB falta conteúdo ideológico, um projeto nacional denso. Talvez agora José Serra acorde e mobilize teóricos e ideólogos para tal construção, pois [Geraldo] Alckmin nem percebeu isso", comenta Mota. O PT, por outro lado, teria "envelhecido antes de atingir a idade madura".

O voto paulistano em Gilberto Kassab, por exemplo, não teria como pano de fundo apenas sua "competência administrativa", mas seria também uma rejeição ao que Mota qualifica de neopopulismo de esquerda, que emergiu num partido que "não poderia ser populista": o PT. "Os 'aloprados', os 'mensaleiros' e o preconceito homofóbico dos marqueteiros de Marta Suplicy fizeram o resto, um desastre", comenta o historiador.

Céticos, mas não pessimistas, ambos observam que há um processo de desideologização generalizada na sociedade: nos partidos, nos sindicatos, na imprensa e na universidade. "Isso é resultado da ausência de um grande partido socialista democrático polarizador, como o antigo PS de François Mitterrand [presidente da França de 1981 a 1995]. Nem o PSDB nem o PT lograram isso", diz Mota.

Nas mais de mil páginas de "História do Brasil - Uma Interpretação", entretanto, os autores fazem uma viagem de volta. Oferecem uma análise de mais de cinco séculos de Brasil, com elementos para entender as questões que permeiam a formação da sociedade brasileira e impactam nos fenômenos atuais. Trata-se de uma instigante e inovadora releitura, começando com a chegada dos primeiros habitantes à Terra Brasilis, 20 mil anos atrás, e terminando literalmente nos dias de hoje. "Privilegiamos a chamada história de longa duração", observa Mota.

Gustavo Lourenção / Valor
A vitória de Kassab (na foto com Serra), baseada "na competência administrativa", também teria dado um recado aos neopopulismos de esquerda, de um partido que não poderia ser populista, o PT

No livro, salpicam, aqui e ali, perfis de intelectuais e políticos oblíquos, que fizeram a diferença - ou melhor, teriam feito, se suas idéias não tivessem sido devidamente recalcadas pelo estamento burocrático e pela eterna conciliação das elites, que reina soberana nesse arco de vários séculos. Nomes como José Bonifácio, por exemplo, banido por recomendar a abolição da escravatura nos anos 20 do século XIX; ou o intelectual paulista Sérgio Milliet, "fundador da Universidade de São Paulo injustamente marginalizado". Ou Lúcio Costa, Afonso Arinos e Paulo Duarte. Mas também chamam Pedro II de "chapado medíocre", que fingiu governar um país livre, indo na contramão do recente resgate do imperador de longas barbas brancas, de repente qualificado como estadista e intelectual.

Negociando conceitos e dialogando constantemente com intelectuais do porte de Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes, Raymundo Faoro e Eric Hobsbawm, além de historiadores pouco lembrados, como José Maria Bello e mesmo José Murillo Carvalho, Mota e Adriana não recuam diante da atualidade, que qualificam de "presente nebuloso". Em geral, historiadores hesitam quando solicitados a se pronunciar a respeito da atualidade. "Falta distanciamento."

Valor: Ao observar as eleições como historiadores, que etapa consideram que vivemos? Houve uma desideologização das campanhas? O eleitorado votou em nomes ou escolheu seus candidatos por causa do marketing?

Carlos Guilherme Mota: O eleitorado sempre votou em nomes. Em algumas capitais, como São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, ele parece voltar-se mais para a questão da administração competente, naquilo que interfere no seu dia-a-dia, como transporte, saúde, habitação e educação. Mas a verdadeira resposta é: sim e não. O marketing teve menor papel que a própria atuação dos candidatos no horário eleitoral. Gilberto Kassab cresceu rápido, enquanto Geraldo Alckmin se revelou menor do que realmente é. Mas há uma desideologização geral, nos partidos, nos sindicatos, na imprensa, na universidade. Isso é resultado da ausência de um grande partido socialista democrático polarizador, como o antigo PS de François Mitterrand. Nem o PSDB nem o PT lograram isso. Na universidade e nos sindicatos, as coisas não vão melhor: sindicalistas corruptos e universitários acomodados, silentes, passivos. E a imprensa está bem perdida no meio do tiroteio.

Valor: Os resultados das eleições municipais demonstram que ainda vivemos naquilo que os senhores chamam de "democracia senzaleira"?

Mota: Os currais eleitorais se modernizaram em alguns Estados, como o do Rio, em que Eduardo Paes pôde contar com o apoio do governador Sérgio Cabral. Só faltaram os "capoeiras" de antanho para dar surras nos opositores. No entanto, Fernando Gabeira conseguiu mobilizar a aspiração de modernidade de uma parcela da população cansada de violência, corrupção, impunidade. Já em São Paulo, a vitória de Kassab, baseada na competência administrativa, também deu um recado aos neopopulismos de esquerda, de um partido que não poderia ser populista, o PT. Os "aloprados", os "mensaleiros" e o preconceito homofóbico dos marqueteiros de Marta fizeram o resto, um desastre. E tem Belo Horizonte, Salvador, São Luís, feudo dos Sarney, tudo sugere que o Brasil continua muito atrasado. Tem o Beto Richa em Curitiba, moderno, mas veja o Geddel Vieira em Salvador.

Valor: Dá para falar em democracia efetiva no Brasil? Alguns fatos parecem contradizer essa frase: o envio de tropas do Exército às favelas cariocas para garantir a presença dos candidatos e a limitação de saques nos bancos em Mato Grosso do Sul, determinado pelo Tribunal Regional Eleitoral. O objetivo do TRE era diminuir o volume da "compra de votos" nos dias que antecederam às eleições. O que acham?

Adriana López: Lembro o Caio Prado Júnior: o Brasil é um país muito atrasado. Esses exemplos sugerem que houve desmobilização fatal, letal mesmo, da sociedade civil nos últimos 50 anos. O resultado está aí, e outra vez com o Exército, agora tentando segurar as pontas. As lideranças militares mais conscientes, que tinham um projeto nacional e social, foram também cassadas. Fala-se pouco dos militares nas três armas que não foram torturadores ou complacentes e tinham um projeto nacional na mente. Eles foram desmobilizados. Agora são chamados a segurar essa barbárie que seus superiores deixaram prosperar.

Leo Pinheiro / Valor
Fernando Gabeira,durante campanha para a Prefeitura do Rio: ao lado de Soninha, do P-SOL, de Chico Alencar e de uma nova sociedade civil, ele retoma as utopias de 1968-71, diz Mota

Valor: Durante as eleições houve também a proibição de entrada na cabina de votação com celular na mão, pois os traficantes estariam exigindo que os eleitores tirassem fotos de seus votos para comprovar que obedeceram ao "chefe" e, portanto, continuassem com o direito à vida...

Adriana: Os celulares fazem parte da revolução tecnológica que vivemos pelo avesso neste país. Mas mais grave ainda é o coronelismo eletrônico, a concessão desbragada de canais de TV e rádio para grupos religiosos de mente rude, primitiva, por assim dizer "cristãos", por parte do poder central. A quem interessa esse estado de coisas?

Valor: Em que difere o que se tem caracterizado como "neopopulismo lulista" de outras versões anteriores, espalhadas pela história do Brasil?

Mota: No Brasil ainda existe uma parcela enorme de gente abaixo do nível da pobreza. Dar de comida a essa parcela de patrícios é uma obrigação do Estado. Dar dentaduras para comer também. O problema, como dizia d. Paulo Evaristo Arns, não é apenas dar aos pobres o peixe para comer, mas ensinar a pescar. Não cremos que isso esteja ocorrendo. O drama de nossa história é que, cada vez que temos um governo popular, ele regressa ao caldo cultural do populismo. O que é o lulismo, senão isso, atualizado? Inserir quem e onde, se a sociedade civil é tão débil, tão frágil, muito consumista e malformada? Sociedade civil no Brasil ainda é uma utopia. Veja o Rio. Veja os presídios, o assassínio da irmã Dorothy, entre tantos.

Valor: No momento em que o Tribunal Superior Eleitoral, os políticos e o presidente Lula elogiam a democracia brasileira e o sagrado direito do voto exercido pela população, já podemos falar em democracia representativa para valer aqui?

Mota: Não. Vivemos ainda dentro do modelo autocrático-burguês, como analisou o professor Florestan Fernandes. Ou seja, um modelo não democrático-burguês. É verdade que nossa tecnologia funciona melhor que a americana, sobretudo a de Miami. A fidelidade partidária inexiste, não há voto distrital, os partidos estão desidratados do ponto de vista social e ideológico, a representatividade é fraudada por meio das sobras eleitorais que servem para eleger quem não teve voto. E essa confusão dos poderes, com o Supremocracia, com as medidas provisórias, com o centrão sob controle do PMDB. Claro que há mentes lúcidas, como o ministro Carlos Ayres Brito, ou o ministro do STF Joaquim Barbosa. Mas a mentalidade média de nossas lideranças é medíocre, como vimos quando da votação da liberdade de pesquisa de células-tronco, por exemplo.

Valor: O que se pode esperar para o futuro?

Adriana: Há sinais, aqui e ali, de projetos e ações de uma nova sociedade civil, que não se encaixam nos moldes tradicionais dos partidos atuais, como o DEM, o PSDB e o PT. Ao PSDB falta conteúdo ideológico, um projeto nacional denso. Talvez agora José Serra acorde e mobilize teóricos e ideólogos para tal construção, pois Alckmin nem percebeu isso. Já o PT envelheceu antes de atingir a idade madura: um lumpemproletariado [na sociologia marxista, camada social carente de consciência política, constituída pelos operários que vivem na miséria extrema e por indivíduos direta ou indiretamente desvinculados da produção social] e uma lumpemburguesia sequiosos de cargos e empregos tornaram esse "avião" muito pesado para voar bem. Partidos novos como o P-SOL, sobretudo no Rio, e caras novas como a Soninha, em São Paulo, o fenômeno Gabeira e algumas poucas ONGs que não se conspurcaram, indicam novos horizontes, que poderão se delinear melhor com a crise que vem aí. Em suma, há uma nova sociedade civil, com gente como Oded Grajew, para ficarmos num só exemplo. Os eleitos começarão a ser mais cobrados, enfim.

Valor: A história do Brasil é, segundo o livro, a história da conciliação das classes e estamentos dominantes para manter o controle do poder. Acham que mesmo numa quadra afortunada, que elegeu um intelectual como FHC e um metalúrgico sindicalista como Lula, estes "novatos" que chegaram ao poder foram imediatamente cooptados, amaciados, neutralizados? Existe algo além da força do estamento burocrático?

Mota: Note que desde 1970 até os dias atuais a população brasileira praticamente dobrou. Como dar educação, saúde, habitação e sobretudo senso de civilidade para uma sociedade que se formou sob o capitalismo senzaleiro, à sombra da caserna, regulada por um Estado em que o coronelismo, o nepotismo, o pistolão e os "aspones" sempre dominaram? Uma revolução para valer, burguesa que seja, como a inglesa do século XVII ou a francesa do século XVIII, varreria do mapa essas figuras e clichês da ciência política e da história. A conciliação das elites data de 1850, quando o marquês de Paraná aprimorou o pacto das elites nacionais, para pôr fim às insurreições regionais que pipocavam pelo país. Somos filhos do marquês. É FHC com ACM, é Lula com Delfim e Severino. José Dirceu representa o enterro das utopias de 1968-71, que Gabeira, Soninha, o P-SOL, o Chico Alencar e uma nova sociedade civil retomam. Uma fruta que apodreceu antes de amadurecer. Um intelectual como Chico de Oliveira saiu antes disso tudo. E Florestan, vivo fosse, ainda estaria no PT?

Valor: Neste mundo globalizado, a política virou apenas uma questão de gerenciamento?

Adriana: Não podemos tomar como regra geral alguns episódios, como aqueles que envolveram Duda Mendonça e o governo Lula. Claro que o marketing político existe: FHC foi seu próprio grande marqueteiro. Veja o buraco em que está entrando a Itália do primeiro-ministro Silvio Berlusconi em contraste com a Espanha do presidente José Luiz Zapatero, mais bem administrada. Os EUA de hoje demonstram que não se trata apenas de "gerenciamento", como querem alguns executivos. A boa formação intelectual e política de Barack Obama, como a de Franklyn Roosevelt, de John Kennedy e de Bill Clinton, em contraste com a dos dois Bush, vai pesar muito na construção de um mundo menos bárbaro, mais civilizado, viável.

Valor: Ainda é possível pensar em termos de América Latina, como a geração de Fernando Henrique e Celso Furtado fez?

Mota: Claro que sim. Suas teses ainda estão no ar, com roupa nova. Mas devemos lembrar que aquela geração, muito bem formada no caldo cultural de cabeças como Anísio Teixeira, Hermes Lima, San Tiago Dantas e inúmeros outros, tinha uma proposta nítida de desenvolvimento com forte acento no campo social e educacional. E na política externa independente. Ou seja, a formação de quadros muito bem qualificados para aceleração do desenvolvimento econômico, mas também social e político-cultural. Hoje, o enfoque está quase só voltado para o mercado de capitais, a bolsa, regulação e desregulação, para os interesses financeiros, para a formação superficial de quadros. Precisamos voltar a formar quadros de alto nível intelectual em nossas universidades: em direito, economia, história, ciências sociais, educação para valer, e assim por diante. As humanidades andam raquíticas, tristes, desanimadas, doentes, com professores mal pagos, desatualizados. "Atualizar" era um verbo muito utilizado pelo educador Anísio Teixeira. Quem se lembra dele?

Valor: Os senhores dizem que a universidade está aplastada, anestesiada. Mas a cultura brasileira como um todo não parece viver também um período particularmente pálido e apático?

Adriana: Ocorre a banalização de tudo nestes últimos tempos, inclusive do papel propriamente intelectual da universidade. O aplastamento das inteligências, o nivelamento por baixo, como no resto do país. Que cultura brasileira? A ideologia da cultura brasileira? Ora, essa discussão já foi mais intensa e inteligente, com os Centros Populares de Cultura (CPC), os intelectuais como Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Ferreira Gullar, dramaturgos como Jorge Andrade, Vianinha, Gianfrancesco Guarnieri, Plínio Marcos, com o "Pasquim", "Opinião", os grupos Arena e Oficina, e assim por diante. Estamos numa nova Idade Média cultural pós-moderna de periferia.

Valor: O livro quer responder a duas perguntas básicas: quem fomos nós? Que somos nós?

Adriana: O Brasil constituiu-se como um desdobramento da expansão européia e da exploração dos habitantes nativos e de africanos cativos nos trópicos por parte de europeus. Ou seja, um povo que se formou ao longo de uma colonização de exploração. Não uma colonização de povoamento, com fins religiosos e valores comunitários, como na América do Norte. Um "negócio", em síntese, como definiu o historiador Caio Prado Júnior. Não quer dizer que não tivemos momentos político-culturais e figuras notáveis, como padre Antônio Vieira, Aleijadinho, José Bonifácio, Castro Alves, Lima Barreto, Mário de Andrade. É bom lembrar que a África também nos civilizou, como escreveu o historiador Alberto da Costa e Silva no prefácio ao nosso livro. Mas, desde as inconfidências, e antes mesmo, a contra-revolução preventiva sempre bloqueou as grandes tentativas de reforma e de inovação, como as de Mauá, Delmiro Gouveia, Celso Furtado e muitos outras, como as reformas de base de 1960 a 64, depois 1968, depois 1987. O Congresso Constituinte não foi uma Assembléia Constituinte, como analisamos.

Valor: Tentar compreender seu país deve ser o sonho de todo historiador. Que Brasil é este, o Brasil de Carlos Guilherme Mota e Adriana López?

Mota: É um país em que estamentos pretéritos dos "coronéis" oligárquicos ainda coexistem com novas classes futuras, segmentos emergentes de uma nova burguesia e de trabalhadores, que ainda não constituíram uma sociedade civil democrática, educada, bem formada, estabilizada, infensa aos neopopulismos de direita e de esquerda. Mas que vem se aprimorando nessa direção. Pois há traços de novas gerações de advogados, professores, funcionários, trabalhadores em vários setores, inclusive no campo, muito mais informados do que há meio século. Somos céticos, mas não pessimistas.

"História do Brasil - Uma Interpretação". - De Adriana López e Carlos Guilherme Mota

Editora Senac-SP, 1056 págs., R$ 150

URL: http://www.valoronline.com.br/ValorImpresso/MateriaImpresso.aspx?tit=Presente%20nebuloso&codmateria=5238820&dtmateria=31%2010%202008&codcategoria=92&p=-1&t=12px

Capitalismo às avessas

Não é o máximo quando o governo dá bilhões de reais às montadoras venderem suas SUVs bebedoras de gasolina para a classe alta poder continuar comprando seus veículos?

Cada vez que vejo a propaganda da Hyundai na tevê anunciando a ajuda do governo para comprar os modelos Tucson, Veracruz, Santa Fe etc., me convenço mais de que vivemos numa fase aguda de crony capitalism ("capitalismo de compadres"?).

O imposto que o seu João da Silva paga no feijão que compra com dificuldade está ajudando a Patrícia de Albuquerque Sampaio a comprar seu tão sonhado Santa Fe.

Mais um exemplo para reforçar meu argumento de que importa menos quem paga quanto de imposto (sou um defensor do "flat tax"), e muito mais como o governo redistribui essa receita em serviços para a população. Se ele gastar com os mais ricos, de pouco adianta os esforços de "justiça tributária" no lado da receita. Além de gerar imensas distorções e custos desnecessários de administração tributária, o papel redistributivo do governo não é cumprido -- fica-se na mesma.

Já que o governo está sendo um parceiro dos capitalistas, vamos fazer direito, então. Querem meu dinheiro? Estas são minhas condições:

1) Ele será dado na forma de cash-back na compra de veículos voltados para as classes mais baixas. Nada de "Robin Hood às avessas", nem de dinheiro na conta bancária das montadoras! Elas devem ter um incentivo para realizar a venda, e não apenas aliviar sua posição financeira por meio de subsídios públicos

2) A ênfase é no aumento da frota das cidades já saturadas de veículos, ou na renovação da frota, para diminuir a poluição e os transtornos causados por uma frota velha? Se é a última, então nós daremos o cash-back apenas na troca, não na venda nova. Essa estratégia pode ser diferente nas metrópoles e nas cidades menores, pelas razões recém mencionadas

3) Que tal uma cláusula ambiental? Cash-back apenas para a compra de veículos com motor híbrido (incluindo álcool e/ou gás natural). E que tal incentivar a compra de veículos do tipo plug-in, que funcionam com eletricidade? Faz ainda mais sentido no Brasil do que nos EUA, já que nossa matriz elétrica é uma das mais limpas. Nos EUA, o Toyota Prius já vende mais unidades do que o beberrão Ford Explorer

Mas nada disso é pensar ouside the box. Isso seria, em primeiro lugar, o que queremos resolver com a ajuda governamental. Queremos que as empresas continuem funcionando tradicionalmente? Se não tivesse havido a retração do mercado e o mesmo dinheiro público (R$ 4 bilhões do bolso dos paulistas) tivesse sido usado para financiar a ampliação do metrô ou --se os governantes tivessem um melhor senso de custo-benefício-- a melhora dos ônibus, as pessoas não iriam trocar o transporte individual pelo público? Assim, o setor automotivo não se retraria de qualquer maneira?

Sendo assim, ou o governo cria uma lei estabelecendo que cada real investido em transporte público deve ser compensando por igual montante distribuído às montadoras, ou entendamos que o futuro das metrópoles brasileiras não pode ser via meios individuais de transporte.

Poderíamos usar esse momento como "janela de oportunidade" para repensar a mobilidade urbana.

Mas não! Serra, enterrando de vez a esperança de que ainda houvesse na política brasileira algum grande estadista, à altura de Mario Covas e de Fernando Henrique Cardoso --o primeiro foi vencido pelo câncer, e o segundo já está fora das disputas eleitorais--, preferiu agradar as montadoras!

Enquanto no Brasil a política me deixa frustrado, nos EUA minhas esperanças se renovam: num caso clássico de "vida imita a arte", The West Wing vai sucessivamente se tornando realidade.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

This sums up what happened in the USA last night

Credit: Nina Vidutis
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A new generation, in every sense, might be on the rise in the USA. ObamaKids.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

He did it!

Congratulations, Barack! Congratulations, America!

http://markgorman.files.wordpress.com/2008/08/barack-obama-capitol.jpg

Now let the healing begin ...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Stop all the clocks

E já que estamos no assunto, este seria para se um dia eu perdesse o grande amor da minha vida.

Toda vez que assisto a "Quatro casamentos e um funeral", é a parte em que me desmonto em choro.

* * *
Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.

                  ~ W.H Auden, Stop all the Clocks.

I am not there

Vi o verso abaixo num comentário sobre a morte da avó de Barack Obama, a apenas um dia das eleições americanas.

É o tipo de verso que gostaria de poder recitar no dia da minha morte, aos que ficam.

* * *
Do not stand at my grave and weep,
I am not there, I do not sleep.
I am in a thousand winds that blow,
I am the softly falling snow.
I am the gentle showers of rain,
I am the fields of ripening grain.
I am in the morning hush,
I am in the graceful rush
Of beautiful birds in circling flight,
I am the starshine of the night.
I am in the flowers that bloom,
I am in a quiet room.
I am in the birds that sing,
I am in each lovely thing.
Do not stand at my grave and cry,
I am not there. I do not die.
                        ~ Mary Frye