terça-feira, 28 de outubro de 2008

Manifestação inconstitucional

O brilhante jurista Oscar Vilhena Vieira apontou com clareza a inconstitucionalidade da manifestação de ontem -- que fez bastante barulho na janela do meu escritório. O fato se torna mais grave em se tratando da polícia, responsável justamente pela garantia do cumprimento da lei.

Aliás, não foi apenas uma violação de cláusula pétrea constitucional, foram duas:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

Apóio a causa. Repudio a forma.

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São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2008

Policiais estão perdendo a razão, diz advogado

Oscar Vilhena Vieira, advogado e doutor em ciência política pela USP, critica uso de armas por policiais civis grevistas

A atitude põe em xeque credibilidade dos policiais e a capacidade de a categoria fazer reivindicações, diz; para ele, governo também errou

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os policiais têm razão em sua reivindicação, mas começam a perdê-la quando realizam protestos em que seus integrantes levam armas. A opinião é do advogado, mestre e doutor em ciência política pela USP Oscar Vilhena Vieira, que diz que isso é inconstitucional.
Vieira, que é diretor jurídico da ONG Conectas Direitos Humanos, avalia que a atitude põe em xeque a credibilidade dos policiais e a capacidade de reivindicação. Para ele, porém, o governo errou ao não ser capaz de negociar com a categoria.
Leia alguns trechos da entrevista de Vieira à Folha:

 

FOLHA - Como vê a greve e as reivindicações dos policiais civis?
OSCAR VILHENA VIEIRA
- As polícias no Brasil e a Polícia Civil em São Paulo, em particular, têm passado por um longo período de deterioração das condições de trabalho. Isso significa, por um lado, salário, mas por outro também capacitação, condições operacionais. Em face de tudo isso, que é coisa de mais de uma década já, as reivindicações são aparentemente pertinentes. A polícia de São Paulo tem um dos menores vencimentos da federação.

FOLHA - Qual a sua opinião sobre a posição do governo?
VIEIRA
- Parece que o governo errou de forma contundente na medida em que não foi capaz de negociar e levar em consideração uma reivindicação que não é despropositada. Entrou-se num braço de ferro; perde a população.

FOLHA - Qual a sua opinião sobre policiais levarem armas para a manifestação?
VIEIRA
- Algumas ações dos policiais parecem temerárias. Essa é inconstitucional. A Constituição diz com clareza que há liberdade de manifestação sem armas. Não há exceção para policial, ainda mais em greve. [...] Além disso, o governo, que anda sem razão, neste momento, ganha alguma razão. Os policiais perdem a razão quando usam essa ferramenta. [...] Põem em risco sua credibilidade e a capacidade de fazer movimentos reivindicatórios futuros.

FOLHA - E se alegarem que eram manifestantes isolados que usavam as armas?
VIEIRA
- A maturidade da corporação e das lideranças se mostra nessa hora. Isso não é aceitável.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2810200803.htm

Obama vs. McCain

Kids know best!

http://i38.tinypic.com/21edg5.png

by myself; originals here and here

sábado, 25 de outubro de 2008

Bom jornalismo criminal

Para quem não se lembrar dessa excelente (e agora premiada) reportagem, ela foi destaque aqui neste blog:


Parabéns, Raphael Gomide! Parabéns, Folha.

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São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

MÍDIA

Reportagem sobre a polícia dá à Folha prêmio da União Européia

DA SUCURSAL DO RIO

Com a reportagem "O Infiltrado - A PM por dentro", o jornalista Raphael Gomide, da Folha, foi um dos três vencedores do Prêmio Lorenzo Natali 2008, na região América Latina e Caribe.
O prêmio é concedido desde 1992 pela União Européia para trabalhos sobre direitos humanos, democracia e desenvolvimento. O nome é uma homenagem ao vice-presidente da Comissão Européia Lorenzo Natali, que morreu em 1990.
Neste ano, 1.501 jornalistas de 151 países participaram do concurso, que tem como parceiros a organização Repórteres sem Fronteiras e a Associação Mundial de Jornais e aceita trabalhos de imprensa, internet, rádio e televisão.
Publicada em 18 de maio no Mais!, a reportagem revelou o cotidiano da formação de soldados da Polícia Militar do Rio, Estado em que as forças de segurança mais matam e morrem no país. Para fazê-la, o repórter foi aprovado em concurso, com sete meses de duração, e foi recruta por 23 dias.
A cerimônia de entrega dos troféus será no dia 17 de novembro em Estrasburgo, na França, com a presença de três escolhidos em cinco regiões (Ásia e Pacífico; África; América Latina e Caribe; Europa; e Mundo Árabe e Oriente Médio). Apenas nesse dia será conhecido o ganhador do Grande Prêmio Lorenzo Natali, que pode ser de qualquer região.
É a segunda vez que a Folha recebe o prêmio Lorenzo Natali. Em 2003, o jornalista Mário Magalhães recebeu uma menção honrosa.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2510200838.htm

Wassup 2008

Recomendo, antes, relembrar o original...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Liberdade de religião

Imaginem um mundo no qual a gente pudesse falar abertamente sobre nossas crenças/convicções religiosas sem medo de perder eleição por causa disso...

Are we there yet? Nope.

Gabeira foi o mais corajoso até agora. Condenar homofobia e apoiar abertamente a comunidade GLBT, e chegar tão perto de assumir seu ateísmo, tudo isso a poucos dias do pleito, requer realmente coragem. Diante da apelação feita pela campanha da Marta, Kassab preferiu não se arriscar aqui em São Paulo, e continuar no armário -- e está no seu direito.

Gabeira++;

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São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

entrevista

"Apóio liberdade de religião", afirma Gabeira

DA SUCURSAL DO RIO

Em um debate da campanha de 1985 para prefeito de São Paulo, o jornalista Boris Casoy perguntou a FHC se ele acreditava em Deus. A resposta evasiva foi considerada decisiva para sua derrota para Jânio Quadros. Anteontem, o caso foi relembrado pela Folha a Fernando Gabeira. (MÁRIO MAGALHÃES)

 

FOLHA - Acredita em Deus?
FERNANDO GABEIRA
- Defendo liberdade de religião. Tenho em relação aos verdadeiros religiosos duas afinidades. A primeira é a compaixão como sentimento mais importante. A segunda é o relativo desapego a bens materiais.

FOLHA - Tem imóveis?
GABEIRA
- Não, nem carro. Só moto. Do ponto de vista de religião, eu trabalho muito com os budistas.

FOLHA - Considera-se budista?
GABEIRA
- Eu não, mas eles me consideram, eu creio.

FOLHA - E divindade, Deus?
GABEIRA
- Essa noção é ocidental. Se você tem compaixão, desapego a bens e está junto das pessoas, acreditar em Deus não fará diferença na relação de fraternidade.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2310200813.htm

Calvin & Hobbes

Calvin: Dad, how come old photographs are always black and white? Didn't they have color film back then?

Dad: Sure they did. In fact, those old photographs are in color. It's just the world was black and white then.

Calvin: Really?

Dad: Yep. The world didn't turn color until sometime in the 1930s, and it was pretty grainy color for a while, too.

Calvin: But then why are old PAINTINGS in color?! If the world was black and white, wouldn't artists have painted it that way?

Dad: Not necessarily. A lot of great artists were insane.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Beco com saída

Aquele beco é uma metáfora para ilustrar o encontro da viabilidade numa cidade com tantos riscos de inviabilidade

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São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2008


GILBERTO DIMENSTEIN

Beco com saída

MORADOR DA FAVELA de Heliópolis, criado pelos avós (sua mãe tinha 16 anos quando ele nasceu), sem contato com o pai, Jefferson Pereira da Silva imaginou que, se trabalhasse no estacionamento de uma faculdade, talvez tivesse a chance de conhecer alguém que o ajudasse a estudar psicologia. "Logo vi que ficaria estacionando carros o resto da minha vida."
Acabou achando uma saída para seu futuro, longe da psicologia: a saída estava no palco. Jefferson decidiu ser ator.
Na próxima semana, ele sobe ao palco para contar a história de um jovem que descobriu uma saída num beco. Terminado o espetáculo, Jefferson convidará os espectadores a caminharem até o beco que inspirou a peça.

 
O caminho de Jefferson até o teatro começa no violino. Ele começou a estudar violino na orquestra sinfônica criada pelo maestro Silvio Bacarelli, em Heliópolis. "Por várias vezes pensei em desistir, precisava trabalhar. Queria ganhar meu próprio dinheiro, sem depender dos meus avós." E aí foi trabalhar no estacionamento da faculdade, na aposta que, se tivesse sorte, viraria psicólogo. "Meu sonho era ser violinista e psicólogo." Mas, no íntimo, temia ter de sobreviver de bicos.
Conseguiu, então, uma remuneração mensal para tocar regularmente na orquestra sinfônica. Até que apareceu a oportunidade de participar de uma peça ("Acorda Brasil"), escrita pelo empresário Antonio Ermírio de Moraes, inspirada no trabalho do maestro Bacarelli. Só aceitou fazer o teste por insistência dos colegas. "Sou muito tímido."
Fez um papel de um marginal, era temido por todos, sempre andava com um revólver na cintura. Por causa de um professor de música, o personagem, no final, troca a arma por um violino.
As cenas de violência que integram seu cotidiano foram para o palco: "Muitas pessoas que eu conhecia morreram ou foram presas".
 
Pela sua atuação, Jefferson foi chamado para o elenco de "O Beco", escrito por Patrícia Secco, a partir da experiência da conversão de um beco na Vila Madalena em espaço de arte e convivência. Seu personagem é, agora, um pichador que se transforma em grafiteiro.
O espetáculo é gratuito e prevê que os espectadores façam uma visita de ônibus aos espaços que inspiraram a peça. Jefferson será um dos guias que os levará da ficção à realidade. "Meu prazer está no poder de encantamento da arte. Até um beco fica com saída."
Aquele beco é uma metáfora para ilustrar o encontro da viabilidade numa cidade com tantos riscos de inviabilidade -mais ou menos como a própria vida de Jefferson.
Mas a saída dele está apenas no começo: resolveu apostar na carreira de ator. Vai agora, aos 24 anos, passar por um dos seus testes mais difíceis: prestar, neste ano, o vestibular para estudar teatro na USP.

gdimen@uol.com.br

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2210200812.htm

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

É fantástico

Antes de mencionar o Cel. José Vicente, ainda não tinha informações sobre sua intervenção no programa Domingão do Faustão de ontem, no qual ele defendeu a ação da polícia. Não assisti ao programa (não quero quebrar meu "jejum" de Domingão, que já completa vários anos) mas, aparentemente, ele apontou alguns erros do GATE, porém teria defendido que tais erros não foram decisivos para a morte de Eloá. Se ele falou isso mesmo, errou.

Reportagem de 12 minutos do Fantástico contou com bons comentários de um brasileiro responsável pelo treinamento da SWAT texana. Ele lista os erros cometidos pelo GATE (além daqueles já apontados por Rodrigo Pimentel no artigo do meu post anterior, ele também compara com o modus operandi da SWAT, o que agrava ainda mais os erros cometidos na semana passada), e mostra que, sim, o GATE poderia ter evitado a tragédia, agindo dentro do "bom senso".

Cartas no Painel do Leitor da Folha de hoje mostram dois mal-entendimentos elementares:

O primeiro, de que criticar após o fato, no conforto de seu escritório com ar-condicionado, é muito fácil, o difícil é estar lá no "calor do momento". Se não houver constante treinamento do corpo policial (de elite ou não) e, antes ainda, entendimento teórico claro de quais os melhores cursos de ação para cada tipo de crise de segurança, estamos fadados a cometer erros primários. É no "conforto" de uma situação de calma e serenidade que o modus operandi da polícia deve ser desenhado. Deixar para fazer isso numa situação de crise é receita para o desastre. E, treinando até a exaustão, minimiza-se as chances de "esquecer" os procedimentos-padrão na hora do "calor do momento".

O segundo, de que caso eles tivessem optado pelo uso de um sniper para matar o seqüestrador, os "defensores de direitos humanos" estariam em cima da polícia e do governador neste momento, atacando-os por não esgotar as possibilidades de negociação. Tanto no caso do ônibus 174 quanto neste de Santo André, o que ouvi desses "defensores de direitos humanos" (alguém não é?) é de que a lei e os regulamentos disciplinares da corporação deveriam ter sido seguidos, ou seja, em caso de ameaça de morte ou perigo para o agente ou para terceiros, a polícia poderia (e deveria) usar força mortal. Alguém iria reclamar? Certamente que iria. Como estão reclamando agora! Mas, mais uma vez, a omissão dos responsáveis pela decisão do uso da força não pode ser creditada a uma eventual "gritaria" de terceiros. Dos males, o menor. Entre o risco claro e evidente da vida das duas meninas seqüestradas, que estavam sob a ameaça de revólver, e o risco potencial de ouvir gritos de ongueiros por conta da morte do seqüestrador, apenas São Paulo e Rio escolheriam correr o primeiro risco em vez do segundo. É quase inacreditável.

Crime de omissão

Mensagem
O artigo abaixo teve muito mais o dedo do Rodrigo Pimentel, ex-capitão do BOPE e uma das melhores cabeças que o corpo policial já produziu, que do José Padilha, a despeito de suas ótimas qualidades artísticas e sensibilidade para o problema, demonstradas nos excelentes "Ônibus 174" e "Tropa de Elite".

Tive o prazer de ouvir o Rogrigo Pimentel ao vivo há alguns anos, num congresso internacional sobre direitos humanos, comentando o caso do ônibus 174. Infelizmente, ele se desligou da corporação, não agüentando viver essas contradições da polícia e sua impotência de, quase sozinho, mudar essa realidade. Se eu me tornasse responsável por reformar as polícias em qualquer lugar do Brasil, Rodrigo e o Cel. José Vicente seriam provavelmente as duas primeiras pessoas que chamaria para me aconselharem.

Fica claro que ainda há muito para ser feito, e a recente queda de homicídios nesta década não pode, nem de longe, passar a idéia de uma "missão quase cumprida". Estamos apenas engatinhando no que se refere à reforma da segurança pública, e ainda há muito o que fazer.
 
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São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O fracasso da polícia é dos políticos

JOSÉ PADILHA e RODRIGO PIMENTEL

NÃO SÃO apenas as ocorrências mal administradas, cheias de erros primários e ilegalidades que demonstram a necessidade de uma reforma da segurança pública no Brasil. Os dados indicam essa necessidade faz tempo. E os nossos políticos, apesar de conhecerem os dados, têm se mostrado incapazes de realizar tal reforma. São eles, no final das contas, os principais responsáveis pela repetição cotidiana de tragédias como a ocorrida no evento do ônibus 174 e do seqüestro em Santo André.
Em conversa informal com agentes do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), descobrimos que eles estão desolados com o desfecho da ocorrência, que custou a vida de uma pessoa e feriu outra, e revoltados com os políticos, devido ao descaso que têm com a unidade, exposta ao ridículo com o fracasso da operação.
Afinal, se o Gate dispusesse do equipamento necessário para administrar uma ocorrência desse tipo, como uma microcâmera de fibra ótica, saberia que o seqüestrador tinha encostado um armário de TV e uma estante na porta de entrada do apartamento. Saberia que seqüestrador e reféns não estavam na sala, mas no quarto. Saberia que uma invasão pela porta da frente daria tempo para o seqüestrador atirar nas reféns. Mas o Gate não sabia de nada disso e perdeu preciosos segundos abrindo a porta.
Se o Gate dispusesse de escada com alcance para que um policial pudesse entrar no apartamento pela janela, poderia ter evitado a tragédia. Mas a escada do Gate, como atestam as filmagens, era curta demais.
Se os policiais do Gate fossem bem treinados, não teriam deixado que uma menina de 15 anos, libertada pelo seqüestrador, voltasse a ser prisioneira. Não teriam demonstrado tamanha incompetência e desconhecimento legal. Mas os policiais do Gate, como os do Bope e do resto do país, não recebem treinamento adequado.
Quando trabalhamos no documentário "Ônibus 174", sentimos a mesma revolta por parte dos policiais do Bope, que, em sua maioria, odeiam os políticos a quem servem.
André Batista, colaborador em "Tropa de Elite" e negociador do Bope na malfadada ocorrência, deu o seguinte depoimento para o documentário: "Naquele momento, a gente viu que faltava muita coisa. As coisas que a gente vivia pedindo, os equipamentos, os cursos, parece que, naquele momento, tudo desabou." Ouvimos, virtualmente, a mesma coisa do Gate.
Chegamos, assim, a uma conclusão absurda. Concluímos, parafraseando Nietzsche, que é preciso defender os nossos policiais dos nossos políticos! Afinal, quem são os nossos policiais? E o que o Estado, administrado pelos políticos eleitos, fornece a eles?
Tomemos como exemplo um policial carioca. É um sujeito mal remunerado, mal treinado, que trabalha em uma corporação corrompida por dentro. Isso é o que o Estado lhe dá. E o que pede em troca? Que mantenha a lei. Em outras palavras, que entre em conflito com os membros corrompidos da sua corporação e com os bandidos fortemente armados da cidade.
Ora, não é à toa que o capitão Nascimento, refletindo um sentimento comum entre os policiais do Bope, tenha dito que "quem quer ser policial no Rio de Janeiro têm que escolher. Ou se corrompe, ou se omite, ou vai pra guerra." Em São Paulo, não parece ser muito diferente.
Não esqueçamos, pois, o ano de 2003, quando o então secretário nacional de Segurança Pública, o sociólogo Luiz Eduardo Soares, estava prestes a conseguir a reforma que nossos policiais sérios tanto pedem.
Ele tinha participado da elaboração de um plano de segurança pública que previa um piso nacional decente para o salário dos policiais, a integração da formação e das plataformas de informação das polícias estaduais, o repasse de recursos federais para os Estados condicionado à reforma de gestão e ao controle externo e a desconstitucionalização da segurança pública, dando autonomia para que os Estados reformassem as polícias de acordo com as realidades locais.
Apresentou o plano ao governo federal com a assinatura de todos os governadores. E o que fez o governo? Desistiu. Nem sequer apresentou o plano ao Congresso. Não o reformulou, optou pela passividade. Segundo nos disse o sociólogo, por considerar que a reforma demoraria a dar resultado e que a opinião pública poderia responsabilizar o governo federal, e não os Estados, se eventuais tragédias ocorressem durante a implantação.
Evidentemente, não estamos culpando os atuais governos federal e estadual pelo desfecho do seqüestro em Santo André. Afinal, governos anteriores poderiam ter tentado reformar a segurança. O governo FHC, por exemplo, prometeu um plano nacional depois do ônibus 174.
Estamos culpando os verdadeiros responsáveis: os nossos políticos como um todo, que há muito tempo sabem que precisam reformar a segurança pública para salvar a vida de milhares de brasileiros e que há muito tempo fracassam ao não levar essa tarefa a cabo. Um fracasso ainda mais vergonhoso do que o dos policiais do Bope e do Gate.


JOSÉ PADILHA, cineasta, é diretor de "Ônibus 174", "Tropa de Elite" e "Garapa", entre outros filmes. RODRIGO PIMENTEL, sociólogo, é ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) do Rio de Janeiro, um dos roteiristas de "Tropa de Elite" e co-produtor de "Ônibus 174".
 

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

It's time to make Management a true profession

O assunto certamente é polêmico. Mas eu acho que os autores desse artigo da HBR têm bons argumentos em mãos:

It's Time to Make Management a True Profession

Longe de argumentos corporativista tipo CFA/CRA, no sentido de tornar a prática (ou o ensino) da Administração um monopólio para titulados na área (estou exagerando o argumento, claro, mas vai nesse sentido), o artigo reconhece que muitas empresas são bem geridas por pessoas que nunca tiveram treinamento formal na área (só para citar um exemplo, Bill Gates, que não tem treinamento formal em nada, aliás...). O artigo chega a perguntar: "Does Management Education Add Value?"

Parte de minha crise com o curso de Administração era exatamente essa: com exceção de algumas boas idéias inovadoras (e que exigiram profunda reflexão e pesquisa) aqui e acolá, não vejo na Administração muito mais do que "bom senso sistematizado". Eu não operaria o tumor de ninguém, nem construiria um prédio ou defenderia uma ação legal, mas não consigo ver impedimento de juristas, engenheiros e médicos administrando (bem) empresas (ex.: o médico Claudio Luiz Lottenberg, presidente do hospital Albert Einstein, ou o "jurista" Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Grupo Gerdau).

Os autores, cujas idéias estão resumidas na reportagem da The Economist abaixo, propõe não apenas que a Administração adote padrões mais rigorosos de conhecimento e competência para os formados na área (no limite, fornecendo o título mediante testes do tipo "exame da OAB"), como que os administradores adiram a um "código de ética" comum, um juramento como o que os médicos fazem (Juramento Hipocrático). Gostei das sugestões de conteúdo que um Juramento Whartoniano (inventei agora, estou aberto a sugestões) traria.

First, do no harm
Do bosses need their own Hippocratic Oath?
Oct 7th 2008 | From Economist.com
http://www.economist.com/daily/columns/businessview/displaystory.cfm?story_id=12371968

Everybody loves Obama

The Washington Post endossa hoje a candidatura de McCain.

Barack Obama for President
Friday, October 17, 2008; Page A24
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2008/10/16/AR2008101603436.html?nav=hcmodule

Teriam ganho mais credibilidade se o tivessem endossado antes. Fazendo-o agora, parecem apenas surfar na atual onda de popularidade de Obama, tratando-se de apoio de "conveniência".

Em nota correlata, o filho de um dos conservadores mais importantes intelectuais conservadores dos EUA (eu sei: contradição em termos), fez o mesmo na sexta-feira passada:

Sorry, Dad, I'm Voting for Obama
by Christopher Buckley, October 10, 2008
http://www.thedailybeast.com/blogs-and-stories/2008-10-10/the-conservative-case-for-obama/

Resumo da história: foi "saído" da National Review, uma das publicações mais influentes entre os conservadores americanos -- e fundada por seu pai, William F. Buckley.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Dados presos

Folha de hoje:

Desde 31 de maio de 2006, quando o ex-policial militar Antonio Ferreira Pinto assumiu a Administração Penitenciária, o governo não revela a população carcerária. Para isso, é preciso recorrer ao Depen.
Todas as informações sobre as unidades prisionais, como o número de vagas e a população de cada prisão, saíram do site da Administração Penitenciária por ordem de Ferreira Pinto. Por meio de sua assessoria, ele informa que a divulgação dos dados públicos é uma "questão de segurança"; por isso, se recusa a apresentá-los.

Como, além de São Paulo, também já morei no Texas --que é ainda mais neurótico por segurança--, resolvi dar uma olhadinha no que eles dispõem por lá:

1) Lema, constante no relatório anual de 2007 (relatórios disponíveis: 1999-2007): "Sucess through supervision" (sucesso por meio de supervisão)

1x0 Texas

2) Relatório estatístico anual 2007:

a) Total da população carcerária: por tipo (prisão, cadeia etc.), mês, idade, sexo, raça, tipo de ofensa, tamanho da sentença, condado onde foi preso
b) Novos detentos (que entraram em 2007): mesmas divisões que população total
b) Solturas por tipo (condicional, semi-liberdade, liberdade)

2x0 Texas

3) Informações sobre cada unidade prisional (exemplo: Austin, onde morei):
-- endereço (incluindo "como chegar") e telefone
-- nome do diretor da unidade
-- nome do diretor regional
-- data da entrada em operação
-- número total de empregados
-- número de empregados cuidando da segurança
-- número de empregados fora segurança
-- número de empregados do setor de educação
-- número de empregados do setor de saúde (médicos e psiquiatras)
-- sexo dos detentos (se prisão masculina ou feminina)
-- capacidade máxima (não tem o número de detentos no momento)
-- nível de periculosidade dos detentos
-- área aproximada
-- atividades de agricultura
-- atividades manufatureiras
-- capacidade médica (atendimento ambulatorial, dentário, mental etc.)
-- programas especiais
-- programas educacionais (alfabetização, intervenção cognitiva, computação, profissionalização etc.)
-- programas e serviços adicionais
-- serviços comunitários
-- iniciativas voluntárias

3x0 Texas

O governo federal americano (Bureau of Justice Statistics), então, tem informações a rodo, incluindo longas séries históricas.

É impressão minha, ou o Texas (os EUA, de maneira geral) divulga com a maior tranqüilidade informações que seriam impensáveis aqui em São Paulo?!

Do ponto de vista da "segurança", eu me sentiria muito mais seguro sabendo que o governo de fato tem essas informações (que isso não fugiu a seu controle), que elas são supervisionadas por agências do governo (incluindo de outras esferas), por organizações da sociedade civil e pela imprensa, e que esse dado esteja disponível para a população em geral, por questão de transparência.

Steal this post




Desde que saí da dependência da bolsa de estudos e passei a ter uma renda fixa mensal acima do meu nível de subsistência, também passei a comprar o que antes obtinha via free riding (copiar de graça o que os outros compravam por mim). Antes, eu, como todos os outros na mesma condição, tentávamos racionalizar nossos atos (tentando minimizar o sentimento de culpa), dizendo que não compra por princípio, porque os estúdios exploram os artistas, que os artistas recebem muito pouco por CD vendido (verdade, mas pouco é melhor do que zero), que os preços são um absurdo etc. -- e, dissonância cognitiva em ação, acreditávamos na nossa própria história, com plena convicção. Mesma coisa com software de computador, com jogos de console etc.

Muitos que apóiam o movimento software livre dizem que é pelo princípio, que o que menos importa é que é ou tende a ser gratuito, mas se colocarmos um Open Office e um Microsoft Office 2007 à venda pelo mesmo preço, acho difícil que a escolha ainda recaia no OO por princípio... Não quer dizer que não haja mérito nesse movimento (eu mesmo apóio), mas que, para muitos, preço é a questão mais sensível, sim!

Mas começo a me distanciar do assunto da tira do xkcd.

O fato é que, mesmo tirando aqueles estudantes que pirateiam e continuarão pirateando no matter what ("por princípio"), os atuais sistemas de proteção de direitos intelectuais (DRM) são uma verdadeira dor-de-cabeça para os legítimos compradores. Em casa tenho alguns DVDs comprados e outros que ganhei de presente, com capa xerocada (colorida) da original -- todos recebendo iluminação indireta. Depois de anos, as capas originais estão todas desbotadas, longe das cores originais, enquanto as xerocadas estão como nos dia em que as recebi. Mais: ao colocar um DVD original no meu player, tenho que ficar uns 30 segundos lendo na tela avisos sobre cópias ilegais, outras informações diversas e, no caso de alguns filmes, traillers obrigatórios que eu não consigo pular com meu controle remoto. A solução? Eu tirar uma cópia do meu próprio DVD original, para retirar esse conteúdo indesejado. Não sei como é isso no Brasil, mas nos EUA, por mais que juízes possam declarar fair use, em princípio está se violando o DMCA, pois para se fazer a cópia foi preciso quebrar a criptografia do DVD. Não importa se a cópia foi para consumo próprio. Outro problema: as músicas que eu baixei (legalmente, compradas) do iTunes, como bem mostra a tira acima, não consigo fazer tocar nos meus outros players que não sejam da Apple, pois não têm suporte ao formato (un)FairPlay (AAC-DRM).

Enfim: em nome do "jogo limpo", a indústria de filmes, música e entretenimento em geral está não apenas atiçando os contumazes piratas a desafiar as novas técnicas de proteção, como estão irritando muitos dos usuários legítimos. É um tiro no pé, mas eles parecem não perceber...

Eu parei de dar dinheiro para o mercado de pirataria há alguns anos, desde que percebi que o dinheiro que vai para aquela barraquinha da Santa Ifigênia vai parar nas mesmas mãos daqueles que estão envolvidos com tráfico de drogas, com corrupção de funcionários públicos (nas barreiras alfandegárias), e com o crime organizado de maneira geral. Enfim, eu ajudava a financiar a criminalidade que queria combater.

Ainda assim, há diversas outras formas de obter conteúdo intelectual que não envolva nem financiar o crime nem se sujeitar aos inconvenientes do DRM. Não é a situação ideal, mas é o que estamos sendo forçados a considerar.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Tudo igual no covil municipal


São Paulo, quarta-feira, 8 de outubro de 2008
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Editoriais  |  editoriais@uol.com.br

Inércia municipal

O CONTINUÍSMO, até exacerbado, caracterizou também a eleição para os vereadores paulistanos. Enquanto na média das capitais houve 51% de renovação nas Câmaras Municipais, o Legislativo da maior cidade do país contará com meros 16 vereadores novos num total de 55 -taxa de reciclagem historicamente baixa de 29%.
Em 2000, ao cabo do governo Celso Pitta e no rescaldo da investigação sobre a máfia dos fiscais, que levou à prisão de três vereadores e à condenação de outros dois, o indicador chegou a 51%. Na década de 1980, batia em 70%. Sem escândalos rumorosos como estímulo, houve notória recaída no voto paroquial, ou movido a celebridade.
São nove os vereadores eleitos com vínculos religiosos. Há quatro cantores, quatro sindicalistas e três ligados a esportes. Na outra ponta, que mereceria mais propriamente ser chamada de representação política, há seis líderes comunitários.
As microbancadas setoriais, porém, não rivalizam com o núcleo de gravidade da Câmara. O "centrão" -uma disparatada confraria de duas dezenas de vereadores de sete partidos (PR, PV, PTB, DEM, PP, PSB e PMDB)- controla as votações de projetos, em geral inócuos, e trocou de vez qualquer prurido programático pela fisiologia.
Essa configuração, que sobreviveu na eleição de domingo, tende a manter a Câmara atrelada à prefeitura, como uma espécie de guichê de trocas em que o Executivo oferece favores ao Legislativo para emplacar projetos de seu interesse. No restante do tempo, votam-se ali, em geral, matérias de escassa ou nula importância, como nomes de logradouros e dias disso e daquilo.
Resta a esperança de que a pressão da opinião pública leve a uma mudança de atitude na Câmara, que precisa ganhar autonomia e capacidade de fiscalizar os atos do prefeito.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0810200802.htm

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Stock injection, not cash for trash

O mais recente episódio da série sobre a atual crise financeira americana do ótimo This American Life chega à mesma conclusão a que Paul Krugman chegou há algumas semanas: a melhor saída é "stock injection", e não "cash for trash".

Quanto li o artigo do Krugman naquele dia (22 de setembro), achava que ele estava sendo apenas provocativo -- como de costume. Hoje percebi que ele estava falando muito sério, e dou total razão a ele!

* * *
http://graphics8.nytimes.com/images/misc/logoprinter.gif

Cash for Trash


[...]

I have a four-step view of the financial crisis:

1. The bursting of the housing bubble has led to a surge in defaults and foreclosures, which in turn has led to a plunge in the prices of mortgage-backed securities — assets whose value ultimately comes from mortgage payments.

2. These financial losses have left many financial institutions with too little capital — too few assets compared with their debt. This problem is especially severe because everyone took on so much debt during the bubble years.

3. Because financial institutions have too little capital relative to their debt, they haven't been able or willing to provide the credit the economy needs.

4. Financial institutions have been trying to pay down their debt by selling assets, including those mortgage-backed securities, but this drives asset prices down and makes their financial position even worse. This vicious circle is what some call the "paradox of deleveraging."

[...]

The logic of the crisis seems to call for an intervention, not at step 4, but at step 2: the financial system needs more capital. And if the government is going to provide capital to financial firms, it should get what people who provide capital are entitled to — a share in ownership, so that all the gains if the rescue plan works don't go to the people who made the mess in the first place.

[Ler mais...]

Imagens da crise (5)

BBC
Company logos

THE CASUALTIES: As the global financial crisis has worsened, the number of
firms to crumble or be bought out has increased.

URL: http://news.bbc.co.uk/2/hi/business/7644238.stm

Imagens da crise (4)

Ok, não é "imagem" per se, mas é um "retrato da crise em áudio".

Há um ótimo programa de rádio semanal nos EUA chamado This American Life. O programa é produzido pela Chicago Public Radio em parceria com a PRI (Public Radio International). Recentemente eles dedicaram três episódios à crise financeira americana, contando-a nos mínimos detalhes, e de maneira extremamente amigável (dois deles exclusivamente sobre isso, e em outro --"Enforcers"-- eles começam com uma divertida porém cruel história sobre os "Nigerian scams", aqueles golpes financeiros pela Internet).

Os episódios sobre a crise financeira são os seguintes:
Pode-se ouvi-los gratuitamente online, ou pagar 90¢ (cada) para baixá-los em .mp3. Duram cerca de uma hora cada.

Estes três episódios foram produzidos em parceria com a NPR (National Public Radio), a melhor rádio que já ouvi na vida. This American Life é um programa da maior qualidade: no mês passado eles ganharam dois Emmys: Outstanding Nonfiction Series e Outstanding Directing for Nonfiction Programming.

Imagens da crise (3)

AP Photo/M. Spencer Green
http://nimg.sulekha.com/Others/original700/2008-10-2-1-47-22-cfdb7029ddc34df6bf40db21e69a3211-cfdb7029ddc34df6bf40db21e69a3211-2.jpg

A statuette of Homer Simpson screaming sits on a work station in the S&P 500 futures trading pit Monday, Sept. 29, 2008, at the CME Group trading floor in Chicago. Fear swept across the financial markets Monday, sending the Dow Jones industrials down as much as 705 points, after the government's financial bailout package failed the House.

URL: http://newshopper.sulekha.com/photos/slideshow/453254.htm

Imagens da crise (2)

Imagens da crise (1)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Caution: Obama ahead

Registration Gains Favor Democrats
Voter Rolls Swelling in Key States; Obama ahead 5.9% (average) and leading in Ohio, Virginia, North Carolina
By Alec MacGillis and Alice Crites  |  Washington Post Staff Writers  |  Monday, October 6, 2008; A01
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2008/10/05/AR2008100502524.html

A notícia é animadora mas...
 
Os novos registros são realmente maciçamente pró-Obama, e acho que quem se registra este ano é porque realmente quer votar. O problema é que, numa eleição em que no máximo 60% da população comparece às urnas, quem vai decidir a eleição são os 40% que custumeiramente ficam em casa (ou trabalham, já que lá as eleições acontecem em dias úteis). No caso de uma avalanche pró-Obama nas pesquisas, aqueles mais conservadores, racistas ou fundamentalistas (que temem um "presidente não-americano e muçulmano") podem ficar motivados a votar este ano, e se tornarem o fiel da balança.
 
Outro desafio é o da precisão das pesquisas eleitorais. Ótima edição da New York Magazine sobre a questão racial na campanha, de começo de agosto, fala da dificuldade de capturar o fator "raça" na escolha dos eleitores. Uma técnica interessante é a da pergunta indireta, como eles bem explicam:

The question is just how accurate any of these numbers are. Polling on African-American candidates has often been unreliable in the past, overstating support for them, coughing up large blocs of alleged undecideds who actually have no intention of voting for a black contender but are too embarrassed to say so. "I know a lot of Republicans who are aware of surveys in this race that ask the ballot question 'Who are you voting for?' and then ask the 'Who are your neighbors voting for?' question," says a GOP operative, referring to a common pollsters' tactic of seeing through obfuscation revolving around race. "And between the first and second question, you see a five-to-ten-point shift in the answers. There's a great big lump under the rug." (The Color-Coded Campaign)

Eles estão preocupados com o chamado "Bradley effect", em homenagem ao ex-prefeito negro de Los Angeles, Tom Bradley. Em 1982, ele perdeu a disputa do governo da Califórnia apesar de estar à frente nas pesquisas. Essa é uma distorção comum nas pesquisas nos EUA quando há candidato negro concorrendo com um branco.
 
Outra questão que costuma ser subdimensionada é o registration purging, ou seja, os eleitores cujos registros são apagados do sistema (por motivos vários). Na eleição de 2004, em Ohio um número suficientemente grande de registros pró-Kerry foi apagado a ponto de garantir a reeleição a Bush. Artigo extenso da Rolling Stone, escrito por Robert F. Kennedy Jr., dá indícios bastante forte de que isso tenha sido deliberado, e em vários estados. Nas eleições de 2000, Michael Moore apresentou, no livro Dude, Where's My Country?, dados contundentes de que a mesma coisa teria acontecido na Flórida -- que foi o estado fiel da balança naquelas eleições. Sim, eu sei, é o Michael Moore. Mas ele colocou o link para todas as matérias e dados a que ele se refere. Li o livro e achei que ele "has a point".
 
A NYMag arrisca dizer que, caso Obama não esteja pelo menos 10 pontos à frente de McCain na semana do pleito, suas chances reais não são nada boas. Obama ainda está mais longe da Casa Branca do que se supõe.

Pior: vencer as eleições é apenas a primeira etapa. Conseguir sobreviver aos quatro (ou oito) anos de mandato é a segunda, e talvez a mais difícil. Num país com uma quantidade inacreditável de desajustados com fácil acesso a armas de fogo, e que já assassinou quatro de seus presidentes (Abraham Lincoln, James Garfield, William McKinley e John F. Kennedy), muita gente acha que a vida de um Presidente Obama (soa bonito, não?!) correria perigo constante.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Voto consciente

Se ainda não definiram seu candidato para vereador, dois recursos para pesquisa:

1) Lista do TRE-SP (para pegar o número, tão somente)

http://www.tre-sp.gov.br/noticias/textos2008/listaoficial.pdf

2) Movimento Voto Consciente - Avaliação do Trabalho dos Vereadores

Na 14ª Legislatura: http://www.votoconsciente.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=292&Itemid=61

Na 13ª Legislatura: http://www.votoconsciente.org.br/index.php?option=com_remository&Itemid=78&func=fileinfo&id=24

Lembrando que esse ranking também tem suas limitações. Tem uma análise qualitativa muito mais difícil de se fazer, que "presença em comissões", "presença em votações em plenária" etc. simplesmente não consegue capturar. Mas é um grande avanço, sem dúvida.

* * *

Adicionei o da 13ª legislatura pois lá também tem bons nomes que, ainda assim, não foram reeleitos. É o caso do Nabil Bonduki, que foi considerado o 2º melhor vereador na 13ª legislatura pelo Movimento Voto Consciente. Por que não foi reeleito, então? Talvez justamente por causa disso. Como pensa a cidade como um todo, em vez de se concentrar num "curral eleitoral",* ele contava com as votações espalhadas pela cidade. Isso não é páreo para a "velha política". Sorte minha, o Nabil resolveu tentar mais uma vez.

Não vou colocar seu número, pois meu intuito --sinceramente-- não é fazer propaganda de um candidato específico, mas colocar alguns critérios para suas considerações -- entre elas, o de que nem sempre o bom trabalho chega à superfície (fosse assim, a cidade e o País estariam muito melhores). O mais importante, friso, é votar consciente. E saber que o trabalho não termina na urna, apenas começa.

Depois do pleito, temos que aprender a cobrar dos nossos representantes. Minha experiência no assunto é de que eles são muito mais responsivos às minhas reclamações do que eu pensava que fossem. Talvez porque tão poucos cobram, eles tomam aqueles como representantes da vontade de todo seu eleitorado, sei lá.

* Update: jP conta que um amigo fez um estudo dos vereadores eleitos em São Paulo e concluiu que apenas uma parte deles - e não muito grande - tem forte dependência a uma única região, e que a grande maioria se elege com votos bastante espalhados pela cidade. Se for isso mesmo, estou surpreso. Tradicionalmente a indicação para subprefeito (antes, coordenador de Administração Regional) seguia exatamente essa lógica de "currais eleitorais" dos vereadores, de maneira que o prefeito conseguia manter maiorias estáveis na Câmara. Cada vereador "adotava" uma subprefeitura/regional. Parece que isso tem mudado mais recentemente, mas não creio que os 54 vereadores eleitos tenham tido recursos suficientes para fazer campanha em toda a cidade. Acho mais provável que os partidos tenham elegido dois ou três "puxadores de votos", e os restantes tenham sido eleitos com as "sobras eleitorais" (os votos acima do quociente eleitoral dos vereadores mais votados).

XDR-TB: Spread the story. Stop the disease.



http://www.xdrtb.org/

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

The Shawshank Redemption

Que vergonha... Está na hora de uma nova CPI do sistema prisional. Ainda tem muito esqueleto enterrado aí!

O diretor de uma das prisões afirma que um engenheiro da CPOS, chamado "Valverde", apontou e anotou em documento próprio as "distorções que encontrava". Resultado: foi transferido para outra obra.
A CPOS fez vistas grossas e até tentou esconder as irregularidades, segundo a Administração Penitenciária, que já havia fotografado partes subterrâneas da obra para desmentir a versão da estatal.

A área de obras parece ser o gerador de "caixa 2" de muitos governos, sejam eles psdbistas, petistas, malufistas ou de qualquer outro partido. Um governante sério teria que colocar sua pessoa de maior confiança lá.

* * *
São Paulo, quinta-feira, 2 de outubro de 2008

SP tem prisão de concreto "oco" e muro frágil

Presídios foram feitos na gestão Alckmin em desacordo com projeto; concreto é facilmente escavável, diz relatório do governo


Prisões foram feitas pela DM Construtora por R$ 25,5 mi; obras foram vistoriadas pela estatal CPOS (Companhia Paulista de Obras e Serviços)

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em dezembro de 2006, 21 presos fugiram de uma das penitenciárias de segurança máxima de Lavínia, que abrigava integrantes do segundo escalão da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Não houve, porém, nada de espetacular na fuga. Os presos cavaram um túnel e escaparam. Uma vistoria na obra apontou as razões da fuga fácil.
A muralha não tinha os dois metros de profundidade previstos no projeto. As placas de aço projetadas para vedar as celas também não existiam.
De segurança máxima, a penitenciária só tinha o nome, segundo relatório da Secretaria de Administração Penitenciária ao qual a Folha teve acesso.
A supressão da muralha subterrânea e de placas de aço de 8 mm do chão das celas ocorreu em duas penitenciárias ditas de segurança máxima da cidade, a 600 km de São Paulo. As duas comportam 1.536 detentos.
Não são as únicas irregularidades nas obras. O chão das celas ainda deveria ser protegido por uma camada de 30 cm de pedras do tipo rachão, maiores do que as de brita, para evitar túneis. A medida de segurança foi suprimida na obra.
O teto das celas é de concreto "alveolar", que é oco. Facilmente escavável, a laje revelou-se um ótimo esconderijo para celulares e drogas, conforme dizem os próprios diretores da prisão. O concreto alveolar também foi usado na muralha, segundo a secretaria.
Esse tipo de laje, inadequado para prisões, foi usada em seis presídios de segurança máxima do Estado, "gerando perplexidade" na equipe do Departamento de Engenharia da secretaria, conforme o relatório. Além dos de Lavínia, essa tecnologia foi empregada em Guareí e Balbinos -cada cidade abriga duas prisões desse tipo.
O que chama atenção no relatório oficial é que não houve aditivo ao contrato que permitisse suprimir a muralha. E foi permitido não instalar as placas de aço e trocar o tipo de concreto sem que o valor fosse caísse. Ao contrário, subiu 5%.
Por causa das falhas, o governo de José Serra (PSDB) cogitou até fechar os dois presídios. Preferiu, porém, desativar parte dos dois presídios e transferiu os presos mais perigosos.
Os presídios de Lavínia foram inaugurados em janeiro de 2006, no governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Ele cita a expansão do sistema prisional como uma das grandes realizações de seu governo. Alckmin não quis se pronunciar.
As duas prisões foram feitas pela DM Construtora, do Paraná, por R$ 25,5 milhões. As obras foram vistoriadas pela estatal CPOS (Companhia Paulista de Obras e Serviços).
O diretor de uma das prisões afirma que um engenheiro da CPOS, chamado "Valverde", apontou e anotou em documento próprio as "distorções que encontrava". Resultado: foi transferido para outra obra.
A CPOS fez vistas grossas e até tentou esconder as irregularidades, segundo a Administração Penitenciária, que já havia fotografado partes subterrâneas da obra para desmentir a versão da estatal.
As irregularidades são tantas que o secretário de Administração Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto, levou o caso ao TCE (Tribunal de Contas do Estado) e ao Ministério Público.
Nos documentos, Ferreira Pinto diz: "Lamentavelmente, os presídios são vulneráveis, e só se evidenciou a manipulação de alguns itens essenciais à segurança após visita realizada em agosto de 2007", quando ele vistoriou as obras.
O relatório, sem citar valores, não economiza expressões como "graves conseqüências ao erário e à segurança" e "inúmeras irregularidades".
As falhas, porém, eram apontadas desde 2005. Em dezembro daquele ano, quando as obras foram finalizadas, o diretor do presídio, Eduardo Martins, diz ter constatado que havia "falhas estruturais".
Martins diz que informou as falhas ao secretário da Administração Penitenciária à época, Nagashi Furukawa.

URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0210200801.htm

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Lula of Brazil

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Para biógrafo inglês, Lula avançou economia, mas fracassa na educação
 
 
 
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz gesto após votar em 2006 (arquivo)
Presidente conta com índice de 83% de aprovação popular
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, "um dos presidentes mais significativos" da história do Brasil no século 20, caminha também para ser "um fracasso na educação", na opinião do pesquisador britânico Richard Bourne, autor de um livro sobre Lula.

Lula of Brazil (Zed Books, Londres e Nova York), biografia política do ex-metalúrgico eleito e reeleito presidente, compila para o leitor do inglês os avanços e dificuldades do atual governo. O lançamento da obra, nesta terça-feira em Londres, vem a tempo de jogar uma luz sobre as razões que levam a popularidade de Lula a níveis recordes de 80%.

"Lula domina completamente a cena política no país. Ricos e pobres acham que Lula é uma pessoa que cuida do país", avalia Bourne, ex-jornalista do The Guardian, hoje pesquisador sênior do Institute of Commonwealth Studies, em Londres.

Bourne não esconde a simpatia que sempre nutriu por Lula desde que o ex-metalúrgico se destacou no sindicalismo nos anos 1980 – ou, a rigor, não esconde a simpatia pelo Brasil. Diz que "deixou seu coração" no país quando desembarcou pela primeira vez no Rio, em 1965. É autor de um livro sobre Getúlio Vargas e outros sobre líderes latino-americanos.

Nesta entrevista à BBC Brasil, o pesquisador faz uma avaliação dos altos e baixos do governo. Sublinha avanços no combate à pobreza e na política externa. Mas não deixa de criticar com severidade o que chama de "fracassos" no impulso à educação e em relação à esperança de fundar no Brasil "um tipo mais ético de política".

[Leia a entrevista completa]